O primeiro Juke foi um sucesso tão grande que acabou por criar um novo segmento. Mas agora tem cada vez mais concorrentes. Como se vai dar a segunda geração nesta “selva”?

 

Nesta fase de recolhimento domiciliário, decidi pôr em dia os mais recentes testes que tinha “em carteira” para serem publicados no Targa 67. Agora é a altura ideal!

Se, como eu, já lhe está a faltar dar aquela voltinha de carro para desanuviar, continue a ler e entre numa volta virtual, acompanhando por dentro o teste ao novo Nissan Juke 1.0 DIG-T.

Quando apareceu no mercado, ninguém percebia exatamente o que era o Nissan Juke. Entre a ideia de um crossover, ou SUV do segmento B e uma estética altamente provocadora, os olhares ficavam um pouco confusos.

Mas a confusão passou depressa, quando os condutores o começaram a experimentar e a perceber a nova fórmula: um crossover SUV com posição de condução um pouco mais alta, com com um estilo original a apelar aos coupés e uma dinâmica quase desportiva.

Um sucesso

A fórmula convenceu e o Juke foi um estrondoso sucesso de vendas, obrigando os outros construtores a olhar para um novo nicho de mercado, a que hoje se chama B-SUV. Neste momento, é “apenas” o segmento que cresce mais depressa na Europa.

A lista de B-SUV é imensa e a taxa de renovação, altíssima. Algumas marcas não hesitam em colocar no mercado dois modelos diferentes neste segmento, para otimizar os proveitos.

É sobre este cenário que surge a segunda geração do Juke, que passou a partilhar a plataforma CMF-B com o Renault Captur.

O motor a gasolina 1.0 DIG-T de 117 cv também é o mesmo 999 cc de três cilindros com turbocompressor que foi estreado no novo Clio, entregando 180 Nm.

As características comuns entre os dois modelos são muitas, com a mesma distância entre-eixos de 2636 mm e a mesma geometria de suspensão, com MacPherson, à frente e eixo de torção atrás.

Apenas está disponível tração à frente e há duas caixas de velocidades, uma manual de seis e uma de dupla embraiagem de sete, que estava na unidade que testei.

Contudo, os técnicos da Nissan afirmam que as afinações da suspensão, e até algumas peças, são específicas do Juke. Mas já lá vamos à dinâmica.

O que mudou?

As evoluções face à primeira geração são evidentes. A nova plataforma tem um aumento de rigidez torcional de 13% e o peso, para motorizações comparáveis, é 23 kg mais baixo.

A CMF-B permite ainda aproveitar melhor o espaço no habitáculo. Basta entrar para os lugares da fila de trás para perceber que há mais centímetros em altura, largura e comprimento.

A Nissan diz que são mais 5,8 cm, para os joelhos e mais 1,1 cm, em altura. A capacidade da mala subiu 20%, anunciando agora 422 litros.

Nada disto surpreende, quando se olha para as diferenças nas dimensões exteriores: o comprimento subiu 75 mm, mas, mais importante que isso, a distância entre-eixos é 105 mm maior, face ao anterior Juke.

As dimensões são 4210 mm de comprimento, 1595 mm de altura e 1800 mm, de largura, números que fazem o Juke crescer consideravelmente.

Estilo evolutivo

O estilo mantém os flancos esculpidos do modelo anterior, com puxadores das portas traseiras “escondidos” na zona vidrada escura. O perfil coupé mantém-se, com o tejadilho “flutuante” a ser mais baixo atrás.

A frente mantém os carismáticos faróis circulares, abaixo das luzes de dia, que agora são em LED e têm um desenho bem mais esguio. Perdeu-se a “cara de inseto”, mas ganhou-se em elegância. A grelha em “V” faz a ligação à família.

Na traseira, os farolins têm um formato mais vulgar, mas as proporções são de um carro mais baixo e largo, o que fica sublinhado com as jantes de 19”.

Mais qualidade

A qualidade de construção é claramente superior no habitáculo, incluindo aplicações de Alcantara nesta versão Premiere Edition.

O monitor central tátil de 8” também é uma evolução face ao anterior e o sistema de som Bose, com oito colunas, tem duas integradas no encosto de cabeça dos bancos da frente.

