10/07/2020. Qual a estratégia para as marcas espanholas do grupo VW, Seat e Cupra? A eletrificação está nos planos de ambas, mas há exigências ao Estado Espanhol.

 

Começou por ser uma sub-marca para as versões mais desportivas da Seat, mas passou a marca autónoma em 2018.

Na verdade, pouco mais aconteceu do que a troca da ordem dos nomes: Cupra Ateca, em vez de Ateca Cupra ou Cupra Leon, em vez de Leon Cupra.

Mas a imagem da nova marca foi bem trabalhada e os seus modelos desportivos encontraram 40 000 compradores até agora.

Só que, fazer uma marca à base de modelos de outra, apenas com o emblema trocado e melhores acabamentos não chega. E o grupo VW tem um longo historial nesta área.

Trocar a Seat pela Cupra?

Há menos de dois anos o então líder da VW, Herbert Diess, chegou a admitir que substituir a Seat pela Cupra podia ser uma hipótese. O raciocínio era muito simples.

A Cupra, posicionada como marca desportiva e luxuosa (uma AMG à escala) consegue captar maior lucro por unidade vendida que a Seat. Mas a verdade é que nunca mais se ouviu falar desta ideia e, entretanto, Diess foi afastado.

Esta semana, o novo CEO da Seat, Wayne Griffiths deixou claro que a Seat e a Cupra são complementares. Mas ainda não apresentou um plano detalhado para as duas.

Ainda não teve muito tempo, é certo, depois da saída surpresa do anterior CEO, o “superstar” Luca de Meo, que foi prosseguir a sua “brilhante” carreira para a Renault.

Sobre os CEO que passaram pela Seat nos últimos anos, haveria muito a dizer, mas isso vai ficar para outra altura.

El Born passa de Seat a Cupra

Para já, o que Griffiths fez foi anunciar que o “concept-car” elétrico Seat El Born, apresentado no ano passado, se passa a chamar Cupra El Born, na versão de produção que agora mostrou.

Esta passagem do primeiro modelo espanhol feito com base na plataforma MEB, da Seat para a Cupra pode querer dizer que a marca desportiva se perfila para um futuro 100% elétrico. Mas não para já.

Antes do E-Born, que será comercializado em 2021, a Cupra vai estrear o seu primeiro modelo original, o SUV Formentor, já em Setembro.

E este vai começar por ter a inevitável versão desportiva, com o eterno motor 2.0 TSI, agora com 310 cv, mantendo a tração às quatro rodas e a caixa de dupla embraiagem.

Formentor só híbrido

Para compensar este ligeiro embaraço, o Formentor terá também uma versão “Plug-In” mas nunca um elétrico. A plataforma que utiliza é a MQB, a mesma do Leon e do Ateca, que a VW já disse não ir voltar a ter uma versão elétrica.

Aliás, Griffiths afirmou que o Formentor poderá ter uma versão ainda mais potente, muito provavelmente uma variante mais desportiva do “Plug-in”.

A gama Cupra continuará a ter uma versão desportiva do novo Leon e uma atualização do Cupra Ateca, com uma nova transmissão integral e calibrações mais desportivas da direção e da suspensão adaptativa. A aceleração 0-100 km/h vai descer de 5,2 para 4,9 segundos.

Detalhes do El Born

Depois será então a vez do El-Born, apresentado como o primeiro desportivo elétrico do grupo VW. Usa a mesma plataforma MEB do ID.3 com a bateria mais potente de 77 kWh de capacidade útil.

Não foram anunciados muitos dados, apenas que a aceleração 0-50 km/h demora 2,9 segundos (0-100 km/h em 5,8 segundos ?…) e que, carregando a bateria num carregador rápido (supõe-se de 100 kW), consegue obter 260 km de autonomia em 30 minutos.

O estilo do concept-car original foi revisto, sobretudo na frente que ficou mais extrovertida.

O interior recebe bancos desportivos e volante com um botão para a escolha dos modos de condução, entre os quais está o habitual modo Cupra.

Cupra apenas elétrica?

Será o primeiro elétrico da Cupra, um casamento que Griffiths considera ser particularmente feliz. Veremos se isto quer dizer que a Cupra se tornará numa marca 100% elétrica. Provavelmente, sim.

O grupo VW anunciou um investimento de cinco mil milhões de euros, até 2025 para a Seat e Cupra, a ser canalizado para os elétricos, incluindo um centro de pesquisa e desenvolvimento, a instalar em Barcelona.

Mas o El-Born será fabricado, pelo menos para já, na fábrica alemã de Zwickau, a mesma que faz o ID.3 e tem a responsabilidade de arrancar a era elétrica do grupo.

Contudo, o investimento anunciado não deixa de ter algumas condições. Ao anunciar esta “montanha” de dinheiro, Griffiths sempre foi dizendo que espera colaboração do governo de Espanha.

O que falta a Espanha?

Griffiths apontou a falta de um plano do governo para os automóveis elétricos, a necessidade de fazer crescer a rede de carregadores públicos e de apostar mais nas energias renováveis. O que falta a (quase) todos.

Concluiu dizendo que a Espanha, nesta área, está a avançar mais lentamente do que os países do Norte da Europa. Mas quem não está?…

Conclusão

Tal como está a acontecer um pouco por todo o lado, também em Espanha se assiste a uma negociação dura entre um construtor de automóveis e o Estado para a transferência energética.

Os primeiros querem incentivos e ajudas, os segundos querem assegurar o futuro do emprego. Como em tudo na vida, é uma questão de compromisso.

Francisco Mota

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