Concept-car do R5 elétrico vai dar versão de produção

O Renault R5 original inspirou o mais recente elétrico da marca

Laurens van den Acker é o Vice Presidente para o design

O CEO Luca de Meo é um entusiasta do R5 EV

O enorme contraste entre o R5 original e o novo elétrico

Renault 4L, famoso por ser prático e capaz, não por ser bonito

O Renault 4L comemora os seus 60 anos

O 4L teve versões comerciais e o novo também vai ter

Este 4L do futuro é um desenho e nem foi feito pela Renault

2/7/2021. Como tornar um carro elétrico mais atraente? Para algumas marcas, a resposta parece estar no estilo “retro”. Laurens van den Acker, designer da Renault, explicou-me a lógica desta moda.

 

Não é a única, mas a Renault parece estar apostada em lançar uma coleção de modelos elétricos novos, com estilo antigo. Ou, mais precisamente, um estilo inspirado em modelos conhecidos do seu passado.

A moda dos modelos retro, ou nostálgicos, não é nova e tem um histórico de sucessos e falhanços. O Fiat 500 é um bom exemplo dos primeiros, o VW New Beetle, um estrondoso exemplo do segundo. Algures pelo meio ficou a Mini, com modelos que têm ficado cada vez mais feios à medida que se sucedem as gerações.

Com a chegada dos carros elétricos ao mercado, parece que essa moda está a retomar fôlego. Primeiro foi o caso do Honda E que, não “imitando” nenhum modelo em particular, invoca no seu desenho uma estética do passado.

Renault olha para o passado

Mas a Renault parece estar a apostar mais a sério neste filão. O “concept-car” do R5 elétrico já foi confirmado que terá uma versão de produção em série e o 4L também deverá ir adiante, apesar de ainda não se ter visto um concept-car oficial.

Qual a razão desta moda? Para ter respostas, nada melhor do que perguntar diretamente ao responsável de estilo do Grupo Renault, Laurens van den Acker. Foi o que fiz numa recente visita ao Technocenter, uma espécie de “bunker” onde se trabalha no futuro da marca.

van den Acker e o desafio

A explicação para esta nova linha da Renault começa pelos modelos que a marca está a deixar de fazer: “modelos como o Scénic, Espace ou Twingo, foram ícones recentes da marca que vamos deixar de produzir, porque o mercado não os deseja. Mas o que resta da história da Renault?…”

“Se não tivermos cuidado, os elétricos podem perder personalidade e deixar de ter a identidade Renault” acrescentou van den Acker que aponta o desafio da marca para os elétricos: “como fazer um elétrico que seja uma mistura entre a nostalgia que traz boas memórias a muitos; e um estilo moderno, para quem não conheceu os ícones do passado?”

R5 elétrico é a chave

A resposta parece estar no R5 elétrico, que recupera, num formato de um modelo do segmento B de grandes dimensões, alguns dos detalhes da segunda geração do R5, conhecido como o super-cinco. O “concept-car” foi muito bem recebido pelo público, gerando um excelente retorno para a marca.

O papel do R5 elétrico é substituir o Zoe e o Twingo elétrico, continua van den Acker: “não tínhamos dinheiro para fazer dois carros, por isso o R5 substitui os dois.”

Perceber a reação ao novo R5, daqueles que viveram a época do super-cinco original, é fácil. Foi um carro de grande difusão, que chegou a muitas famílias, criando imensas memórias, que o tempo trata de filtrar e deixar ficar apenas as boas.

E quem nunca viu um R5?

Mas como pode um desenho nostálgico tocar as gerações mais recentes, que nunca viram sequer um R5 original? Diz van den Acker: “não é preciso que os mais novos conheçam o R5 antigo. O que é preciso é que o modelo tenha proporções e um desenho contemporâneo. Que as pessoas mais novas gostem dele por aquilo que ele é.”

E acrescenta um facto curioso: “quando os mais novos viram o R5 novo, a sua primeira reação foi de que tinha um estilo futurista, só depois notaram a ligação ao passado.”

A revolução no estilo

Laurens van den Acker renovou o estilo da Renault desde que entrou na empresa, pode dizer-se que revolucionou a sua imagem, quando lançou a quarta geração do Clio, que influenciaria todos os modelos apresentados em seguida. Ele próprio garante que “não sou um fã do design nostálgico” mas o caso do R5 novo é diferente.

“A Renault não vai fazer carros elétricos caros como os Tesla. O nosso negócio é a produção de grande volume, é isso que gosto de fazer, de tocar o comprador comum.” E o R5 parece ser um bom instrumento para atingir esse objetivo.

Daí a sua convicção de que “com o marketing certo e com o preço certo, estou convencido que o R5 elétrico vai ser um sucesso.” Luca de Meo, o CEO do Grupo Renault terá sido um dos grandes entusiastas deste novo programa, o que ajuda sempre.

Maestro de uma nova equipa

Como Vice-Presidente para o design do grupo Renault, van den Acker é o maestro de uma orquestra de estilistas que se formou recentemente à custa de contratações na Stellantis, casos de Gilles Vidal, o chefe de estilo da Renault que veio da Peugeot; ou de Miles Nurnberger, que veio da Aston Martin para a Dacia.

“Depois de ter estado 14 anos na mesma empresa, o Miles ligou-me à procura de um novo desafio. E garanto que vai ter bastante mais trabalho na Dacia do que tinha antes.”

E o restyling do R5?

Mas o que fazer quando chegar a altura de renovar um modelo como o R5 novo? Não será o design nostálgico um beco sem saída, como o parece provar o caso das duas gerações do New Beetle?

Laurens van den Acker admite que isso é um desafio, mas diz não estar preocupado com o assunto. “Quando chegar a altura de substituir o R5 elétrico, passamos a outro assunto, fazemos um R6 elétrico, ou outra coisa qualquer.”

A seguir vem o 4L elétrico

Na verdade, a Renault já confirmou um segundo elétrico nostálgico, ainda sem mostrar imagens desse segundo “concept-car”. Mas é certo que vai recriar o estilo do famoso 4L, que faz 60 anos este ano.

“O problema do 4L, ao contrário do R5, é que o original era um carro feio. Deixou memórias por aquilo que conseguia fazer, por ser prático, não por ser bonito. Para mim, o sucessor espiritual do R4 foi o Dacia Duster.”

Conclusão

As marcas arriscam pouco no que toca à fisionomia clássica do automóvel, preferindo manter silhuetas conhecidas do público. Ou voltar atrás no tempo com o estilo nostálgico, como é o caso dos novos Renault. “Mas não vamos fazer apenas design nostálgico, o concept-car do Mégane novo mostra que a Renault vai continuar a ter modelos vanguardistas” concluiu Laurens van den Acker.

Francisco Mota

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