2/9/2022. As vendas dos carros 100% elétricos continuam a subir, mas as dos “plug-in” estão em queda livre. Será o princípio do fim para esta tecnologia, rotulada por muitos como uma solução de transição? Vejamos os números…

 

O primeiro semestre de 2022 fechou com números de vendas muito favoráveis para os carros 100% elétricos. Só em Julho deste ano subiram 19%, em relação a Julho de 2021 e já representam 12% de “share” nas vendas totais da Europa, com 770 000 unidades vendidas no primeiro semestre.

De Janeiro a Julho, o campeão de vendas de elétricos na Europa foi o Tesla Model Y (47 003) seguido pelo Tesla Model 3 (40 679) e pelo Fiat 500 Electric (38 213).

Mas o carro italiano liderou as vendas em Julho (5053) num mês em que a Tesla teve dificuldades de produção e distribuição e não conseguiu entrar no Top 10 das vendas de elétricos na Europa.

A seguir ao Fiat 500 Electric, nas vendas de Julho, ficaram o VW ID.4 (4889), o Skoda Enyaq iV (4654), o VW ID.3 (3697) e o Renault Megane E-Tech Electric (3549).

“Plug-in” a descer

Se os 100% elétricos continuam a crescer, com mais 19% de vendas em Julho de 2022, comparando com igual período do ano passado, já a trajetória dos “plug-in” vai em sentido contrário.

No mês de Julho, a queda de vendas dos PHEV na Europa foi de 25%, face a igual período do ano passado, dados dos especialistas da “EV Volumes”.

O Hyunday Tucson PHEV foi o “plug-in” mais vendido na Europa em Julho, com apenas 2608 unidades entregues, pouco mais de metade das vendas do Fiat 500 Electric no mesmo período.

Tecnologia de transição

Esta queda nas vendas dos “plug-in” terá várias explicações, a principal delas será a redução, ou fim, dos incentivos fiscais de que estão a ser alvo em vários mercados da Europa.

Desde o início que os PHEV foram encarados como uma tecnologia de transição. Transição para os compradores, que assim se começavam a habituar a carregar a bateria e a andar em modo 100% elétrico durante algumas dezenas de quilómetros.

Os incentivos fiscais foram uma ajuda indireta aos construtores de híbridos “plug-in”

Mas também uma transição para os construtores, que, através do incentivos fiscais tinham uma ajuda indireta dos governos para continuar a vender carros com motores de combustão interna (mais um motor elétrico e uma bateria…) conseguindo assim financiar o desenvolvimento de modelos 100% elétricos.

Utilizadores deram o pretexto

Sem incentivos fiscais, os PHEV não são rentáveis para os construtores, nem para as frotas que os passaram a adquirir em vez de modelos com motor Diesel. Uma das razões para a descida de interesse.

Mas talvez os utilizadores de modelos “plug-in” também tenham dado o pretexto de que a classe política precisava para acabar com as ajudas. Isso fica patente num estudo do “The International Council on Clean Transportation”, um organismo independente.

De acordo com dados recolhidos junto de 9000 utilizadores de carros “plug-in”, eles apenas fazem condução em modo 100% elétrico em 49% do tempo em que guiam os seus carros.

Mas este valor refere-se a compradores privados, que adquiriram o seu próprio PHEV. Já no caso dos condutores que utilizam um carro fornecido pela empresa onde trabalham, esses apenas usam o modo elétrico em 15% do tempo.

As crises não ajudam…

É claro que a crise de semicondutores, que ainda não terminou, a crise logística e a crise de fornecimento de matérias primas continuam a ser fatores importantes que influenciam a descida nas vendas dos PHEV. Mas isso não explica a subida nas vendas dos 100% elétricos…

Na mente de muitos compradores, a transição energética é para ser feita diretamente dos carros com motor a combustão para os elétricos, desde que tenham capacidade financeira para o fazer. Aos olhos de muitos, os PHEV são apenas um compromisso.

Mas os construtores precisam de vender mais PHEV, para gerar fundos que lhes permitam abraçar a passagem para os 100% elétricos sem problemas graves de tesouraria. Ao contrário da Europa, na China as vendas de PHEV estão em crescimento, e isso talvez chegue para resolver esta equação.

Conclusão

A utilização de um “plug-in” por um condutor que não tenha as condições de carregamento ótimas – uma tomada (e uma garagem) para o deixar a carregar durante a noite – pode ser frustante. E mesmo que tenha essa facilidade, a autonomia da maioria dos PHEV ainda tem que aumentar. Os construtores precisam de tornar a tecnologia mais atrativa para os utilizadores, se não a querem ver morrer prematuramente.

Francisco Mota

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