7/10/2022. Esta semana foram anunciadas as vendas de automóveis na Alemanha em Setembro. Os elétricos subiram 32% e já representam 19,7% do total. Mas é preciso analisar os números com cuidado.

 

As vendas de automóveis na Alemanha são importantes por dois motivos. Porque se trata do maior mercado europeu e, também por isso, porque acaba por mostrar as tendências que depois vão surgindo nos outros mercados.

O principal “mas” da piscina de números em que vamos mergulhar nas próximas linhas é que, uma parte das comparações se faz entre os meses de Setembro de 2022 e o mesmo mês de 2021. É a comparação habitual na indústria, mas é preciso enquadramento.

As vendas de Setembro de 2021 ficaram bem abaixo das vendas de Setembro de 2020, por isso os valores de 2022, quando comparados com os de 2021, parecem melhores do que são.

Os piores nove meses

A verdade é que, desde que há registos, o mercado alemão nunca tinha ficado abaixo dos dois milhões de unidades vendidas nos primeiros nove meses do ano. Este ano, de Janeiro a Setembro, ficaram apenas pelos 1,86 milhões.

Razões há muitas, são internacionais, surgiram numa sequência infernal e conhecidas de todos: pandemia, crise dos semi-condutores, guerra na Ucrânia e crise energética.

Mas os números parecem indicar que, em Setembro, o mercado alemão conseguiu mostrar alguma recuperação. Pelo menos de forma aparente.

A “recuperação”

Comparando Setembro de 2022 com Setembro de 2021, a subida do mercado foi de 14% o que indicia uma tendência de voltar aos números positivos.

Mas, e lá vem mais um “mas”, observadores locais afirmam que parte das entregas em Setembro foram de carros encomendados há alguma tempo e que só agora foram concretizadas.

Mas a tendência mais interessante é a da subida de vendas dos carros elétricos. Pelo menos é a mais mediática.

A subida dos elétricos

Os elétricos cresceram uns astronómicos 32% nas vendas de automóveis na Alemanha em Setembro, mostrando como o interesse dos compradores sobe de ano para ano.

A Polestar foi a marca 100% elétrica que mais cresceu, com 115% e a Tesla cresceu 74%. Mas há que ter uma ideia dos volumes. A Polestar vendeu 667 carros em Setembro passado, enquanto a Tesla vendeu 13 724 carros.

As vendas da Tesla em Setembro superaram marcas como a Ford, Opel, Peugeot, Renault e Toyota. E não ficaram longe das vendas da Skoda, Audi e BMW. Claro que a VW ficou muito à frente, com 40 371 unidades vendidas.

Mas estou a comparar as vendas de uma marca que só tem carros elétricos, como é o caso da Tesla, com as vendas de marcas que têm no seu catálogo modelos com motores de combustão, híbridos e alguns elétricos. O que sublinha ainda mais o feito da marca americana.

VW domina largamente

Quanto a valores acumulados desde Janeiro a Setembro, que me parecem mais reveladores da performance de cada marca durante o ano, a VW domina largamente, com 342 489 unidades, numa subida de 18,3% face a 2021.

Para se ter uma ideia, as únicas outras marcas que venderam na casa dos seis dígitos foram a MB (166 364), BMW (153 304), Audi (151 930), Skoda (108 747) e Opel (104 630). Não esquecendo que a Audi e Skoda fazem parte do grupo VW.

E os elétricos da VW?

No primeiro semestre de 2022, segundo números do Grupo VW, as suas marcas venderam um total de 217 100 veículos elétricos nos primeiros seis meses de 2022, resultando numa média de 36 166 por mês.

Em resumo, o mercado alemão vendeu, em Setembro, 224 816 carros o que dá uma ideia da sua dimensão. E se a subida de 14% é conjuntural, talvez a subida de 32% nas vendas de elétricos o seja menos, mostrando que o mercado dos EV está a acelerar a um ritmo que até há pouco tempo se poderia julgar impossível.

Conclusão

Com toda a propaganda a favor dos carros elétricos que os políticos europeus têm feito nos últimos anos. Com a “ameaça” de que, a partir de 2035, os carros com motores térmicos vão ser proibidos de ser vendidos e com a publicidade que as marcas têm que fazer aos seus modelos elétricos, para conseguirem sobreviver a esta transição, não admira que os consumidores estejam a passar por um novo tipo de ansiedade, a ansiedade de pensar que o seu próximo carro vai ter que ser um elétrico, se quiserem continuar a ter carro próprio.

Francisco Mota

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