18/12/2020. Muitos dizem que a Toyota se atrasou na chegada aos elétricos. Mas o gigante japonês não dormia e garante estar no “timming” certo. Saiba os planos da Toyota e as últimas declarações de Akio.

 

Se nunca ouviu falar do Toyota Production System (TPS) aceite a minha sugestão de fazer uma busca na Internet (depois de ler esta crónica, sff…) para ficar a conhecer a filosofia que moldou a atividade do gigante japonês e que influenciou praticamente todos os construtores de automóveis, europeus e americanos no pós-guerra.

O TPS passa pela gestão, projeto, produção, vendas, manutenção, enfim tudo!… O seu lema é o combate ao desperdício. O desperdício de materiais, de tempo, de capacidade, de competências e muito mais. Foi desenvolvido entre 1948 e 1975 e deve parte da sua existência a uma visita a um supermercado. Vale a pena procurar um dos vários livros sobre a matéria para o ficar a conhecer melhor.

Claro que o TPS foi sendo desenvolvido ao longo dos anos, com a mais recente consolidação a ser feita em 2001, naquilo que ficou conhecido como “The Toyota Way”. Vem isto a propósito da transição energética, como seria de esperar.

Atrasada nos elétricos?

Ao contrário do que alguns comentadores pensam, a Toyota garante que não está atrasada na entrada nos carros 100% elétricos. A marca diz que este é o “timming” certo.

O outro gigante da indústria automóvel, a VW (o único construtor que consegue chegar aos 10 milhões de carros/ano da Toyota) já tem a sua plataforma elétrica na rua, com o ID.3, o primeiro de uma família de elétricos a lançar nos próximos meses e anos.

A Toyota começou com uma prosaica versão elétrica do furgão Proace Verso Electric, na sua estreia nos 100% elétricos na Europa. Mas garante que só agora começam a estar reunidas as condições para uma aposta forte nos elétricos. Tanto do lado da procura, como das infraestruturas e dos custos de produção.

Elétricos, mas a dar lucro

Ao mesmo tempo que desenvolvia a versão elétrica da sua filosofia de plataforma, a e-TNGA, a Toyota fez um trabalho de adaptação do antigo TPS à era elétrica e garante que está pronta para fazer elétricos a dar lucro, o que nem todo podem dizer.

Para já, anunciou um primeiro conjunto de seis modelos elétricos, com o primeiro a ser “um SUV do tamanho do RAV4” nas palavras dos responsáveis nipónicos, que mostraram um desenho da sua silhueta.

Depois, estão agendados 60 novos modelos eletrificados até 2025, num investimento de 5,5 milhões de euros por ano. Porque o investimento não se vai ficar pelos elétricos a 100%, como seria de esperar.

Elétricos, mas não só

A Toyota é a marca com maior experiência de automóveis eletrificados, desde que lançou o primeiro Prius em 1997 já produziu 16 milhões de veículos híbridos na Toyota e Lexus.

Típico do maior construtor automóvel do mundo, a decisão tomada para os próximos anos foi a de investir em todo o tipo de motorizações: “mild-hybrid”, “full-hybrid”, “plug-in”, elétricos e “fuel cell”. A marca estará presente em todos os tabuleiros de jogo.

É bom não esquecer que, no que diz respeito aos “fuel cell” a Toyota também lidera em volume de vendas, desde que lançou o primeiro Mirai em 2014. Já vendeu mais de 10 mil e a segunda geração está a chegar ao mercado, com uma evolução do conceito.

Os ataques de Akio aos políticos

Enquanto isto está a ser formalmente anunciado pelos gestores de topo da empresa, o líder, Akio Toyoda decide atacar publicamente a pressa dos políticos em fazer a transição energética e elenca todos os problemas inerentes à questão.

Aponta a “mentira” das emissões globais inferiores dos carros elétricos (contando com a produção das baterias e geração da energia), refere a insuficiência da rede de distribuição e até da capacidade de produção de energia eléctrica, no caso do Japão.

Não deixa de falar também na injustiça social que a passagem forçada para veículos elétricos, muito mais caros, vai causar; na consequente redução da produção de automóveis e no desemprego que se seguirá. Que poderá levar a uma queda da economia.

Até agora, não tinha ouvido nenhum líder de uma das principais marcas pôr a nú, desta maneira tão enfática, todos os problemas que rodeiam a transição energética e que tanto encanta a classe política. Carlos Tavares tem dito muito, mas Akio foi mais longe.

Soluções para os problemas

Claro que Akio pode falar assim porque, na mesma altura em que levanta os problemas, também apresenta as soluções. Foi ele que mostrou a primeira bateria de eletrólito sólido, desenvolvida em colaboração com a Panasonic, uma empresa do universo Toyota, que afirma estará em produção no início desta década.

Com essa bateria, Akio diz que será possível carregar um carro elétrico em dez minutos e ficar com 500 km de autonomia. O primeiro protótipo estará a funcionar já em 2021.

A passagem para as baterias de eletrólito sólido tem também uma vertente estratégica, pois permite ao Japão libertar-se do domínio dos chineses na produção das atuais baterias de iões de Lítio. Por isso o Estado japonês está a apoiar fortemente o desenvolvimento da tecnolgia. Pelo menos nessa área, Akio conseguiu convencê-los.

Conclusão

Akio Toyoda sempre assumiu um estilo de comunicação muito diferente do habitual dos seus colegas japoneses, ultra-discreto e muito conservador. Mas agora subiu para um novo nível de protagonismo e de intervenção pública. Ainda o vou ver no Twitter todos os dias, como o seu colega Elon Musk da Tesla.

Francisco Mota

Para percorrer a galeria de imagens, clicar nas setas

Ler também, seguindo o LINK: Teste – Toyota Yaris Hybrid: “verdadeiro” híbrido traz surpresa