18/3/2022 – A Agência Internacional de Energia divulgou hoje um plano de dez pontos para fazer face aquela que estima vir a ser a maior crise energética das últimas décadas, como resultado da guerra na Ucrânia. Uma das medidas é reduzir em 10 km/h a velocidade nas autoestradas.

 

A Agência Internacional de Energia (AIE) não tem dúvidas de que a redução da produção de petróleo oriundo da Rússia, como resultado da guerra na Ucrânia, poderá criar a maior crise energética das últimas décadas.

Para minorar os efeitos da continua subida do preço dos combustíveis e de possíveis falhas no abastecimento que podem levar ao seu racionamento, a AIE propõe uma lista de dez medidas que, segundo a agência, podem levar a uma descida na procura de derivados do petróleo, redução de receitas para a Rússia e minorar os efeitos na economia.

A primeira das medidas propostas é uma redução de 10 km/h na velocidade máxima nas autoestradas, tanto para veículos de passageiros como para pesados, em todos os países ocidentais.

Poupança pode chegar aos 18%, mas…

Segundo um estudo divulgado em 2020 pela Agência Europeia do Ambiente (AEA), uma redução deste tipo poderá levar a uma diminuição no consumo de combustíveis entre os 12% e os 18%, respetivamente para veículos com motor a gasóleo e a gasolina.

Caso o nível de incumprimento se mantenha igual ao atual, a poupança não passa de 2 a 3%

Mas a própria AEA admitiu que essa redução só acontecerá se todos os automobilistas cumprirem a redução de velocidade. Caso o nível de incumprimento se mantenha igual ao atual, a poupança de combustível não passa dos 2 a 3%.

A AIE garante que, se a sua proposta de 10 medidas for implementada, será possível reduzir significativamente a dependência da sociedade ocidental dos derivados de petróleo.

Quanto se vai poupar em petróleo?

As estimativas indicam uma poupança de 2,7 milhões de barris de petróleo por dia, o equivalente ao consumo diário de todos os automóveis a circular na China. E bastariam quatro meses para pôr tudo a funcionar, diz a AIE, mesmo a tempo de contrariar o pico sazonal de consumo de combustíveis, em Julho e Agosto, devido às viagens de férias.

Segundo a agência, esta seria também uma oportunidade de colocar já as economias a depender menos do petróleo, convergindo para os objetivos de neutralidade carbónica estabelecidos para 2050.

Os transportes rodoviários são os principais consumidores de derivados de petróleo

A AIE definiu o seu plano de dez medidas a partir do dado que são os transportes os principais consumidores de derivados do petróleo, por isso as medidas incidem no transporte de bens e de pessoas.

Este dado está de acordo com os estudos da AEA, quando afirma que 94% das emissões de CO2 têm o transporte rodoviário como origem, sabendo-se que há uma relação direta entre consumo de combustíveis e emissões de CO2.

Segundo a WLTP, um carro que emita 95 g CO2/km consome cerca de 4,0 l/100 km de combustível, se for a gasolina; ou 3,7 litros/100 km, se for a gasóleo.

Mundo ocidental

A AIE afirma que praticamente metade do consumo de derivados do petróleo em todo o mundo acontece nos países mais desenvolvidos, por isso devem ser estes a tomar as medidas que aconselha.

“Seria também uma maneira de mostrar solidariedade com a Ucrânica”, já comentaram alguns políticos, numa referência à diminuição da dependência energética de alguns países europeus em relação ao petróleo da Rússia.

A AIE lembra também no seu comunicado que a redução da dependência do petróleo significa benefícios em termos de poluição para todo o planeta e que nem todas as medidas têm que ser impostas pelos governos de cada país: “algumas podem partir da iniciativa de cada cidadão.”

Não deixa de ser irónico que volte a ser o limite de velocidade nas autoestradas a estar em causa, em mais uma crise energética, depois de o mesmo ter sido feito nos anos setenta.

As 10 medidas da AIE

Mas vejamos quais são as 10 medidas de emergência para reduzir a dependência do petróleo e os seus efeitos diretos na redução do consumo de barris de petróleo.

1 – Redução de 10 km/h na velocidade máxima nas autoestradas

Reduz o consumo de petróleo em 290 mil barris por dia, para os automóveis ligeiros e 140 mil, para os camiões

2 – Tele-trabalho durante três dias por semana

Reduz o consumo de petróleo em 500 mil barris por dia

3 – Domingos sem carros nas cidades

Um dia, poupa 95 mil barris de petróleo, quatro dias poupam 380 mil barris

4 – Reduzir preço dos transportes públicos e incentivar andar a pé e de bicicleta

Poupa 330 mil barris de petróleo por dia

5 – Acesso alternado de carros nas grandes cidades

Matrículas terminadas em números pares, num dia e ímpares, no seguinte. Poupa 210 mil barris por dia

6 – Partilhar o automóvel e adoptar condução económica

Poupa 470 mil barris de petróleo por dia

7 – Condução e percursos mais eficientes para camiões e distribuição

Poupa 320 mil barris de petróleo por dia

8 – Usar comboios noturnos e de alta velocidade, em vez de aviões

Poupa 40 mil barris de petróleo por dia

9 – Evitar viagens de trabalho de avião, se houver alternativas

Poupa 260 mil barris de petróleo por dia

10 – Reforçar o uso de veículos elétricos e mais eficientes

Poupa 100 mil barris de petróleo por dia

Conclusão

A AIE diz que todas estas medidas são de fácil implementação e que todas já foram testadas em vários países e regiões. Mas são medidas que só resultam com a colaboração de todos. Por isso a onda de solidariedade teria que chegar também à mobilidade de pessoas e bens.

Francisco Mota

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