5/2/2021. Elon Musk, o multi-milionário dono da Tesla, tem feito ataques duros ao Hidrogénio e aos veículos Fuel Cell. Mas afinal, por que razão a Tesla tem medo do Hidrogénio?

 

Todos conhecem o fenómeno Tesla. A empresa da Califórnia que nunca tinha feito um automóvel e que, em poucos anos, se tornou na marca de carros elétricos mais conhecida do mundo.

A Tesla investiu exclusivamente em carros elétricos, nada de híbridos, semi-híbridos, “plug-in” ou qualquer outra tecnologia. Uma bateria grande, um ou dois motores e o máximo de potência e de autonomia. Essa é a sua receita. E preços altos.

Elon Musk, o multi-milionário que comprou a Tesla quando os seus fundadores estavam na bancarrota, aproveitou um momento histórico na indústria automóvel, que se vê a braços com uma transição energética feita à força e deu um passo decisivo.

Pouco importa se a Tesla ganha dinheiro ou não em cada carro que vende. A sua cotação na Bolsa bate recordes, mesmo com volumes de produção muito baixos, comparados aos das maiores marcas do planeta.

O que irrita Elon Musk?

Mas algo começa a preocupar Elon Musk. Esse “algo” é o Hidrogénio, ou mais precisamente os carros movidos a Hidrogénio, os Fuel Cell.

A sua primeira reação a esta tecnologia foi de gozo: “que sentido faz pegar na eletricidade de origem renovável, usá-la para fazer a eletrólise da água, obter Hidrogénio, comprimi-lo, fazê-lo reagir com o Oxigénio, para libertar energia elétrica que depois é guardada numa bateria para fazer mover o motor elétrico de um automóvel?”

Musk conclui dizendo: “não é mais fácil pegar nessa eletricidade verde e usá-la diretamente num carro elétrico?…”

A lógica parece inatacável, mas só observa uma parte do problema. Os benefícios das Fuel Cell começam onde acabam os dos carros elétricos só com bateria.

Quem está nas Fuel Cell

Num carro elétrico, para se ter uma autonomia razoável num modelo maior, como por exemplo nos grandes SUV, é preciso montar uma bateria maior. O carro fica mais pesado e gasta mais eletricidade, por isso é preciso uma bateria ainda maior e entramos numa espiral.

É por isso que, construtores com largos anos de experiência nas Fuel Cell continuam a desenvolver o conceito. Casos da Toyota e da Hyundai, que estão à frente de todas as outras.

A Honda também entrou no jogo há algum tempo, tal como a Daimler, a Jaguar Land Rover e muitas outras que reservam a sua investigação aos laboratórios, sem a tornar pública, por enquanto.

Perfeito para os camiões

É também por isso que os fabricantes de camiões de longo curso estão cada vez mais interessados nas Fuel Cell, pois a relação entre o peso dos depósitos pressurizados de fibra de carbono que armazenam o Hidrogénio e a autonomia conseguida é muito mais favorável do que num sistema elétrico com bateria.

Com uma autonomia que está dependente apenas de montar mais um leve depósito de Hidrogénio, nem o reabastecimento é um problema, pois os camiões podem ter alcance suficiente para abastecer sempre no mesmo local.

Tenho o privilégio de ter guiado praticamente todos os Fuel Cell que chegaram à estrada nos últimos anos e posso confirmar que o tempo de reabastecimento é tão curto como atestar um depósito de gasóleo. Outra vantagem, face aos tempos de recarga das baterias.

O futuro dos Fuel Cell

O principal problema dos Fuel Cell ainda é o custo de produção do sistema, mas esse, como em tudo, vai inevitavelmente baixar quando os volumes de produção subirem e entrarem em cena os efeitos de escala. Como está a acontecer com os elétricos.

Então porque tem Elon Musk medo do Hidrogénio e dos Fuel Cell, ao ponto de o levar a classificá-los como “mind-bogglingly stupid”? A resposta vem dos especialistas no assunto que trabalham há anos nas Fuel Cell. Sobretudo os da Hyundai e da Toyota.

Para fazer um carro elétrico basta ter uma bateria, um motor elétrico e um inversor. Para fazer um carro com Fuel Cell, é preciso muito mais. Muito mais dinheiro e muito mais conhecimento.

Fica assim óbvio que Musk tem medo que os Fuel Cell sejam uma ameaça, a médio prazo, para os carros elétricos, sobretudo para os maiores e mais caros, segmentos em que a Tesla se tem movimentado até agora. É uma das razões pelas quais a Tesla tem cada vez mais pressa em entrar nos segmentos de carros mais pequenos e mais baratos.

Elétricos e Fuel Cell

Mas se está a pensar que o futuro são (exclusivamente) os carros com Fuel Cell, está provavelmente enganado. Dizem os especialistas que trabalham no assunto que o mais certo é que no futuro as duas tecnologias convivam durante algum tempo, o que pode durar décadas.

Para os carros mais leves e pequenos, as baterias com pouca autonomia vão ser a resposta certa, sobretudo quando os postos de abastecimento tiverem uma presença mais significativa nas ruas. Mas para carros maiores e para veículos pesados, as Fuel Cell parecem melhores.

Conclusão

Assim como os motores a gasolina e a gasóleo conviveram durante anos, cada um com os seus méritos – os primeiros bem adaptados a citadinos e os segundos para viagens mais longas – é muito provável que o mesmo aconteça com os elétricos e os Fuel Cell.

Francisco Mota

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