14/1/2022. O anúncio da criação da empresa Aurora em Portugal, para a conversão de Lítio com destino a baterias de carros elétricos, pode colocar o nosso país na liderança a nível europeu. Depois de tantos anos a suspirar pelo petróleo, será desta que nos sai o “jackpot”?

 

Várias gerações de portugueses fomos criados a ouvir dizer que “Portugal tem petróleo, só falta ser encontrado”. Era uma das notícias que mais puxavam pela imaginação de muitos: com petróleo, o país ia dar o salto e ficávamos todos ricos.

Nunca aconteceu, apesar das múltiplas prospeções feitas em terra e no “nosso” mar. As notícias começavam e acabavam sempre da mesma maneira: sim, há petróleo, mas ou a sua quantidade é reduzida ou está a uma grande profundidade.

Ou seja, a sua extração não era rentável e o sonho esfumava-se consecutivamente. A Galp nunca conseguiu tornar esse sonho realidade, pelo menos no território nacional, mas talvez as coisas estejam a mudar.

Petróleo maldito…

Nos tempos que correm, o petróleo tornou-se numa matéria-prima maldita. A questão do CO2 e da poluição torna-o num mal necessário para muitos países e nós, afinal, temos a “sorte” de não ter petróleo. Não somos assim “obrigados” a fazer a sua exploração, como acontece a alguns “infelizes” países.

A Galp associou-se à sueca Northvolt para formar a Aurora

Mas, com a transição energética em curso, o novo “ouro negro” é o Lítio, essencial para a fabricação das baterias dos automóveis elétricos. E, pasme-se, Portugal tem Lítio para ser extraído do solo.

A oportunidade de negócio não escapou à Galp, que se associou á sueca Northvolt e criou a empresa de conversão de Lítio, Aurora. Uma joint-venture com 50% do capital para cada empresa.

Aurora vem para Portugal

O objetivo é extrair Lítio e depois fazer a sua conversão, obtendo hidróxido de Lítio que será fornecido a fábricas de baterias para automóveis elétricos. A Northvolt, que começou recentemente a fabricar estas baterias, vai ficar com 50% da produção da Aurora, o resto será vendido a quem quiser comprar.

A Galp diz que a Aurora será a “maior e mais sustentável fábrica de conversão de Lítio da Europa” quando começar a funcionar em 2026. Isto para tirar já da conversa os vídeos de extração de Lítio na América do Sul, que mostram condições de trabalho sub-humanas.

Claro que nada disso seria possível na Europa, a Aurora prevê a criação de 1500 postos de trabalho diretos e indiretos e um investimento inicial de 700 milhões de euros. Um dos maiores investimentos em Portugal, nos últimos anos.

Onde está o Lítio?

Portugal tem Lítio. Estão identificadas nove locais onde é viável a extração deste minério, todos na região centro e norte do país, acima de Castelo Branco.

Há nove locais em Portugal para se extrair Lítio do solo

Os locais são conhecidos de quem estudou o assunto e foram divulgados: Serra de Arga, Barroso-Alvão, Seixoso-Vieiros, Almendra, Barca de Alva-Escalhão, Massueime, Guarda, Argemela e Segura.

Mas a Aurora foi dimensionada para converter 35 000 toneladas de hidróxido de Lítio, por isso vai recorrer também à importação de matéria-prima. Ainda não se sabe de onde.

Para onde vai a fábrica?

Também ainda não se sabe exatamente onde será instalada a fábrica. Estando vários locais do país em estudo. Sines terá sido uma opção, mas a Galp e Northvolt terão outros planos para essa região. Outras opções localizam-se no Norte, como é lógico.

A extinta refinaria de Matosinhos chegou a ser aventada como hipótese, rapidamente afastada pela presidência da câmara e pela própria Galp. Até 2023, este assunto terá que estar resolvido. O Governo gostava que fosse o mais para o interior possível, mas não lhe cabe a decisão.

700 000 carros por ano

O que já se sabe são os grandes números desta unidade industrial de hidróxido de Lítio. A produção será suficiente para fabricar o equivalente a 50 GWh de capacidade de baterias por ano.

Os seja, o necessário para fabricar 700 000 carros elétricos, por ano. Tendo em conta que se perspectiva um crescimento da procura dez vezes mais alto até ao final da década, é realmente uma oportunidade para Portugal e para a Europa.

A Europa poderá depender menos de outras regiões, como a China

Fábricas deste tipo vão servir para que a Europa deixe de depender tanto de outras regiões do globo, no que à produção de células de baterias diz respeito. Nomeadamente da China.

Conclusão

Ao fim de tantos anos a sonhar com petróleo, parece que finalmente Portugal poderá ter encontrado o seu equivalente moderno, na forma do minério Lítio. Para a Galp é também uma oportunidade histórica de se posicionar neste negócio e de acelerar a planeada descarbonização da empresa. Só é pena a Galp já ter pouco de português.

Francisco Mota

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