16/1/2021. A Renault apresentou o plano para os próximos anos, que passa pelo reforço da eletrificação, mas não só. Hidrogénio, um R5 elétrico e muito mais formam o novo dicionário da marca.

 

Os resultados da Renault não têm sido famosos nos últimos tempos. As quebras de vendas em 2020 chegaram a andar pela casa dos trinta por cento e a “culpa” não foi toda da Covid-19. O fabricante com 120 anos de história teve mesmo que fazer cinco mil despedimentos em França. Não chegou a fechar fábricas, porque o Estado Francês, accionista do Grupo Renault, deu uma ajuda decisiva.

Mas as coisas não se resolvem sem um plano que traga uma nova vitalidade à empresa, ou pelo menos é isso que pensa a administração e o Presidente Macron, que deu ordem para que a Renault e a França se transformem nos líderes em tudo o que tem a ver com energias limpas e veículos “verdes”, na Europa.

Só que estes assuntos não se resolvem por decreto, por isso teve que ser feito um plano estratégico, sob a liderança do novo CEO do Grupo Renault, Luca di Meo, um italiano que já passou pelo Grupo VW, Grupo Fiat, Toyota e a própria Renault, que foi por onde começou a sua carreira.

Como seria de esperar, o plano divide-se em várias áreas e quase tudo aquilo em que toca recebeu um nome “fabricado” pelos especialistas de marketing da marca francesa.

O dicionário da Renault

Por entre tantas sub-marcas e novos conceitos, tentei organizar a informação de uma forma que se compreenda. E nasceu assim o “Dicionário da Renault para sair da crise”:

Renaulution – mistura entre Renault e “revolution”, é a principal marca deste plano estratégico, que visa a evolução do construtor segundo três pilares: transformar a Renault numa marca tecnológica, numa marca de serviços de mobilidade e numa marca de energias limpas.

Nouvelle Vague – expressão recuperada da história francesa para assinalar uma mudança de paradigma. No caso da Renault acaba por servir para reforçar a Renaulution e pouco mais.

Electro Pôle – Polo industrial dedicado à fabricação de modelos elétricos a construir no Norte de França. Foi uma das exigências do Presidente Macron.

Software République – segundo a Renault trata-se de “um ecossistema aberto dedicado ao software, aos dados, à cibersegurança e à microeletrónica”. Na prática, trata-se de um conceito que pretende fornecer serviços conectados aos modelos da marca. Será também uma maneira de gerar “novas oportunidades comerciais ligadas ao ciclo de vida dos automóveis.”

My Link – Em 2022, os modelos da marca vão receber um novo sistema de infotainment que terá a grande novidade de trazer o Google integrado, aquilo a que se chama o Google “built-in”. A Renault afirma que será a primeira marca de grande produção a ter este argumento.

Re-Factory – Na antiga fábrica de Flins a marca está a implementar um projeto de economia circular para “quebrar o ciclo consumista” segundo a Renault. Aqui vão ser recondicionados 100 000 automóveis usados por ano, sendo feita a conversão de versões Diesel para motorizações elétricas ou biogaz. Além disso, será feita a reciclagem de baterias de veículos elétricos.

Mobilize – Uma marca de serviços que começam pelo “car sharing” mas que vai incluir outras áreas como a mobilidade de curto alcance, financiamento e subscrição de veículos e serviços. Vão ser desenvolvidos softwares e hardwares, como o EZ-1 Ptototype, uma espécie de evolução do elétrico Twizy.

R5 Prototype – Tinha que haver uma cereja no topo do bolo desta apresentação do plano da Renault. E chegou na forma de um previsível concept-car elétrico acerca do qual poucos detalhes foram anunciados. Poderá não ser um sucessor do Zoe, mas um segundo modelo elétrico na gama. Mais importante que tudo isso é o desenho, que se inspira no antigo R5, mais precisamente no Super 5. Para uma marca que fez do estilo futurista dos seus automóveis uma imagem de marca, esta cedência à nostalgia é inesperada. A “culpa” é de Gilles Vidal, o chefe de estilo que foi “roubado” à Peugeot, onde já tinha feito a mesma “gracinha” com o E-Legend, uma recriação do antigo Peugeot 504 coupé.

Hidrogénio – Não é uma marca, mas a Renault vincula-se ao desenvolvimento de veículos “fuel cell”, sobretudo vocacionadas para aplicações em comerciais ligeiros. É uma maneira de não colocar todas as fichas no mesmo número.

CMF EV e CMF-B EV – As duas novas plataformas eletrificadas da Renault, que vão servir para os futuros modelos híbridos, “plug-in” e elétricos, sobretudo focados nos segmentos B e C.

Futuro verde – Até 2025, serão lançados 14 novos modelos, sete deles vão ser modelos 100% elétricos e os outros sete vão ser electrificados, ou seja, híbridos ou “plug-in”. O foco será nos segmentos C e D, e o objetivo é que estes modelos maiores e mais caros representes 45% das vendas até final desse ano. A Renault é líder europeia nos veículos elétricos e quer capitalizar numa experiência com mais de 10 anos e 300 000 veículos elétricos vendidos.

Conclusão

Qual será o resultado de todas estas medidas? Será que todas estas medidas vão mesmo para a frente? A Renault está numa posição complicada, que se tornou pior desde a queda de Carlos Goshn, o carismático líder da Aliança Renault/Nissan/Mitsubishi. É a altura do “vai ou racha”.

Francisco Mota

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