Uwe Hochgeschurtz, o novo CEO da Opel

A hibridização da gama estará pronta em 2024

A grelha Vizor tem imensa personalidade

Um interface único diferencia os Opel

O Astra vai ter uma versão 100% elétrica

3/9/2021. Novo emprego significa novas expetativas, novos planos, talvez a oportunidade para fazer aquilo que realmente se deseja. Estive presente no primeiro dia de trabalho de Uwe Hochgeschurtz, o novo CEO da Opel, e fiquei a saber como quer mudar a Opel.

 

Para quem pense que Carlos Tavares gosta de centralizar tudo na sua pessoa, basta conhecer alguns dos CEO das 14 marcas da Stellantis para perceber que não é assim. Muitos deles têm provas dadas, personalidade forte e determinação para fazer o que é preciso, para as suas marcas andarem para a frente. Os que não são assim, devem estar prestes a ver a porta da rua.

Talvez seja isso que aconteceu ao anterior CEO da Opel, Michael Lohscheller, uma figura tida como solitária e pouco dada às relações pessoais, tudo aquilo que Carlos Tavares não aprecia. O convite para se mudar para a marca vietenamita VinFast deve ter aparecido como uma benção para os planos que Tavares tem para a Opel.

O português foi buscar o CEO do Grupo Renault, para os mercados Alemão e Austríaco, o que não terá sido um acaso. A sua experiência com a eletrificação, que a marca francesa abraçou há muito tempo, deverá ser muito útil nos próximos tempos.

Uwe…

Uwe Hochgeschurtz (nem me atrevo a tentar pronunciar o seu apelido…) começou oficialmente a trabalhar na Opel no dia 1 de Setembro, exatamente no dia em que o novo Astra foi apresentado à imprensa mundial em Rüsselsheim, no primeiro evento presencial que a marca organizou desde que a pandemia começou.

A sua agenda era carregada, com várias tele-conferências de manhã, antes de rumar ao pavilhão K48, uma nave onde esteve uma linha de produção entretanto desativada e que é agora usada para eventos, mantendo um fabuloso ambiente industrial de outros tempos.

Uwe começou a sua apresentação com a auto-confiança de um CEO alemão com provas dadas. Ninguém diria que era o seu primeiro dia oficial na Opel. Mas o mais importante foi o que disse acerca do futuro da marca alemã.

Alemã, alemã, alemã

Julgo que não terá proferido uma única frase em que as palavras Alemanha ou alemã, não estivessem incluídas. E isso diz muito da estratégia da Opel para se diferenciar dentro do grupo Stellantis.

Depois da apresentação oficial do Astra, em que outros oradores insistiram no mesmo tema, Uwe ainda teve tempo para reuniões com pequenos grupos de jornalistas, uma delas com alguns dos jurados do “The Car Of The Year” onde tive o gosto de participar.

Não havia tempo para muitas perguntas, mas Uwe não se furtou a nenhuma, nem sequer deu daquelas respostas “circulares” que não dizem nada e só fazem perder tempo.

O que é a Opel?

Como diferenciar a Opel dentro da Stellantis, agora que vai passar a partilhar todos os componentes mecânicos com outras marcas do grupo?

A resposta foi na linha daquilo que já tinha dito minutos antes, acrescentando que o estilo muito distinto, com a grelha Vizor e o interface do habitáculo com o condutor e passageiros, são igualmente pontos fundamentais. Mas não só. Disse também que o conforto e algumas tecnologias que só a Opel vai usar, vão servir para identificar a Opel.

Confesso que fiquei um pouco surpreso com a questão do conforto, tendo em conta que a dinâmica “à prova de autobahn” foi reforçado como um dos motes dos novos modelos.

Duas certezas e uma esperança

Claro que a conversa andou muito à volta da eletrificação, como não podia deixar de ser. Uwe tem algumas ideias claras sobre o assunto. Perguntei-lhe se os carros pequenos e acessíveis tinham os dias contados, na transferência para a eletricidade.

O novo CEO da Opel foi enfático na resposta: “temos que fazer carros pequenos, elétricos e acessíveis. Não há outra hipótese. A opção a gasolina vai desaparecer.”

Mas como vai conseguir fazer isso, numa altura em que poucas marcas sequer falam no assunto? Uwe tem duas certezas e uma esperança. As primeiras são que as baterias vão baixar de preço e que a rede de carregadores públicos vai crescer.

A esperança é que consiga convencer os compradores deste segmento que não precisam de centenas de quilómetros de autonomia, o que implica baterias grandes, pesadas e caras. Um ciclo vicioso.

Mais pequena, mais barata, mais leve

Para utilização em cidade, menos autonomia é suficiente, desde que a rede de carregadores cresça como se espera; e que a tecnologia dos carregadores torne a operação mais rápida. São argumentos válidos, mas dependem da intervenção dos políticos, o que torna tudo mais incerto.

Uwe relembra que “estamos ainda no início desta revolução elétrica” e que as tecnologias associadas ainda têm muito por onde evoluir. Mas tem a certeza que a produção de carros elétricos é a única hipótese para o futuro dos automóveis.

Só EV Opel em 2028

“A partir de 2028 ou 2030 vai ser impossível continuar a produzir carros a combustão”, afirma o CEO da Opel. E é impensável fabricar carros elétricos sem darem lucro. Temos que vender mais carros elétricos, só isso resulta, para cumprir as futuras normas de emissões.”

Uwe confirmou que a Opel já está abaixo dos 98g/km de CO2, no total da sua gama. O seu objetivo é ser a marca mais “verde” da Europa.

Confirmou também que, a partir de 2024, todos os modelos da Opel vão ter, pelo menos, uma versão híbrida “plug-in” e que a partir de 2028, vai deixar de vender modelos que não sejam 100% elétricos, na Europa.

Nos planos da Stellantis está a construção de uma gigafactory na Europa, mas a entrada no mercado chinês é também vista como um factor fundamental para o crescimento da marca: “o comprador chinês tem um grande respeito pelos produtos alemães, por isso faz todo o sentido a Opel, como marca alemã (mais uma vez…) entrar nesse mercado.”

Conclusão

Para primeiro dia de trabalho, não se pode dizer que Uwe tenha tido um dia fácil. Foi diretamente “lançado às feras” e, na minha opinião, não se saiu nada mal.

Francisco Mota

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