Os bancos têm encostos de cabeça integrados e maior apoio lateral; a coluna de direção passou a ter amplas regulações em altura e alcance, resolvendo um dos problemas da anterior geração.

Por isso, a posição de condução melhorou muito, com o volante bem posicionado e boa visibilidade para a frente. Para trás é pior, tem que se confiar na câmara de marcha-atrás.

Mais espaço

O espaço a bordo é francamente maior, tanto à frente como atrás e o acesso aos lugares traseiros é mais fácil. O Juke deixou de ter uma segunda fila de bancos acanhada.

O painel de instrumentos ainda não é totalmente digital, mas a sua leitura é fácil. Pena haver botões “perdidos” à frente do joelho esquerdo, ocultos pelo volante.

Quanto a tecnologia, há uma App para controlar algumas funções à distância: confirmar se as portas estão fechadas, ver a pressão dos pneus, o nível do óleo, se as luzes ficaram ligadas e até permite enviar destinos para o GPS do carro.

Esta aplicação permite controlar a velocidade, tempo de utilização e área de circulação, quando se empresta o carro a terceiros, por exemplo aos filhos. Excelente para pais-galinha!

Quanto a ajudas à condução, o Juke passa a ter o ProPilot, a designação da Nissan para o seu cruise control ativo, que atua na direção, acelerador e travões.

Basicamente, ajuda a manter o carro na faixa e a uma distância constante do veículo que circula à sua frente. Mas obriga o condutor a manter as mãos no volante.

A novidade, para o Juke e para o segmento, é o monitor de ângulo morto ativo, que também atua na direção, se o condutor decidir mudar de faixa quando está prestes a ser ultrapassado.

Motor em marcha

Motor em marcha e a insonorização mostra-se de imediato bem feita, mesmo levando o motor ao “red-line”, o habitáculo continua a não receber muito ruído.

A caixa de dupla embraiagem é suficientemente suave nas manobras e rápida nas passagens mas as patilhas fixas ao volante são muito pequenas.

A direção tem um tato muito bom. Transmite precisão e obediência aos movimentos do condutor, o que é sempre bom.

As jantes de 19” não são a melhor receita para o total conforto, mas o aumento da distância entre-eixos e o trabalho na escolha de molas e amortecedores foi bem feito: o Juke não salta no mau piso.

Prestações suficientes

Claro que as prestações não são de cortar o fôlego, com os 0-100 km/h anunciados em 10,4 segundos, mas, numa condução normal, esta especificação do motor 999cc mostra-se suficiente.

Há três modos de condução que alteram a assistência da direção, acelerador e controlo de estabilidade: Eco/Standard/Sport.

Depois de ter guiado o Captur há pouco tempo, estou em condições de comparar o acerto de suspensão com o Juke. E o que tenho a dizer é que o Nissan opta por um controlo mais apertado dos movimentos da carroçaria.

O objetivo foi manter algum do brilho dinâmico que o primeiro Juke tinha, quando foi lançado. E isso foi conseguido.

Dinâmica precisa

A dinâmica é bastante precisa, com uma atitude relativamente neutra que só entra em subviragem se o condutor exagerar muito.

A suspensão traseira não foi afinada para se deixar deslizar em grandes ângulos, mesmo se o condutor a provocar, mas apenas o essencial para lhe dar alguma sensação de agilidade. O modo de condução Sport dá aqui uma boa ajuda.

Por outro lado, a estabilidade em estrada ganhou claramente, notando-se um centro de gravidade mais baixo, com a carroçaria menos sensível às depressões que aparecem na autoestrada.

No final do teste, o computador de bordo marcava um consumo médio de 8,9 l/100 km, incluindo todo o tipo de condução, mais lenta e económica em modo Eco, e mais rápida, em Sport.

Conclusão

Esta segunda geração do Juke evoluiu na direção esperada, com aumento de espaço interior, melhor qualidade e um estilo um pouco menos radical. Continua a manter uma aparência original e uma dinâmica mais envolvente que a média, mas com o lançamento do Ford Puma, perdeu a liderança no que diz respeito ao prazer da condução.

Quanto ao resto, a Nissan manteve a sua habitual agressividade comercial no novo Juke, o que é sempre uma boa notícia para quem compra.

Francisco Mota

Potência: 117 cv

Preço: 25 250 euros

Veredicto 3,5 (0 a 5)

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