13/5/2022. A nova norma anti-poluição para automóveis, Euro 7, já foi adiada três vezes, mas espera-se que seja revelada a 20 de Julho. Segundo alguns construtores, os seus efeitos podem ser devastadores, inviabilizando os motores a gasolina já em 2025. Será assim?…

 

A nova norma anti-poluição para automóveis já devia ter sido anunciada no ano passado, depois foi adiada para este ano e sucessivamente adiada até que agora todos esperam pelo dia 20 de Julho, a última data avançada para a sua publicação.

As razões para este adiamento estão relacionadas com as negociações que estão a decorrer nos bastidores entre a Comissão Europeia (CE) e os principais construtores de automóveis a operar na Europa.

Pouco tem transpirado destas negociações, mas os adiamentos demonstram que não estão a ser fáceis. As posições de ambas as partes estão extremadas, como seria de esperar.

Por um lado, a CE decidiu que a EU7 se deve focar mais nos gases poluentes prejudiciais para a saúde e menos na questão do C02. Uma decisão que só peca por tardia, pois são bem conhecidos os efeitos da poluição dos transportes nas doenças do foro respiratório, entre outras.

As reações da indústria

Ao que se sabe, na sua versão mais exigente, a EU7 prevê uma descida de 50% nas emissões de gases nocivos para a saúde, a maior descida desde que as normas começaram na Europa, em 1992.

Do lado dos construtores, o que têm dito é que o esboço da EU7 que lhes foi apresentado implica uma “subida de 40 a 50% no custo de produção dos automóveis”, como afirmou Carlos Tavares, o CEO da Stellantis.

“Os carros com motor de combustão vão ficar ao mesmo preço dos elétricos”

Claro que a pressão dos construtores, detentores de poderosas máquinas de marketing, não se tem feito esperar. Vincent Cobée, CEO da Citroën diz que “se a EU7 for para diante, os carros com motor de combustão vão ficar ao mesmo preço dos elétricos”.

Gilles de Borgne, da Renault, pôs mesmo números no assunto quando disse que “num veículo citadino, a EU7 vai implicar um aumento de 1000 euros por carro.”

A Nissan já fez saber que, pura e simplesmente, não vai construir motores a gasolina segundo a norma Euro 7.

Promover os elétricos

É óbvio que o intuito da EU7 não é apenas fazer diminuir as emissões poluentes nos motores a gasolina, é também pressionar os construtores no sentido da eletrificação total.

Os construtores dizem que, assim, será impossível continuar a fabricar automóveis com motor a gasolina. A começar pelos mais baratos e acessíveis. Dizem que a democratização do acesso ao automóvel está em risco.

Segundo Carlos Tavares, “não podemos passar ao comprador o aumento de custo inerente à norma EU7” simplesmente porque o comprador não tem poder de compra para isso, sobretudo nos segmentos mais acessíveis.

Fábricas a fechar

Menos carros produzidos implica fábricas a fechar e desemprego, por isso os construtores apelam à CE para fazer uma de duas coisas (ou mesmo as duas…): reduzir as exigência da EU7 e subsidiar as fábricas.

Se a CE se mostrar irredutível, como querem os grupos ecologistas, que têm feito pressão nesse sentido, então os construtores avançam com outro tipo de exigências.

Os construtores dizem que os motores a gasolina acabam já em 2025

Se a EU7 for por diante na sua versão mais severa, os construtores dizem que os motores a gasolina acabam já em 2025, muito antes do previsto, que era 2035. Por uma razão simples: deixam de ser rentáveis.

E a rede de carregadores?

A produção deverá então passar para os 100% elétricos muito antes e, nesse cenário, os construtores pedem duas coisas à CE. A primeira são subsídios para a transição energética, pois ficam privados dos lucros com que contavam da venda de veículos com motor a gasolina nos próximos anos.

A segunda exigência é um verdadeiro “xeque-mate” à CE: maior e mais rápido investimento público na rede de carregadores para poder abastecer os carros elétricos que vão estar à venda a partir de 2025.

Esta exigência é, na verdade, uma questão de mera lógica que tem vindo a ser protelada desde que se começou a falar em carros elétricos.

Se é verdade que os carregadores rápidos têm vindo a ser instalados, quanto aos lentos, estão a ser esquecidos e seriam os mais úteis para os carregamentos durante a noite.

Mas isso implica um investimento que ninguém quer fazer, porque não é rentável, por isso cabe aos governos avançar, o que não têm feito.

Fim do automóvel acessível

Do lado técnico, os construtores garantem que é possível fabricar motores a gasolina cumpridores da EU7. O problema são os custos, que vão atirar os modelos mais acessíveis para preços finais incomportáveis pelos compradores.

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É a dinâmica que tem vindo a acontecer a alguns citadinos: custos sobem, preços não podem subir porque senão os clientes não compram, margem de lucro desaparece e os construtores desistem do negócio.

Citroën C1, Peugeot 108, Renault Twingo, VW Up, Skoda Citigo, Seat Mii, todos já foram ou vão ser vítimas deste problema, como outros.

Conclusão

No final, trata-se apenas de uma questão de dinheiro que está em cima da mesa das negociações entre a CE e os construtores a operar na Europa. Para levar a EU7 para diante nos moldes que deseja, a CE terá de pagar os subsídios de que os construtores precisam, ou então pagar os custos sociais do fecho de fábricas e do desemprego. Mas, certamente, vão ser inferiores aos custos que tem hoje com os efeitos da poluição na saúde pública.

Francisco Mota

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