A Ford apresentou a terceira geração do Kuga, finalmente bem adaptado ao mercado nacional. Já o vi de perto e fiquei a saber por que é um “primo” muito chegado do Focus.

Desde 2008, quando foi lançada a primeira geração, que o Kuga vendeu mais de um milhão de unidades na Europa, poucas delas em Portugal. Por um motivo ou por outro, as duas primeiras gerações não se adaptavam ao mercado nacional e as vendas foram discretas, para ser simpático.

A terceira geração não podia tardar e foi hoje apresentada em Amesterdão durante o evento anual “Go Further”, onde a Ford costuma fazer o balanço das suas atividades e apontar caminhos para o futuro. Desta vez, os temas fortes foram os SUV e a eletrificação da gama, com a apresentação de vários modelos novos, dos comerciais aos grandes SUV, como o novo Explorer, que vai passar a ser o modelo no topo da oferta da marca.

O novo Kuga

Mas o mais importante foi mesmo a apresentação estática da terceira geração do Kuga, feita com base na plataforma C2, a mesma usada pelo novo Focus, portanto com uma grande partilha de componentes entre os dois modelos.
E isso fica bem claro quando se olha para o desenho do Kuga, fortemente inspirado no Focus, com o mesmo tipo de arranjo da grelha e faróis. Na verdade, quase parece um Focus mais alto e com um habitáculo mais volumoso, quando visto de frente. Na traseira as diferenças são maiores, pois o habitáculo é bem mais alto e largo.
De perfil, percebe-se o que a Ford quer dizer com “proporções premium” pois a frente está bem destacada do habitáculo, com as bases dos pilares dianteiros recuadas.

Maior que o antigo

A Ford estabelece as habituais comparações entre esta geração e o anterior Kuga, concluindo-se que o novo modelo é mais largo, mais comprido, tem maior distância entre-eixos e tem menos 20 mm de altura, que o antigo. O novo arranjo dos bancos no interior permitiu ganhar espaço em todas as direções, incluindo na altura, mas o mais significativo é que os 20 mm a mais na distância entre-eixos permitiram ganhar igual comprimento para os joelhos nos lugares traseiros.

O banco traseiro é aquecido e pode deslizar longitudinalmente nas suas duas partes assimétricas

No habitáculo, as diferenças para o antigo Kuga são tantas, quantas as semelhanças com o Focus. Mas tem a originalidade do banco traseiro (aquecido) deslizar longitudinalmente nas suas duas partes assimétricas, permitindo jogar com o espaço para passageiros ou capacidade da mala, cujo valor não foi divulgado. O que foi mostrado, foi uma nova chapeleira, que está suspensa da tampa da mala, quando se abre, e que não promete grande durabilidade. A Ford diz que assim é mais fácil de arrumar sob o piso da mala, que tem um tapete reversível veludo/borracha.

Bancos mais altos

Os lugares da frente ficam 80 mm mais altos em relação ao solo do que no Focus, com claramente mais espaço em altura e uma visibilidade para diante mais “à SUV”. O tipo de materiais usados pareceu seguir o mesmo nível do Focus, o que significa que existem muitos materiais macios. O desenho do tablier é ligeiramente mais vertical, mas a organização é a mesma do Focus, com o monitor central tátil de 8” bem posicionado e deixando os comandos do A/C de fora. A novidade, que deverá passar a estar disponível no Focus, é o painel de instrumentos digital configurável de 12,3”, um opcional que simplifica muito a leitura do computador de bordo. O volante é o mesmo, mantendo os botões pouco intuitivos.

Mais modos de condução

A maioria dos Kuga vão ser de tração apenas às rodas da frente, como o Focus, mas com dois modos de condução extra: o Escorregadio, já presente nas versões Active e o Neve/Areia. A sua função é alterar o funcionamento do controlo de tração, de estabilidade e do ABS.
A plataforma C2 permitiu baixar o peso do Kuga até 90 kg, face ao modelo anterior e aumentar a rigidez torcional em 10%.

