Cada vez mais carros novos estão equipados com cruise control, mas nem todos os condutores o sabem usar com segurança, nem dele retiram todas as vantagens. Conheça os prós e os contras de um sistema que foi inventado há 60 anos.

O cruise control não é nada de novo, na verdade foi criado em 1948 nos EUA, tendo sido a Chrysler a primeira a oferecer um cruise control nos seus modelos mais luxuosos. Na altura, o grande argumento de venda era que fazia baixar os consumos em 15%, durante viagens longas nas intermináveis autoestradas americanas.
Hoje, o cruise control está presente em todo o tipo de modelos, dos mais caros aos mais baratos, mas poucos condutores realmente o sabem usar devidamente.

Manter o carro a andar a uma velocidade constante, sem ter que carregar no pedal do acelerador, é a função do cruise control

O sistema de controlo evoluiu muito ao longo dos anos mas o princípio básico é o mesmo: manter o carro a andar a uma velocidade constante, sem ter que carregar no pedal do acelerador. Para isso, o condutor escolhe a velocidade a que quer circular, liga o sistema e retira o pé do acelerador. O cruise control encarrega-se de manter a velocidade constante, acelerando nas subidas e desacelerando nas descidas.

Os “prós” do cruise control…

As vantagens são óbvias: menos cansaço ao nível das pernas, ausência de distrações do condutor no cumprimento da velocidade legal, o que poderia levar a multas por excesso de velocidade e também redução de consumos. Ao fazer acelerações e desacelerações suaves e progressivas, o cruise control é capaz de ser mais económico do que um condutor que carregue mais bruscamente no acelerador e no travão. Claro que o cruise control só serve para utilizar em autoestradas e vias rápidas, de preferência com pouco trânsito e com poucas curvas. Mas funciona tanto com caixas automáticas como com caixas manuais.

… e os “contras”

Os perigos da sua utilização indevida são claros. O primeiro é poder causar sonolência ao condutor, pois este deixa de ter que se preocupar com o acelerador, levando-o muitas vezes a recolhe a perna direita para trás e só se encarregar do volante. Em viagens longas por autoestradas com muitas retas, isto é a receita perfeita para as pálpebras começarem a ficar pesadas ou, pelo menos, a aumentar drasticamente o tempo de reação do condutor.

Nos pisos de baixa aderência, molhados ou nevados, é fortemente desaconselhável usar o cruise control

O cruise control também pode ser perigoso em autoestradas com curvas mais pronunciadas, onde uma redução súbita de velocidade seja necessária antes de uma curva. Um cruise control convencional não faz essa redução, o que pode ocasionar uma saída da faixa de rodagem.
Também nos pisos de baixa aderência, molhados ou nevados, é fortemente desaconselhável usar o cruise control. Pelos motivos anteriores, mas aqui ainda mais ampliados.
Em si, o sistema não é perigoso, tanto mais que basta ao condutor tocar no acelerador ou no travão para cancelar o funcionamento do sistema. É o seu uso indevido.

Limitador de velocidade

A maioria dos sistemas de cruise control tem uma função secundária que é a de limitador de velocidade máxima. Neste caso, o condutor escolhe uma velocidade que não quer ultrapassar, liga a função nos botões de comando e quando o carro se aproxima dessa velocidade escolhida, o motor deixa suavemente de entregar toda a potência, independentemente de se carregar mais no acelerador. Uma boa maneira de evitar multas por excesso de velocidade, para os condutores mais distraídos. Em caso de necessidade de mais velocidade, basta carregar a fundo no acelerador para desativar o limitador de velocidade e voltar a ter toda a potência disponível imediatamente.

Cruise control adaptativo

Há menos anos, surgiram no mercado os primeiros cruise control adaptativos, que além de fazerem o básico, também são capazes de travar autonomamente, se encontrarem um carro a rolar a menor velocidade à sua frente. Neste caso, o sistema acerta a velocidade com a do carro em frente e o condutor pode pré-determinar a distância a que quer viajar do carro que segue.

O sistema chegou à possibilidade de a travagem autónoma ir até ao ponto de parar o carro, se o da frente parar

Um outro desenvolvimento do sistema chegou com a possibilidade de a travagem autónoma ir até ao ponto de parar o carro, se o da frente parar, por exemplo em caso de engarrafamento. É o sistema “stop & go” que se pode reativar quando o trânsito volta a andar, bastando que o condutor dê um leve toque no acelerador, voltando à velocidade máxima programada.

Integração com auxílios à condução

Claro que os cruise control adaptativos não têm parado de evoluir e de se integrar com outros sistemas de auxílio à condução. Uma função proposta por algumas marcas é a interligação do cruise control com o reconhecimento de sinais de trânsito. Isto permite ao cruise control adaptar a sua velocidade em função da máxima legal em cada zona.
Mais recentemente, com o surgimento dos sistemas automáticos de manutenção e de centragem de faixa, o cruise control passou a permitir ao condutor largar também as mãos do volante, mas apenas por alguns segundos, de acordo com a legislação. Mesmo que mantenha as mãos no volante, os sistemas de manutenção ativa da faixa de rodagem impedem que o carro saia da faixa, ou do meio da faixa, mesmo se o condutor se distrair.
Perigo destes sistemas: não funcionam em todas as curvas e a todas as velocidades, exigindo constante atenção do condutor.

Condução autónoma

Uma das últimas evoluções do cruise control adaptativo é o auxílio à mudança de faixa. O condutor que vai a usar o cruise control, só tem que fazer pisca para a faixa para onde quer mudar, deixando ao carro a preocupação de controlar a distância e a velocidade do trânsito na faixa para a qual quer mudar. Quando encontrar a oportunidade certa para efetuar a manobra com segurança, o sistema toma conta da direção e muda o carro de faixa. Este sistema já entra na esfera da condução autónoma e ainda não foi aprovado por muitas legislações nacionais, por isso não é de utilização generalizada.

Quando o cruise control se combina com dados do GPS pode fazer variar a velocidade em função do perfil da estrada

A evolução do cruise control está de facto a levá-lo para a posição de protagonista da condução autónoma, por exemplo quando se combina com dados do GPS para fazer variar a velocidade em função do perfil da estrada, preparando acelerações mais cedo, antes de subidas e desacelerações antecipadas, antes das descidas, com o objetivo de poupar combustível. E também ajustar a velocidade em função do tipo de curva ou de qualquer tipo de particularidade que se esteja a aproximar, como rotundas ou cruzamentos, cartografados no GPS.

Cruise control também na cidade

Alguns cruise control adaptativos já podem hoje ser usados em trânsito citadino, coordenados com os sistemas de travagem autónoma de emergência, mas ainda não conseguem prever todo o tipo de situações, obrigando o condutor a manter a mesma atenção ou até mais, pela apreensão que surge sobre a possível falha do sistema.

Conclusão

O cruise control tem vantagens ao nível da diminuição do cansaço em longas viagens, da redução dos consumos e até da segurança, no caso dos sistemas mais evoluídos. Mas não deixa de ser verdade que os sistemas mais básicos servem sobretudo para viagens longas em autoestradas com retas a perder de vista e com pouco trânsito, um cenário que, num país como o nosso é cada vez mais raro. Os perigos são sobretudo consequência do uso indevido do cruise control. Mas existem e não podem ser ignorados pelo condutor, sobretudo a indução da sonolência. Na verdade, ainda estamos longe do piloto automático dos aviões.

 

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