6/1/2023. Foram divulgadas as vendas de automóveis em Portugal durante os 12 meses de 2022 e na tabela podem encontrar-se confirmações, surpresas, curiosidades e ironias. Como o facto de a Tesla já vender mais que a Skoda, num país como o nosso. Mas há muito mais para ver e comparar.

 

A Associação Automóvel de Portugal, a ACAP, divulgou esta semana a lista de vendas em Portugal durante o total dos 12 meses de 2022. A tabela dos ligeiros de passageiros é a mais interessante de analisar, tanto mais que a ACAP relembra os números de 2021, para se poder fazer uma comparação. No total de todas as marcas, o mercado cresceu 6,6% atingindo as 156 250 unidades.

Estamos longe dos anos de ouro, 1999 e 2000 em que o mercado nacional valia 400 mil carros por ano, incluindo a “brigada da rede”, os comerciais ligeiros de dois lugares. Hoje, somando os ligeiros de passageiros e comerciais, 2022 registou um número de 179 791 unidades.

Pouca recuperação face a 2019

Mas a tendência de crescimento é um bom sinal, mesmo se 2021 esteve longe de ser um ano brilhante. Estamos longe dos números de 2019, antes da pandemia, em que se venderam 223 799 ligeiros de passageiros e mais ainda dos 266 mil de 2018.

A marca que lidera a tabela é a Peugeot, com 16 828 carros vendidos em 2022, ficando a Renault em segundo lugar com 12 841. Já em 2021 tinha sido assim, só que no ano passado a diferença entre as duas marcas francesas aumentou, pois, se a Peugeot desceu 4,4%, a Renault teve uma queda quatro vezes superior de 16,8%.

O Peugeot 2008 foi o modelo mais vendido e o 208 foi o segundo mais vendido, mostrando o bom resultado da marca do leão no nosso país.

O terceiro lugar do pódio

O pódio do mercado nacional em 2022 completou-se com a Mercedes-Benz, que subiu 5,9% atingindo as 12 055 unidades, apenas menos 786 carros que a Renault. Para quem não costuma acompanhar as vendas do nosso mercado, pode estranhar esta posição da marca alemã, num mercado pobre como o nosso. Mas não se pode esquecer a forte presença da marca nas frotas de muitas empresas, com o Classe A.

Depois de já ter anunciado que vai sair do segmento C e deixar de vender o Classe A, não será difícil adivinhar que se aproximam tempos diferentes para a marca alemã pelo menos em mercados de baixo preço como o nosso.

O fenómeno Dacia

Logo a seguir vem a Dacia com 10 157 unidades vendidas, um quarto lugar que é resultado da maior subida entre as 20 marcas mais vendidas, nada menos do que 74,4% face a 2021 e aqui não são as frotas a explicar o sucesso, mas um gama de modelos bem adaptada ao comprador individual, segmento que a marca romena lidera.

Ainda assim, não deixa de ser irónico que a Mercedes-Benz venda mais carros que a Dacia, num mercado como o nosso. Mas é um reflexo da maneira como muitos portugueses se relacionam com o automóvel. A imagem ainda tem muita força, mesmo se o Classe A até partilha o motor 1.3 turbo com a Dacia.

BMW à frente da Toyota

A BMW aparece em quinto lugar com 9695 unidades, apenas 670 unidades à frente da Toyota. Enquanto a BMW desceu 13,9%, face a 2021, a Toyota subiu 14,3%, mostrando que o plano de produto dos japoneses está a funcionar em pleno. É o mercado a responder a quem pensa que a Toyota se atrasou na entrada nos elétricos.

A Citroën ficou em sétimo lugar, com 9015 carros vendidos, apenas menos 10 (!) que a Toyota. Alguém se distraiu na marca francesa, para perder o sexto lugar por tão pouco. Mas o “double chevron” contribuiu para o excelente resultado de conjunto do grupo Stellantis em Portugal, que liderou o mercado com 26,2 % de quota.

VW passa Hyundai

Outra pequena vitória foi para a VW, que terminou o ano de 2022 com uma subida de 13%, o que lhe permitiu ultrapassar a Hyundai num duelo de 8494 contra 7263 unidades, pois a marca Sul-Coreana desceu 4,6% de 2021 para 2022.

A Fiat encerra o Top 10 com 33,6% de subida que se traduziu em 6655 unidades vendidas, pouco à frente da Kia, que vendeu 6419 após uma subida de 20,1% no exercício de 2022.

A derrota da Audi

Opel, Seat e Ford ficaram em redor das seis mil unidades, a Nissan veio logo a seguir com 5356 e depois surge uma diferença maior para a Audi que só vendeu 3750 unidades, numa derrota pesada face aos seus rivais da Alemanha. A BMW vendeu 2,6 vezes mais e a Mercedes-Benz vendeu 3,2 vezes mais.

Com 3594 unidades, a Volvo vendeu apenas menos 156 carros que a Audi, registando uma descida de 9,7% mas bateu a Tesla por 978 unidades, o que não surpreende. A surpresa é a Tesla superar a Skoda num mercado onde o preço ainda é um fator muito importante.

Tesla bate Skoda

Com 2616 unidades (mais 73,5%) a marca americana bateu a checa por 521 carros, apesar de a Skoda ter subido 17,1% face a 2021.

As últimas três marcas a vender mais de mil carros durante 2022 foram a Mini (1879), Mitsubihi (1671) e Cupra (1626). A marca espanhola subiu 191% nas vendas face a 2021, fruto do aumento da sua gama de modelos. Mas não foi a marca recordista na subida.

Maserati recordista

A marca que mais subiu, em percentagem, entre 2021 e 2022 foi a Maserati, que passou de 25 para 82 unidades, mais 228% situação que se deverá repetir este ano, quando o efeito Grecale ganhar balanço.

Falando de subidas e descidas, a marca com maior percentagem de descida foi a Smart com 34,2 % de quebra, resultado da fase de transição pela qual a marca detida, em partes iguais, pela Daimler e pelos chineses da Geely está a passar.

Porsche vende mais que Honda

A Porsche subiu 11,4% e vendeu 852 carros, mais que a Honda (767) e pouco menos que a Mazda (925) o que não deixa de ser mais um contraste impressionante, num país como o nosso.

Quanto às marcas de superdesportivos, as vendas contam-se pelas dezenas. A Ferrari vendeu 29 carros, mais 6 que no ano anterior e a Lamborghini ficou-se pelos 14, apesar de ter um SUV na sua gama.

Elétricos a subir

Quanto aos elétricos, a marca que liderou as vendas em 2022 em Portugal, nos ligeiros de passageiros, foi a Tesla, com os já referidos 2616 carros entregues. Seguiu-se a Peugeot com 1603 e a BMW, com 1583 carros.

No total, foram vendidos 17 817 ligeiros de passageiros elétricos em 2022, que representam 11,4% do total das vendas do ano, numa subida de 33,3%, face a 2021.

Conclusão

As vendas subiram 6,6%, o que é um bom sinal mas insuficiente para diminuir a idade do nosso parque. A Peugeot reforçou a sua posição de líder, devido sobretudo à maior descida da Renault. Os elétricos subiram 33,3% mas a Dacia subiu 74,4% e já é a quarta marca mais vendida. Duas tendências contraditórias, como muitas outras de que o mercado nacional é fértil.

Francisco Mota

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