Paris criou 15 000 estacionamentos para trotinetes

Circular de trotinete no passeio dá multa, em Paris

Cidadãos revoltados atiraram trotinetes ao rio

7/5/2021. Paris queria estar na vanguarda das trotinetes elétricas, mas exagerou e teve que recuar. A mobilidade elétrica e partilhada foi disciplinada, num exemplo para outras cidades.

 

Estávamos em 2018 e Paris decidiu que queria saltar para a vanguarda da mobilidade sustentável, o mesmo é dizer, transporte individual, eletrificado e partilhado. Ou seja, trotinetes elétricas.

Na fúria política de querer ser líder neste tipo de transporte, deu licenças a novas empresas que apareceram como cogumelos para se aproveitarem da moda das trotinetes elétricas e partilhadas. Mas excedeu-se na dose, chegando a ter perto de duas dezenas de operadores a trabalhar na cidade.

De um dia para o outro, as charmosas ruas de Paris ficaram infestadas de trotinetes. As autoridades chegaram a contabilizar 20 000 destes veículos eletrificados de duas rodas a acelerar pelas ruas, pelos passeios, pelas passadeiras, por todo o lado.

Entre os inofensivos utilizadores recreativos e os civilizados“verdes”, não podiam deixar de aparecer os mais indisciplinados e agressivos.

Começaram os problemas

Começaram a surgir os casos de atropelamentos e de acidentes rodoviários envolvendo as trotinetes. E também a sua utilização sob o efeito do álcool, sem que a polícia conseguisse parar os condutores para os fazer “soprar para o balão”.

O outro problema foi o abandono de trotinetes em sítios inadequados, tornando-se em obstáculos perigosos à circulação de automóveis e peões: muitas foram parar ao Sena.

O curioso é que nem todas as que foram parar ao fundo do rio, para lá foram lançadas por utilizadores indisciplinados. Algumas foram despejadas por cidadãos fartos de as ver atravessadas às suas portas.

Centenas de trotinetes elétricas partilhadas têm sido “pescadas” por algumas das empresas que as alugam, que depois as enviam para a reciclagem, dizem.

Quase sem controlo

As trotinetes eletrificadas e partilhadas estão ao alcance de qualquer pessoa que tenha um smartphone e descarregue uma aplicação, não há controlo no acesso e a fiscalização tornava-se quase impossível, tendo em conta o volume de unidades a circular.

As autoridades perceberam o erro em que tinham caído, classificaram a situação de anárquica e tiveram que recuar. Revogaram a licença de exploração deste negócio a nada menos do que 12 empresas. Só ficaram três empresas a operar em Paris, limitadas a 5000 trotinetes, cada.

Cortar em 25% o volume de trotinetes eletrificadas e partilhadas foi o primeiro passo para pôr alguma ordem na sua utilização. A seguir vieram as novas regras, anunciadas já em 2021.

Medidas mais duras… e multas

As trotinetes passam a ter que cumprir o código da estrada, por isso têm que ter luz à frente e atrás, um refletor e buzina. Só podem circular em estradas que tenham limite de velocidade máximo de 50 km/h e em ciclovias. Usar os passeios dá multa de 135 euros.

Multas há várias. Quem for apanhado a levar um passageiro, leva uma de 135 euros. Só os maiores de 12 anos as podem guiar, abaixo disso levam 35 euros de multa.

É proibido usar auscultadores para ouvir música e só se podem estacionar nos lugares pagos dos automóveis (de graça) e nos 15 000 locais específicos pintados no chão pela câmara de Paris.

Multa máxima de 1500 euros

A maior multa vai para o excesso de velocidade: quem guiar uma trotinete acima dos 25 km/h, paga 1500 euros. De resto, a lei aconselha, mas não obriga, o uso de capacete, luvas e colete refletor. Fiscalizar tudo isto, não será fácil.

As trotinetes elétricas e partilhadas têm várias vantagens, como opção de mobilidade de curto alcance nas cidades. São mais rápidas que andar a pé, mais práticas do que guiar (e estacionar) um automóvel, mais baratas que um táxi e mais versáteis que o autocarro ou o metro.

Há estudos (há sempre estudos..) a garantir que a adoção alargada das trotinetes elétricas partilhadas poderia reduzir a trânsito de automóveis em 50% e as emissões poluentes em 30%.

Conclusão

Por esta altura, já não restam dúvidas que as trotinetes elétricas e partilhadas têm um papel na mobilidade urbana sustentável. Tal como as bicicletas e motociclos geridos da mesma forma. Mas, como em tudo, é preciso enquadrar a sua utilização. Não basta largar a ideia na rua e esperar que toda a gente tenha o melhor dos comportamentos. O caso de Paris é conhecido e poderia servir de exemplo para outras cidades.

Francisco Mota

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