2/6/2023. Foram divulgadas as vendas de automóveis em Portugal nos primeiros cinco meses do ano e os elétricos registaram uma incrível subida de 157,1% face a Maio do ano passado. Será que o país tem estrutura de carregamento público suficiente para tantos EV a chegar ao mercado ao mesmo tempo?

 

em Maio, foram vendidos 8 299 veículos ligeiros de passageiros eletrificados, contabilizando os 100% elétricos, híbridos “plug-in” e híbridos elétricos, representando um crescimento de 86% face a igual mês do ano passado.

É uma subida muito expressiva que mostra a apetência do mercado por este tipo de motorizações, tanto mais que o acumulado desde o dia 1 de Janeiro já vai nas 37 360 unidades, ou seja, uma subida de 68,4% relativa aos mesmos primeiros cinco meses do ano passado.

100% elétricos a escalar

Os números são da ACAP, que especificou também as vendas apenas de veículos 100% elétricos. Em Maio, venderam-se 3 378 unidades, representando a tal subida de 157,1% face a Maio do ano passado.

Em acumulado desde Janeiro, já se venderam em Portugal 13 783 veículos 100% elétricos. Todos os números se referem apenas a ligeiros de passageiros. Os comerciais eletrificados aproximam-se do milhar, de Janeiro a Maio.

E o mercado em geral?

Convém enquadrar estes números no total de vendas de automóveis de todas as motorizações, no mesmo período. Em Maio foram matriculados em Portugal 19 816 ligeiros de passageiros. Ou seja, os eletrificados representaram 41,8% das vendas no nosso país.

Restringindo as contas apenas aos 100% elétricos, em Maio, os EV representaram 17% do total do mercado de ligeiros de passageiros. Desde Janeiro a Maio, os elétricos alcançaram os 15,6% de quota de mercado. Estamos acima dos 12,1% da média europeia em 2022.

Ainda longe de 2019

O mercado de ligeiros de passageiros, no total, subiu 54,6%, face a Maio de 2022, com um crescimento de 46,4% no acumulado de Janeiro a Maio, face a igual período do ano passado. Contudo, o mercado ainda está 16,4% abaixo dos primeiros cinco meses de 2019, o último ano antes da pandemia/semi-condutores/guerra.

Esta subida nas vendas dos elétricos é ainda mais reveladora pois houve um atraso na atribuição de incentivos à compra este ano. Aliás, está em cima da mesa acabar com os incentivos, como já aconteceu noutros países.

Incentivos são ainda precisos?

A razão é simples: os compradores de carros elétricos estão cada vez mais interessados na poupança que podem fazer com a utilização de um elétrico, do que com os incentivos, que se esgotam rapidamente e nunca chegam para todos. Apenas cerca de dois mil compradores conseguem receber incentivos.

No total, para todo o tipo de veículos 100% elétricos, incluindo bicicletas, o Estado disponibiliza um total de 10 milhões de euros. Aos automóveis cabe um máximo de 4000 euros por cada carro comprado por uma pessoa individual, desde que o carro custe menos de 62 500 euros.

E a rede está pronta?…

As vendas de elétricos estão a crescer, o que agrada a todos: compradores, marcas e políticos. Mas será que a rede pública de carregadores está pronta para os receber e aos que vão chegar em cada vez maior número?

As estatísticas oficiais até colocam Portugal numa boa posição, em termos de postos por utilizador. Mas a realidade é diferente das folhas de Excel.

Entre avarias, estado “off line”, ocupação pelos TVDE e incompatibilidades entre meios de pagamento, posto e carros, de tudo pode acontecer quando se procura um carregador público, incluindo postos que carregam a potência inferior à indicada.

Sete “visitas”

Há pouco tempo, um colega que testava um carro elétrico, precisou de visitar sete carregadores até encontrar um a funcionar/disponível.

O meu recorde pessoal vai em quatro, numa altura em que a autonomia restante na bateria estava longe de ser confortável. Ou seja, a ansiedade da autonomia no seu pior.

Segundo os últimos dados que encontrei para 2023, existem em Portugal 7 251 pontos de carga. As estimativas da Mobi.E são de chegar aos 10 mil em 2024 e diz que o crescimento da rede está a acompanhar as vendas.

Menos autonomia, maior rede

A discussão mais frequente entre os interessados pelos carros elétricos é a sua autonomia. Mas o real problema não é a autonomia, é a rede de carregadores públicos e a maneira como funcionam.

Com uma rede bem dimensionada e em boas condições de funcionamento, a autonomia deixa de ser um problema. Mesmo com carregadores semi-rápidos de 50 kW ou menos potentes. Poucos minutos chegam para obter a carga necessária para a próxima deslocação.

Conclusão

Ficam de fora as viagens longas, para as quais existem outros tipos de motorizações, mais apropriadas para o efeito. Mas aí, entramos na lógica tradicional do comprador nacional, que nos tempos do auge das carrinhas, não se importava de andar todo o ano a circular com um carro maior e mais pesado, que não precisava, só para ter muito espaço de bagagem nas férias.

Francisco Mota

Ler também, seguindo o LINK:

Técnica – HEV ou PHEV: quais são as diferenças?