8/1/2021. Numa altura em as marcas japoneses cortam investimento na Europa, entrevistei o Vice-Presidente da Toyota Motor Europe, que me explicou porque a sua marca vai fazer exatamente o contrário.

 

Vários construtores europeus já anunciaram cortes nos investimentos na Europa, com fecho de fábricas e até saída pura e simples dos mercados europeus. As justificações mais apresentadas passam pelas crescentes exigências europeias em matéria de emissões poluentes. Mas isso seria ficar pelo título e não ler a notícia, um hábito muito atual.

“Investimentos” passados, alicerçados em incentivos Estatais que já não têm a dimensão que tiveram, talvez seja uma das explicações mais realistas. Sobretudo porque alguns desses projetos foram implementados em países “ricos” que tinham poder para os “incentivar” e assim tornar suportável aos construtores “hóspedes” uma mão-de-obra relativamente cara.

Acontece que os incentivos Estatais, dentro do setor, se estão a virar para os temas da mobilidade elétrica, com especial destaque para a necessidades de construir fábricas de células de baterias em solo europeu e diminuir a dependência dos fornecedores chineses.

Nem todos se querem ir embora

A consequência é lógica e fácil de perceber. Mas nem todos os construtores japoneses estão a desinvestir na Europa, como fiquei a saber numa entrevistas “one-to-one” que fiz ao Vice-Presidente da Toyota Motor Europe para a área das vendas e marketing.

Matthew Harrison, está na TME há 20 anos e antes disso esteve outros dez na Ford Motor Company. Experiência não lhe falta, mas ainda tem tempo e paciência para falar aos jornalistas, dando respostas francas e diretas.

A primeira que lhe fiz foi relativa ao futuro do Aygo, numa altura em que muitos dizem que o segmento A já não é rentável. É certo que a PSA saiu da joint-venture que unia a Citroën, Peugeot e Toyota no projeto. Mas a Toyota viu aqui uma oportunidade.

Oito fábricas na Europa

Os japoneses compraram a fábrica de Kolin, na República Checa, vão levar o programa até ao final, continuando a fornecer a PSA e já começaram a adaptar as instalações para a fabricação de modelos com base na filosofia TNGA. O novo Yaris híbrido será lá feito, obrigando a subir a operação para três turnos diários.

Kolin junta-se assim a mais sete fábricas que a Toyota tem na Europa e que estão a trabalhar a todo o vapor para dar resposta à crescente procura dos seus modelos. Só para dar um exemplo, o Yaris já ultrapassou os quatro milhões de unidades produzidas na Europa desde que a primeira geração foi lançada em 1999 e eleito Car Of The Year para 2000.

Aygo terá sucessor e será “crossover”

Harrison disse ainda que o Aygo terá um sucessor, provavelmente sob a forma de um pequeno “crossover” mas mantendo a filosofia de baixo custo de produção. “O anterior Aygo foi um instrumento importante na captação de novos clientes para a marca”, disse.

Apesar das declarações recentes do presidente da Toyota Motor Corporation, Akio Toyoda, criticando a pressão da classe política em relação à transição para os automóveis elétricos, a realidade é que a Toyota vai estar em todos os tabuleiros de jogo.

Além dos híbridos, onde tem uma experiência única – tendo já ultrapassado os 15 milhões de unidades vendidas desde que colocou o primeiro Prius no mercado em 1997 – a Toyota vai investir nos híbridos “plug-in”, nos 100% elétricos e nos Fuel Cell.

Toyota “vai a todas”

Harrison explicou-me algumas das razões para esta estratégia de “ir a todas”, começando pela mais fácil, a dos “full hybrid”: “a procura dos nossos modelos híbridos continua a superar a oferta, por isso vamos continuar a lançar mais modelos no mercado. O Yaris Cross terá aqui um papel importante.”

Quanto aos “plug-in”, depois de uma experiência com o Prius, o novo RAV4 PHEV mostra que é uma via em que a Toyota acredita: “enquanto os elétricos a 100% não chegam a todos, os PHEV são uma boa solução.” Acrescentou ainda que “a quebra nos incentivos estatais aos PHEV está a acontecer em vários países. Mas nós não contamos muito com isso e temos muitos pedidos para o RAV4 PHEV.”

Os elétricos estão a chegar

Quanto aos modelos 100% elétricos, a Toyota já mostrou um desenho do seu primeiro modelo a apresentar este ano, que será um SUV “não muito diferente do RAV4”. Harrison garante que a chegada das Toyota aos elétricos não está atrasada: “os nossos híbridos têm feito um trabalho notável na redução de emissões, não temos pressa em lançar elétricos.”

Harrison justifica este “timming”, posterior ao da grande rival VW, que já começou a lançar uma sucessão de modelos elétricos no mercado, com a atual insuficiência da rede de carregadores públicos. “É preciso que a rede cresça, para tornar a utilização de um elétrico viável.”

Mas Harrison não tem dúvidas sobre o futuro dos elétricos na Europa: “quando o volume de vendas subir, os incentivos à compra descem e os impostos sobem.”

Sociedade do Hidrogénio

No discurso do VP da TME, a lógica da transição energética não termina aqui. A Toyota vê a Sociedade do Hidrogénio como a meta final para a real descarbonização, não só dos automóveis, como de toda a atividade consumidora de energia.

E para isso, a marca também já leva um forte avanço, com o lançamento da segunda geração do seu Fuel Cell, o Mirai. “Da primeira geração para a segunda já conseguimos baixar o custo de produção significativamente. E na terceira geração será ainda maior a descida”

Um segundo modelo Fuel Cell está previsto para “daqui a dois ou três anos” num caminho que a Toyota não espera ser fácil, também pela questão da distribuição de Hidrogénio.

Conclusão

O forte investimento em todas as formas de automóveis eletrificados é a prova cabal de que, na Europa, a Toyota “veio para ficar”, relembrando uma frase publicitária antiga. A marca segue os mesmos passos que tanto sucesso lhe deram nos EUA, com o investimento num parque industrial local, preparado para fabricar modelos vocacionados para os mercados locais.

Francisco Mota

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