20/11/2020. A morte do motor V8 é daquelas notícias que se arrastam há décadas. Mas agora chegou a hora. A AMG vai mesmo acabar com o seu V8, substituido por um 4 cilindros híbrido. Só que… talvez não seja o fim do V8. A Ford acaba de lançar um novo V8, com 7.3 litros!

 

Tenho a certeza que, se está a ler esta crónica, certamente se lembra da última vez que esteve perto de um motor V8 a funcionar, seja do lado de fora do carro ou, com alguma sorte, agarrado ao volante e a flectir o tornozelo direito.

Provavelmente, se lhe perguntar qual foi o primeiro motor V8 que ouviu ou que guiou, também se lembra do dia e da hora, ou pelo menos da marca e do modelo. O fascínio dos motores V8 é irresistível e há razões para isso.

Só que a maioria das razões são emocionais, não são racionais. Em primeiro lugar vem o som. Aquela melodia, que mais parece o ronronar de um felino, entra pelos ouvidos e chega ao coração de qualquer apaixonado pelos automóveis.

Depois vem a suavidade, a disponibilidade a qualquer regime, a facilidade com que se ganha velocidade em grande estilo. Claro que há vários tipos de V8, os mais tradicionais e os mais desportivos, mas todos são cativantes. Mesmo os que só fazem a parte da banda sonora.

Viciados em gasolina

A segunda coisa que vem à mente, quando se fala de um V8, são os consumos. O estigma de gastarem dezenas de litros de gasolina só para ir até ao final da rua, vem colado à sua terceira característica: um V8 é um motor de carro americano.

Há muitos V8 que nunca passaram para lá do Atlântico e que são excelentes motores, mas a verdade é que ninguém, como os Americanos, os usa para tanta coisa: dos desportivos às pick-up de trabalho, são pau para toda a obra, literalmente.

O problema é que gastam realmente mais que outros motores com menos cilindros, mesmo a andar devagar. E, pior que isso, poluem na mesma proporção. Estão assim na linha da frente para serem abatidos ao ativo.

V8 são para abater

Numa altura em que as marcas contam grama a grama a quantidade de CO2 que os seus motores lançam para a atmosfera, os V8 são um problema de solução impossível.

Quem assim pensa é a AMG, que tem feito dos V8 turbocomprimidos a sua grande bandeira nos últimos anos. E a primeira vítima já está identificada: o C63 AMG vai perder o V8 biturbo 4.0 em 2022.

Nessa altura, a versão mais desportiva do Classe C terá debaixo do capót um outro motor da marca, que se conhece do atual A 45S AMG. Quer isto dizer que o V8 vai ser substituído por um motor 2.0 de quatro cilindros em linha, tudo pela metade.

Muito provavelmente, a descida de emissões de CO2 não andará longe de ficar a um quarto dos 246 g/km que emite o V8 4.0 biturbo do C63S.

Quatro cilindros vai ser híbrido

Obviamente, a mudança não se fica por aqui, pois até esse motor será devidamente “hibridizado”, com um sistema “plug-in” para passar nos testes WLTP com muito menos emissões.

Segundo o que consegui apurar, terá um motor elétrico dentro da caixa de velocidades de dupla embraiagem e até um segundo turbo elétrico, para ajudar o turbo accionado pelos gases de escape.

Tudo indica que este super 4 cilindros terá mais potência que os 510 cv do C63 S e talvez até mais binário. Fala-se em algo como 522 cv, só para que os novos compradores não sejam apontados pelos donos do então antigo V8 e ouçam dizer “antigamente é que era bom”.

Mas vão ouvir na mesma. Do que me lembro de ter testado o C63 S e o novo A45 S, é como comparar champanhe com espumante. Provavelmente vou engolir estas palavras quando guiar o novo motor. Mas se o espumante for de qualidade, nem me importo muito.

Enquanto isso, nos US of A

Enquanto isto se passa na Europa, do outro lado do Atlântico o que está a Ford a fazer? Nem mais nem menos do que a lançar um novo motor V8, uma unidade atmosférica com nada menos do que 7,3 litros de cilindrada.

É um motor completamente novo, apelidado já de 7.3 Godzilla, destinado em primeiro lugar às pick-up “heavy duty” as maiores do mercado, capazes de rebocar uma casa. Sendo novo, o motor não tem nada de novo.

O bloco é em ferro fundido, só tem duas válvulas por cilindro e a única árvore de cames está situada no bloco. Nem sequer tem injeção direta, nem turbo. O que tem é imensa resistência, com a cambota, bielas e êmbolos preparados para o pior.

Começa nas pick-up, mas depois…

E o pior já se sabe o que é: os homens do tuning já deitaram mãos ao trabalho e já começaram a imaginar este 7.3 montado noutros carros, sem caixa aberta e com os dois lugares bem mais perto do chão.

A Ford sabe disto, claro, é uma coisa cultural nos US of A há muito tempo. Por isso, vende o motor separado, numa caixa de madeira, para quem o quiser comprar e depois fazer dele o que bem entender.

E a “festa” já começou. Dos 435 cv de série, os primeiros especialistas já conseguiram fazer subir a potência para os 800 cv, mantendo-o atmosférico. As estimativas para a versão turbocomprimida apontam para mais de 1600 cv.

Conclusão

Claro que de emissões de CO2, não se fala muito, quando se fala do 7.3 Godzilla, o que mostra bem a diferença entre a Europa e os EUA. Deste lado do mar, a Ford vê-se obrigada a lançar a Transit elétrica, para obedecer às políticas europeias e não ter que pagar multas sobre a poluição dos seus modelos. Do outro lado, vai lançar uma pick-up com um V8 7.3 litros Nem o V8 está morto, pelo menos para alguns, nem a poluição parece ser um problema a exigir um esforço global.

Francisco Mota

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