Protótipo do Renault 5 elétrico

Teaser do novo Mitsubishi ASX híbrido

Teaser do novo Nissan Micra elétrico

A Aliança renasce com o novo plano

28/1/2022. Depois do escândalo Ghosn em 2018, o futuro da Aliança Renault/Nissan/Mitsubishi esteve por um fio. Mas agora parece que já estão todos de mãos dadas e até apresentaram um plano para o futuro.

 

18 de Novembro de 2018. Carlos Ghosn regressava ao Japão de uma viajem de negócios e foi preso de surpresa. Estava acusado de más-práticas na Nissan, coisa que sempre negou até que conseguiu fugir do país um ano depois, numa cena digna do 007.

A cotação em bolsa da Renault e da Nissan cairam e a Aliança pareceu estar gravemente em risco. Ghosn estava prestes a tornar a Aliança numa fusão, mas os quadros superiores dos dois grupos japoneses viam com maus olhos a consequente perda de poder.

Ghosn acusou os dirigentes japoneses de traição e de terem pressionado a polícia e a justiça japonesa a agir contra ele. Até hoje, nada foi provado.

À beira do divórcio

A verdade é que a fusão entre os três grupos não se fez, a entrada da FCA também não aconteceu e as relações entre as três marcas esfriaram. Ghosn era o cimento que mantinha unida a Aliança. Sem ele, o “casamento” parecia destinado ao divórcio.

Demorou algum tempo até que, em meados de 2020, os dirigentes máximos da Aliança percebessem a dimensão do desperdício que seria não aproveitar as vantagens de fazer parte de um dos maiores grupos da indústria automóvel mundial.

Um novo acordo foi assinado em 2020, para salvar a Aliança do divórcio

Um novo acordo foi assinado e começou o trabalho de reconstrução da Aliança. Os resultados deste trabalho foram apresentados esta semana sob a forma de um plano que define um novo modelo de negócio e a que foi dado o nome de Aliança 2030.

Um plano com pés e cabeça

O plano é muito completo, mas é resumido pela Aliança em duas prioridades: “aumentar a cadeia de valor e investir na mobilidade 100% elétrica, inteligente e conectada”. O que significa isto?

Aumentar as sinergias, diminuindo os custos para as três marcas envolvidas é o objetivo habitual, que, numa altura de transição como a que vivemos, ganha ainda mais importância.

Com os atrasos dos últimos anos, a Aliança perdeu tempo na redução do número de plataformas e na sua partilha. Neste momento apenas são partilhadas 60% das utilizadas, mas o objetivo é chegar às 80% em 2026.

Cinco novas plataformas EV

São cinco as plataformas 100% elétricas que vão ser usadas para 90% dos 35 modelos que a Aliança tem previsto lançar até 2030, num investimento de 23 milhões de euros: CMF-A EV (Dacia Spring), Kei-EV (micro-carros japoneses), LCV-EV (comerciais ligeiros), CMF-EV (Megane EV e Ariya) e CMF-BEV (R5 e Micra).

De todas estas, a mais importante é a CMF-EV, que vai estrear já este ano com o Megane elétrico e que será usada para mais 15 modelos até 2030, prevendo-se que sirva para 1,5 milhões de carros por ano.

A plataforma do R5 elétrico vai servir para o novo Micra elétrico

A CMF-BEV será a base para o R5 elétrico e para o sucessor elétrico do Micra, já confirmado, esperando-se que atinja as 250 000 unidades por ano.

Nova filosofia

Para que os modelos não pareçam todos iguais, estão definidas as áreas de diferenciação, que são as habituais: estilo exterior e desenho do habitáculo. Nada de novo, neste campo.

A novidade vem ao nível da operação e da gestão de recursos. Vai ser implementada uma filosofia de “leader-follower” em que uma marca fica encarregue de desenvolver uma tecnologia específica, e as outras limitam-se a utilizá-la, quando pronta.

Foram dados dois exemplos. A Renault vai ficar encarregue de desenvolver uma plataforma elétrica e eletrónica para ser empregue em todos os automóveis. A Aliança não quer depender do exterior nem para o hardware, nem para o software.

É esperado que já em 2025 seja lançado no mercado o primeiro automóvel 100% definido por software.

O papel da Nissan

Outro exemplo é o desenvolvimento das famigeradas baterias de eletrólito sólido, que ficam responsabilidade da Nissan. São esperadas em 2028, com grandes evoluções como a duplicação da densidade energética e a redução a um terço do tempo de recarga. Além da redução de custo que levará à paridade de custos com os automóveis térmicos.

A Mitsubishi vai lançar na Europa modelos com base no Renault Captur (ASX) e Clio

Neste distribuição de tarefas, a Mitsubishi parece ter ficado de fora, por agora. Os seus planos imediatos passam pelo lançamento na Europa de modelos feitos com base no Captur (novo ASX) e no Clio.

Baterias, conetividade…

A Aliança anunciou também que persegue a independência em termos de produção de baterias, prevendo que em 2030 seja capaz de fabricar o equivalente a 220 GWh por ano, com descida de 65% nos custos.

A conetividade é assunto que a Aliança também tem como prioridade. Por exemplo, espera que dentro de quatro anos, 25 milhões dos automóveis produzidos estejam ligados à sua “cloud”, transmitindo e recebendo dados e atualizações e abrindo novas áreas de negócio no meio digital.

A parceria com a Google, que começou com o novo Megane Elétrico, é para ser estendida à maioria dos seus modelos. E também há um novo acordo com a Ionity, para baixar preços de carregamentos rápidos. Se bem que a Aliança esteja a trabalhar nas suas próprias soluções integradas de mobilidade e carregamento, nomeadamente com a marca Mobilize.

Conclusão

Com 22 anos de idade, a Aliança Renault/Nissan a que depois se juntou a Mitsubishi acumula mais de um milhão de veículos elétricos construídos até hoje, que percorreram 30 mil milhões de quilómetros. Acumulando um volume de informação gigantesco.  A Aliança garante que vai cumprir o objetivo da neutralidade carbónica em 2050. Depois dos desentendimentos, os três grupos da Aliança – Renault Group, Nissan Motor Company e Mitsubishi Motors Corporation – parece terem feito as pazes, com óbvios benefícios para todos.

Francisco Mota

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