Crónica à 6ª Feira – 26/06/2020. O conhecido estudo de qualidade JD Power apresentou os resultados da edição 2020. E a maior surpresa é o último lugar da Tesla. Saiba porquê e descubra quem ganhou.

 

Pela primeira vez, a Tesla aceitou participar no estudo de qualidade JD Power, aquele que é o inquérito mais conhecido na indústria automóvel e que já vai na 34ª edição.

Trata-se de um estudo feito em todos os Estados dos EUA, portanto referente à realidade do mercado Norte-Americano de automóveis.

A organização gaba-se de que os resultados do seu estudo têm levado algumas marcas a melhorarem os seus carros ao longo dos anos, sendo por isso o mais influente.

Antes que os fanáticos da Tesla começem a denegrir a competência do estudo, convém dizer como funciona e apresentar alguns dados deste ano.

Como funciona o estudo

A organização procede a inquéritos individuais a compradores (ou locatários de leasing) de modelos novos do ano-modelo 2020, após os primeiros 90 dias de utilização.

Este ano, foram inquiridos 87 282 utilizadores, entre Fevereiro e Maio.

A estrutura do inquérito individual deste ano foi modificada. Continua a incluir as avarias, falhas e defeitos de fabrico, mas passou a incluir áreas relacionadas com as novas tecnologias.

Os utilizadores foram inquiridos sobre falhas, dificuldade de utilização, dificuldade de compreensão e funcionamento diferente do esperado pelo condutor. Isto abrange sistemas de auxílio à condução e infotainment.

Cada utilizador tem que responder a 223 perguntas, divididas em nove áreas: infotainment, comandos e monitores, exterior, assistentes à condução, interior, motor e caixa, bancos, condução e climatização.

Apresentação de resultados

Os resultados são apresentados em número de falhas por cada 100 unidades de cada modelo, ou seja, quanto menor o valor, mais alto o lugar no “ranking”.

Há uma classificação para marcas e outra para os vários segmentos, com distinção para os três primeiros em cada segmento de mercado.

A participação da Tesla pela primeira vez no inquérito de qualidade da JD Power teve algumas particularidades que a organização esclareceu em comunicado: “ao contrário dos outros construtores, a Tesla não nos deu permissão para inquirir os utilizadores dos seus carros em 15 Estados dos EUA.”

As razões para esta recusa, não são explicadas pela organização. Mas este “detalhe técnico” é suficiente para a Tesla não cumprir os critérios do estudo de 2020 e por isso não poder ser incluída no ranking oficial.

Terá sido uma estratégia de última hora da Tesla para tentar evitar a má publicidade?…

Porque a Tesla fica em última?

A organização considerou que “contudo, nós conseguimos recolher uma amostra suficientemente grande de inquéritos nos restantes 35 Estados dos EUA, sendo suficiente para calcular o valor de falhas da Tesla.”

Assim, a JD Power apresenta o valor da Tesla, mas deixa a marca fora do ranking oficial, o que vai dar ao mesmo…

A Tesla regista uma média de 250 problemas por cada 100 carros, um valor muito elevado face a todas as outras marcas, que a coloca em último lugar, distanciada do penúltimo por 22 pontos

Para quem conhece os produtos da Tesla, este resultado não será uma surpresa.

A fraca qualidade de construção é visível no desalinhamento dos painéis móveis da carroçaria; os materiais do interior são medianos e a conceção minimalista evita maiores problemas de montagem.

O problema é o infotainment

Mas aquilo de que os utilizadores mais se queixam, não só no Tesla, mas em muitos modelos, é da utilização do infotainment.

São 25% dos carros que recebem críticas relacionadas com o sistema de comando por voz, a conetividade Android Auto e Apple Carplay, monitores táteis, sistemas de navegação e até do Bluetooth.

“And the winner is…”

Por mais relevante que seja este assunto da Tesla, não posso deixar de olhar para os vencedores e aqui também há surpresas.

Pela primeira vez na história do estudo, uma marca de Detroit fica em primeiro lugar, foi a Dodge, mas empatada com a Kia com 136 pontos.

Aliás, este foi o ano em que as marcas americanas melhor resultado de conjunto conseguiram alcançar, com a Dodge, Chevrolet, Ram, Buick, GMC, Jeep e Cadillac todas acima da média do estudo.

Marcas Premium “castigadas”

Pelo oposto, as marcas Premium ficaram quase todas abaixo da média, com a Mercedes-Benz, Volvo, Audi e Land Rover nos últimos quatro lugares.

Das marcas consideradas Premium nos EUA, apenas a Genesis, Lexus e Cadillac ficaram acima da média.

Mais surpreendente é a tendência de descida no ranking das marcas japonesas. Só a Mitsubishi, Lexus e Nissan ficaram acima da média. Até a Toyota ficou no último terço da classificação.

Além do primeiro lugar ex-aequo da Kia, o grupo Hyundai conseguiu o melhor resultado de conjunto das suas marcas.

O resultado final ficou assim ordenado

O relatório completo poderá ser lido seguindo este LINK:

http://www.jdpower.com/pr-id/2020070

Vitórias por modelos

O estudo atribui prémios aos três primeiros classificados em cada segmento, dividindo o mercado em três categorias: carros, SUV e “pick-up”. Depois há uma divisão destas três tipologias nos vários segmentos.

O modelo com melhor resultado foi o Chevrolet Sonic, com apenas 103 pontos.

Entre os vários vencedores no seu respetivo segmento, destaque para o Ford Mustang, Audi A3, BMW Série 8 e X6, Kia Soul e Sorento e Hyundai Tucson.

O E-Pace foi o primeiro Jaguar de sempre a ganhar um primeiro lugar no seu segmento, a Ford Ranger ganhou também no seu segmento.

O estudo classificou também as fábricas que produzem modelos para o mercado dos EUA. Com menos problemas por 100 unidades, a vitória foi para a unidade da GM em Yantai Dongyue, na China.

Interpretar os resultados

Os resultados desta edição do estudo de qualidade inicial JD Power, assim denominado porque se refere aos primeiros 90 dias de utilização dos carros, podem ter algumas interpretações.

Em primeiro lugar, os utilizadores continuam a achar os sistemas de infotainment demasiado complicados. O que mostra um distanciamento dos construtores da realidade.

Outra interpretação é que os modelos mais complexos são mais castigados. É a própria organização a dizer que “os resultados globais piores deste ano não significam que os carros estão a ficar piores”. A questão tem mais a ver com a inclusão no inquérito de mais perguntas relacionadas com a utilização dos infotainment e ajudas à condução.

Conclusão

Se os resultados do JD Power têm realmente contribuído para os construtores melhorarem os seus carros, no passado, então têm aqui uma boa ocasião para o fazer novamente, sobretudo no que aos sistemas de infotainment diz respeito, até por uma questão de segurança.

Francisco Mota

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