15/7/2022. Até ao final de 2021, a Tesla era o maior construtor mundial de carros elétricos, mas foi destronada no primeiro semestre de 2022. Saiba como isso foi possível, vindo de uma marca de que, provavelmente, nunca ouviu falar.

 

Pergunte a qualquer pessoa minimamente interessada em automóveis qual é a marca líder entre os elétricos e a resposta vai ser só uma: a Tesla. Isso era verdade até ao final de 2021, mas o mercado dos elétricos está a mudar a cada dia que passa.

A verdade é que temos um novo líder de vendas mundiais de automóveis elétricos, contabilizando os números do primeiro semestre de 2022. Sem surpresa, trata-se de um construtor chinês, de que, provavelmente nunca ouviu falar: BYD.

A sigla BYD significa “Build Your Dreams” e bem se pode dizer que o grupo chinês está a construir sonhos, ao bater a Tesla, e sem precisar de ser uma “start up”.

As dificuldades da Tesla

Feitas as contas à primeira metade deste ano, a Tesla vendeu 564 000 carros, enquanto que, no mesmo semestre, a BYD vendeu 641 000 carros elétricos, numa subida de uns colossais 300%, face às suas vendas em igual período do ano anterior.

Porém, os números da BYD são fornecidos de acordo com a classificação de veículos de zero emissões, segundo as regras da China, que incluem não só os veículos 100% elétricos, mas também os híbridos “plug-in”.

Ninguém sabe se esta nova hierarquia é sustentável nos próximos meses, por vários motivos. Do lado da Tesla, o desempenho podia ter sido melhor não fossem as dificuldades com os fornecedores, em parte como resultado da guerra na Ucrânia.

O “lockdown” da China devido ao Covid-19 trouxe problemas à Tesla

O fecho da economia chinesa, devido ao Covid-19 também afetou seriamente o funcionamento da fábrica da Tesla em Shangai, na China, tanto em termos de fornecedores como de escoamento de carros produzidos. A BYD, sediada noutra região da China, terá sido menos afetada por estas restrições.

Como a BYD subiu a Nº1

Parte do sucesso da BYD justifica-se pelas leis em vigor na China. O governo decidiu impor aos construtores domésticos uma quota mínima de produção de carros elétricos, por ano, fazendo crescer a produção.

As exportações acompanharam o crescimento, com mais de meio milhão de carros elétricos a sair da China em 2021, o dobro de 2020. Se bem que apenas 2% dessas exportações tenham sido de carros com marcas chinesas.

O “grosso” do volume foi feito com modelos de marcas estrangeiras, fabricadas no país, como a própria Tesla (metade das exportações) ou Volvo, detida pelos chineses da Geely. Mas o governo chinês não se fica por aqui.

Um elétrico por $4300

Há leis para obrigar os construtores a vender carros elétricos a preços baixos, de modo a que mais compradores os possam adquirir. Por exemplo o Hongguang Mini, que foi o carro elétrico mais vendido do mundo em 2021, custa apenas $4300.

A BYD tem uma larga gama de modelos elétricos, que começam com o Dolphin, a custar $15 000, depois de contabilizados os subsídios estatais à compra.

Os BYD elétricos geram só 2% de margem, contra os 12% da Tesla

Mas, claro, o grande problema são as margens de lucro. Enquanto os elétricos da BYD geram 2% de margem, os modelos da Tesla andam perto dos 12%, segundo o Finantial Times.

Como A BYD chegou a Nº1

Com estas margens e com as progressivas quebras nos incentivos estatais, em todos os mercados, negócios como o da BYD não parece terem sustentabilidade a curto prazo. Não é credível que ganhem volume suficientemente depressa para se poderem alimentar de margens tão curtas.

É verdade que a BYD tem estado a aumentar os preços dos seus carros elétricos nos últimos meses, como reação à crise de matérias primas resultante da guerra na Ucrânia. Mas isso não é uma medida estrutural.

Contudo, é verdade que a China domina a produção de baterias de iões de Lítio para carros elétricos e não é de descartar que apareçam novas medidas protecionistas aos fabricantes locais.

A BYD na Europa este ano

E a verdade é que a BYD está em expansão para outros mercados, tendo o Japão e o sudeste asiático como próximos alvos, mercados onde carros elétricos de baixo custo têm muita procura. Mas não só.

Os EUA são também um objetivo para a expansão da BYD e nunca se sabe com que tipo de apoios vão poder contar, do lado do estado chinês. E, claro, a Europa é sempre um alvo para qualquer marca.

Este verão a BYD vai apresentar o seu plano para a Europa

Para o final do próximo mês de Agosto está agendada uma conferência de imprensa da BYD em Amesterdão para a apresentação dos planos de expansão da marca na Europa.

Nessa altura vamos ficar a saber também se a Kia e a VW, segunda e terceira marcas que mais vendem elétricos na Europa, a seguir à Tesla, vão ter razões para se preocupar.

Conclusão

Até agora, a atenção dos construtores chineses de automóveis elétricos tem estado centrada no mercado doméstico, o maior do mundo para este (e qualquer…) tipo de carros. Mas a sua política de expansão poderá marcar uma mudança radical no cenário que hoje conhecemos. E, se isso acontecer, não vai ser só a Tesla a ter motivos de preocupação.

Francisco Mota

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