Jean-Philippe Imparato o CEO

22/4/2022. Daqui a cinco anos, a Alfa Romeo só vai vender carros 100% elétricos. Como vão reagir os Alfistas, os adeptos da marca? Perguntei isso, e mais algumas coisas, ao CEO Jean-Phillipe Imparato e as suas respostas são reveladores do rumo que a marca está a tomar.

 

A data está decidida: a partir de 2027, a Alfa Romeo só vai vender modelos com propulsão elétrica. Acabam-se os quatro cilindros e os V6 turbo que fizeram a história recente da marca. Não é uma decisão que surpreenda, tendo em conta o posicionamento da marca.

A Alfa Romeo tem como missão ser a marca premium global da Stellantis, e vai ser a primeira a passar a sua gama para modelos exclusivamente elétricos e já em 2027, leu bem, daqui a cinco (5) anos já não vai ser possível comprar modelos da Alfa Romeo novos com motor de combustão.

A transição acelerada para a eletrificação é a solução lógica para uma marca que precisa de uma revolução, mais uma na sua história. Esperemos que seja a definitiva, pois o CEO do grupo Stellantis, Carlos Tavares, já deu um prazo de dez anos à marca para mostrar o que vale.

Alfa já dá lucro, mas…

Como é hábito em todas as marcas em que toca, Tavares também já colocou a Alfa Romeo a dar lucro. Mas é um lucro pequeno, pois o volume de vendas de 2021 foi de apenas 56 000 unidades. É preciso mais, muito mais.

Apesar de o CEO da Alfa Romeo, Jean-Philippe Imparato dizer que não tem pressão com o volume de produção, só tem com o lucro, também não deixou de admitir que a marca tem que crescer… e depressa.

“Todos gostam dos Alfa Romeo, mas ninguém os compra”

Quando tomou a liderança da Alfa Romeo, depois do excelente trabalho que fez na Peugeot, Imparato perguntou aos seus quadros superiores o que se passava com a marca e a resposta que teve foi muito direta: “todos gostam dos Alfa Romeo, mas ninguém os compra.”

As razões possíveis

Qual a razão para isso? Desde logo, a gama da marca não é suficiente, assente apenas em dois modelos, o Giulia e o Stelvio, ambos posicionados em segmentos que não são para todos. Para resolver o problema a curto prazo, vai chegar este ano o SUV Tonale, um rival do BMW X1.

Mas talvez o problema da marca não seja só esse. O estilo dos seus modelos, elogiado por todos, talvez seja também uma questão a considerar. A forte presença da gloriosa história da Alfa Romeo, no seu presente e na maneira como influencia o estilo dos seus modelos pode ser um entrave.

Alguns compradores de frotas, dos chamados carros de serviço, consideram o estilo da marca demasiado desportivo, demasiado chamativo. Um estilo que não se adequa a pessoas e empresas que preferem um postura mais discreta, mais alinhada com a maioria.

Um novo capítulo

Talvez aquilo de que a Alfa Romeo precise seja de um novo capítulo, novos clientes, que não tenham a história da marca tão presente e de um estilo menos original para os seus modelos.

Claro que a desvalorização também tem jogado contra os produtos da Alfa Romeo, mesmo se as questões de fiabilidade há muito deixaram de ser um problema recorrente. Mas a marca está a apostar nos certificados digitais NFT, para garantir o histórico de cada unidade produzida e assistida oficialmente.

A eletrificação é inevitável e tratar desse assunto o mais depressa possível talvez seja o melhor

Seja como for, a eletrificação é inevitável e, considerando a sua posição atual, tratar desse assunto o mais depressa possível talvez seja mesmo o melhor a fazer.

5 anos de novos carros

O plano de modelos para os próximos cinco anos prevê o lançamento de um carro por ano, por região. E Imparato diz que tem o orçamento aprovado para isso.

Tudo começa com o Tonale, que terá versões “plug-in” em 2023 mas não 100% elétricas. Em 2024, será lançado outro “plug-in”, que deverá ser um SUV. O primeiro 100% elétrico está agendado para 2025 e deverá ser um B-SUV, feito com base na plataforma e motor do Peugeot e-2008. Brennero será o seu nome.

A partir de 2027, a Alfa Romeo só vai vender carros 100% elétricos

Em 2026 será altura para o segundo 100% elétrico, que poderá fazer regressar a sigla GTV, mas aplicada a uma berlina coupé de quatro portas e feito com base na nova plataforma elétrica da Stellantis, a STLA.

A partir de 2027, todos os novos lançamentos vão ser de veículos 100% elétricos, sendo de esperar substitutos para o Giulia e Stelvio, elétricos.

Bem como um SUV do tamanho do atual Audi Q7 e até se fala na possibilidade de fazer regressar o Mito, feito com base no Peugeot e-208. Mais distante, mas não fora de hipótese, estará o regresso do Spider, sempre em versão elétrica.

O que pensam os Alfistas?

Como vão os Alfistas, os adeptos da marca, reagir à eletrificação de uma marca com tanta tradição como a Alfa Romeo? Imparato disse-me que alguns simplesmente põem uma cruz em cima do assunto e que nem querem ouvir falar disso.

Mas outros estão na expetativa de ver o que o futuro elétrico pode trazer, sabendo que as opções são a eletrificação ou o fim da marca. E quem pensa assim pode ficar assegurado que Imparato está a fazer os possíveis para manter a identidade da marca.

Não só o desenho vai continuar a ser típico da marca, agora liderado pelo antigo chefe de estilo da Seat, Alejandro Mesonero-Romanos, como o interior também vai continuar a ter o ambiente inspirado na tradição, como o formato do painel de instrumentos, do volante e dos bancos, bem como da decoração.

Os sons do passado

Apesar de não ser um adepto dos sintetizadores, que reforçam o som dos motores através dos altifalantes, nos carros de combustão interna, a verdade é que poderá ter que recorrer a algo semelhante, para os elétricos.

O trabalho de sintetização de motores clássico já começou, para o caso de ser necessário. Sons de motores famosos como o do 6C ou de motores mais antigos, como o 33 Stradale, todos estão a ser preparados.

Na Alfa Romeo vão acabar os “km zero” e os descontos

Um coisa é certa, Imparato grante que a Alfa Romeo vai deixar de seguir práticas como as dos chamado “km zero”, bem como a exportação entre mercados ou os descontos. A aposta nas vendas por via digital são uma prioridade, com Imparato a dizer que “vão bastar três cliques” para escolher um modelo.

Conclusão

A tradição e a história podem ser um fardo, quando têm demasiado peso na vida de uma marca de automóveis. Mas a Alfa Romeo precisa de dar o salto para o futuro. Imparato garante que “não quero os meus clientes uma hora a carregar a bateria” aludindo ao desenvolvimento das baterias e da rede de carregadores. Claramente, tem confiança que, nos próximos cinco anos, tudo isso vai evoluir.

Francisco Mota

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