30/04/2021. Apontada por muitos como atrasada na entrada nos carros elétricos, a Toyota mostrou o seu primeiro EV que estará à venda em 2022. É o primeiro de muitos, a provar que a marca líder de vendas mundial tem o seu próprio calendário para a transição.
A “urgência” que muitos pensam existir na entrada no mercado dos carros elétricos nunca foi partilhada pela Toyota. Talvez porque a marca entrou na eletrificação em grande escala já há muito tempo.
Enquanto outras marcas ainda andavam a aperfeiçoar os seus motores Diesel, já a Toyota colocava no mercado a primeira geração do Prius, o primeiro híbrido elétrico de produção em massa.
Até hoje, a Toyota já vendeu mais de 17 milhões de veículos eletrificados – híbridos e “plug-in” – um número não igualado por qualquer outro construtor.
Com esta dedicação à eletrificação, a Toyota conseguiu, de acordo com as suas contas, evitar que os seus carros emitissem 140 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera, coisa de que nenhuma marca fabricante de modelos puramente elétricos se pode gabar.
Experiência na eletrificação
Em vez de brincar às percentagens, a Toyota apostou nos valores absolutos e os resultados estão à vista. Só para dar um exemplo acerca da evolução das emissões na oferta de carros novos da Toyota, as emissões da sua gama de modelos desceram 22%, entre 2010 e 2019.
É esta experiência na eletrificação que deu à Toyota uma visão global do problema das emissões e que lhe permitiu escolher o melhor momento para começar a comercializar modelos 100% elétricos.
Quem pensar que o gigante japonês estava atrasado, por uma qualquer questão de falta de visão ou de incapacidade técnica, está redondamente enganado. A Toyota já fez mais pela diminuição das emissões de CO2 do que qualquer outro construtor de automóveis.
Quinze elétricos até 2025
Mas agora, chegou o tempo de entrar finalmente nos EV, com a Toyota a mostrar o seu primeiro automóvel elétrico, o bz4X, um nome de código de um modelo que se apresenta como um “concept-car” mas que, segundo as minhas fontes na marca, está muito próximo do produto final.
O nome definitivo do modelo ainda não foi revelado, mas o código tem significado. As letras “bz” são as iniciais da estratégia de eletrificação da marca, “Beyond Zero” que prevê o lançamento de 15 modelos puramente elétricos até 2025.
Sete destes modelos vão ser feitos sobre a nova arquitetura elétrica e-TNGA, que a Toyota partilha com a Subaru.
Um SUV para começar
Trata-se de uma plataforma com as qualidades necessárias a modelos elétricos, como a grande distância entre-eixos, para poder acolher a bateria sob o habitáculo.
Como efeito secundário, tem um amplo espaço para pernas nos lugares da segunda fila de bancos. A Toyota diz que o bz4X tem tanto espaço como um Lexus LS.
Sem surpresa, as letras “4X” querem dizer que o primeiro elétrico da Toyota terá tração às quatro rodas. Para isso, usa a solução que se está a tornar comum nos BEV: um motor elétrico em cada eixo.
Esta opção combina na perfeição com o visual “off-road” do modelo e acrescenta segurança em condições de piso invernoso, mais do que ir à procura de grandes aptidões para condução fora de estrada.
Mais de 500 km de autonomia
Acerca da autonomia, como seria de esperar, oficialmente a Toyota ainda não dá detalhes, mas uma fonte da marca garante que terá “eficiência referencial e autonomia muito competitiva.”
Considerando a excelente autonomia que a Toyota conseguiu com o recém-lançado RAV4 PHEV, que já tive ocasião de testar e que pode ver neste vídeo:
Vídeo – Toyota RAV4 Plug-in: qual a autonomia real?
é de esperar que o bz4X seja melhor do que o seu rival direto da VW, o ID.4, ou seja mais de 500 km de autonomia.
Um detalhe interessante é a colocação de um painel solar no tejadilho, para ajudar a carregar a bateria, uma tecnologia que a Toyota já usou no Prius “Plug-in”.
Ao estilo do RAV4
O estilo é muito influenciado pelo do RAV4, o que não surpreende, pois o modelo da Toyota é “só” o SUV mais vendido do mundo. Mas há detalhes diferentes, como a substituição da grelha dianteira por um friso, atrás do qual se escondem os sensores para as ajudas eletrónicas à condução.
Por dentro, o destaque vai para um ecrã tátil central de dimensões muito superiores ao habitual na Toyota e colocado em posição mais próxima do condutor, sendo mantido um pequeno painel de instrumentos, visível por cima do volante, ao estilo dos Peugeot.
Volante de avião
O volante deste “concept-car” foi reduzido ao mínimo, mais parecendo a “manche” de um avião. Mas não é só por uma questão de estilo.
A direção é elétrica “by-wire”, portanto sem coluna de direção entre o volante e a caixa de pinhão e cremalheira, que é atuada por um motor elétrico. A Toyota garante que este volante vai chegar à produção, em alguns países.
Conclusão
Em vez de criar um estilo completamente distinto da sua atual gama de modelos, para a oferta de carros elétricos, como fez a VW e a sua família I.D, a Toyota parece querer integrar os seus elétricos na atual gama de modelos híbridos, sugerindo assim uma transferência progressiva. É uma estratégia típica da Toyota, que não gosta de atitudes ou produtos radicais e que se tem dado muito bem com isso ao longo das décadas.
Francisco Mota
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