3/2/2023. A organização do salão automóvel de Genebra anunciou esta semana que o certame vai voltar em 2024, depois de quatro edições canceladas. Mas há um “se” muito grande que continua a pairar sobre a Palexpo.

 

Já tinha bilhete comprado para o voo Lisboa-Genebra no início de 2020, quando foi dada a notícia de que o salão automóvel, a acabar de ser montado, afinal não se iria realizar.

A decisão tornou-se inevitável à medida que o dia de abertura se aproximava: a pandemia não deu às autoridades outra opção que não fosse o cancelamento.

A companhia aérea devolveu-me o custo do bilhete, mas as marcas que preparavam os seus “stands” no certame mais apreciado da Europa, não tiveram tanta sorte na limitação dos danos.

Os prejuízos foram de tal ordem que colocaram imediatamente de parte a hipótese de se fazer a edição de 2021, com ou sem pandemia.

Salão de Genebra no Catar

Até 2023, não mais foi possível reunir interesse suficiente das marcas para que o GIMS (Geneva International Motor Show) pudesse voltar a abrir as portas dos pavilhões da Palexpo.

Mas, esta semana, a organização veio anunciar que vai haver salão de Genebra em 2024, coisa que já ninguém esperava, sobretudo porque o GIMS, tinha já anunciado outro rumo.

Em Outubro, vão ser abertas as portas em Doha, no Catar, ao Salão de Genebra… do Catar. Pode ser confuso, mas não é verdade que o rali Dakar também já andou pela América do Sul antes de ter chegado à Arábia Saudita?…

Genebra em Genebra

O regresso do salão de Genebra a Genebra está marcado para 26 de Fevereiro a 3 de Março de 2024. Mas isso é apenas uma data na agenda. A edição de 2023 também esteve marcada, mas foi cancelada em Agosto passado. Não tenciono reservar viagem para já…

A concretizar-se, o regresso do salão de Genebra terá de se fazer de uma maneira muito diferente do passado. A fórmula que nasceu há mais de 100 anos e pouco evoluiu, já não serve.

A crise já vinha de trás

É bom não esquecer que a edição de 2019 já tinha registado um conjunto considerável de ausências entre as marcas de automóveis. A crise dos salões já vem de trás e continua, como se viu nas mais recentes e paupérrimas edições do salão IAA em Munique e do Mondial de L’Automobile, em Paris.

Os responsáveis do GIMS dizem que vão fazer um esforço para reinventar o salão de Genebra, abrindo-o às novas tecnologias e não apenas aos automóveis, numa tentativa de seguir a fórmula do CES (Consumer Electronics Show) de Las Vegas, que algumas marcas de automóveis já adotaram como o seu favorito.

Promessas, promessas…

Dizem também que vão diminuir os custos de participação das marcas, sugerindo que os construtores não devem investir tanto nos seus stands e dando a entender que podem baixar os preços das inscrições. Também afirmam que se contentam com um salão mais pequeno, mesmo se Genebra nunca foi propriamente grande.

Até admitem que o salão de Genebra abra uma vertente de venda direta ao público, como acontece, por exemplo, com o salão de Bruxelas e como, dizem, vai acontecer também com o salão de Genebra no Qatar.

Afirmam que preferem a qualidade à quantidade, é a chamada fuga para a frente, mas não estou a ver como é que essa intenção se compatibiliza com a redução de custos.

E querem ainda que o salão de Genebra tenha “um tema”, que não seja apenas uma exposição de carros. Mas isso não é nada de novo. Temas, pelo menos escritos nos cartazes de promoção, há muito que existem.

O que dizem as marcas

Para já, as marcas nada dizem. A organização do GIMS diz que está em contacto com os construtores e sente-se otimista, mas também realista, admitindo que “não fará um salão com duas marcas”.

A palavra final caberá às marcas, como é óbvio. Por mais voltas que se dê ao texto, um salão automóvel só poderá ser duas coisas: marketing, com um retorno cada vez mais incerto, que levou algumas a desistir antes de 2020.

Ou uma “feira” de vendas, talvez inserida num “festival” do automóvel, como está planeado para o GIMS Catar, organizado na mesma altura do GP de Fórmula 1. E que vai contar com paradas de supercarros, demonstrações de TT e não só.

Conclusão

O Salão de Genebra vai voltar em 2024 se – e é um grande “se” – as marcas assim o quiserem. Por mais nostalgia que possa ser vertida sobre o assunto, no final as contas são simples de fazer: qual a relação entre investimento e retorno?

Francisco Mota

Ler também, seguindo o LINK:

Genebra 2020: imagens incríveis de um salão fantasma