Ao contrário do Focus, todas as versões do Kuga estão equipadas com a suspensão traseira multibraço, mas também é verdade que o motor 1.0 Ecoboost não vai estar disponível no Kuga. Na gama vão existir as versões Vignale, mais luxuosa e a ST-Line, com suspensão desportiva 10 mm mais baixa. A habitual contradição: um SUV… rebaixado.

Três híbridos à escolha

As motorizações convencionais vão ser o 1.5 Ecoboost a gasolina em variantes de 120 e 150 cv; e o 1.5 Ecoblue a gasóleo, com 120 cv, além do 2.0 Ecoblue de 190 cv, o único que vai receber uma versão de tração às quatro rodas. Está disponível, em opção, a mesma caixa automática de oito relações, comandada pelo mesmo botão rotativo do Focus.

A grande novidade neste domínio são as versões eletrificadas, nada menos do que três, começando num “mild-hybrid” que usa o motor 2.0 Ecoblue a gasóleo na configuração de 150 cv, associado a um alternador/gerador acionado por correia, numa estrutura elétrica de 48 volt e com uma bateria de iões de Lítio. O primeiro beneficiado deste sistema é o Start & Stop, que passa a funcionar durante mais tempo, mas o motor também é ajudado pela parte elétrica, tanto nos baixos regimes, como nas retomadas de aceleração.

Num segundo nível de eletrificação aparece o Hybrid, um híbrido convencional que usa um motor 2.5 de quatro cilindros a gasolina (funciona segundo o ciclo Atkinson) acrescentando um gerador, um motor elétrico , uma bateria de iões de Lítio e uma caixa automática. A bateria é carregada pela regeneração na travagem e nas desacelerações e depois usada pelo motor elétrico para ajudar o motor a gasolina a trabalhar menos e numa faixa otimizada, anunciando consumos de 5,6 l/100 km.

Finalmente, o Plug-In Hybrid recarregável usa o mesmo sistema do Hybrid, mas com uma bateria de 14,4 kWh, o que lhe dá uma autonomia em modo elétrico superior a 50 km e um tempo de recarga numa tomada doméstica de quatro horas.

Esta versão tem quatro modos de utilização: EV Auto (híbrido), EV Now (elétrico), EV Later (guarda a bateria para usar mais tarde) e aquilo a que chamo o “modo batota”, o EV Charge (o motor a gasolina carrega a bateria em andamento). A potência máxima combinada é de 225 cv, anunciando um consumo de 1,2 l/100 km, na norma WLTP e emissões de CO2 de 29 g/km.

Como seria de esperar, o Kuga adopta todos os equipamentos de conetividade e as ajudas à condução estreadas no Focus e que o colocam como um dos mais completos do mercado.

O novo Kuga é o primeiro SUV feito com base na plataforma C2, diz a Ford, o que sugere o aparecimento de outros. É também o primeiro modelo da marca a estar disponível com três opções de eletrificação, se bem que não exista uma versão 100% elétrica. Será com esta estratégia que a marca americana pretende mudar o seu posicionamento na Europa, num plano que prevê o lançamento de 16 veículos eletrificados, dos quais oito vão estar no mercado ainda este ano. No calendário estão os “mild-hybrid” Fiesta Ecoboost Hybrid e Focus Ecoboost Hybrid, bem como vário comerciais, de entre os quais se destaca uma Transit elétrica.

Conclusão

Depois de ter anunciado que o iria fazer, a Ford começa a mostrar o seu trabalho na eletrificação da gama, numa primeira fase apostando fortemente nos vários tipos de híbridos. Este será, com toda a certeza, o caminho a percorrer por todos os construtores nos próximos anos, pois é a única maneira de tornar a eletrificação acessível a uma grande parte dos compradores, num curto espaço de tempo.

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