2/12/2022. A Lancia mostrou esta semana uma escultura que diz ser a inspiração para os seus novos modelos a lançar entre 2024 e 2028. Um evento entre o poético e o filosófico que deixou poucas pistas e muitas dúvidas. Qual será o posicionamento da marca no mercado, continua a ser a questão.

 

A apresentação de uma escultura e do novo símbolo marcaram aquilo que a Stellantis chamou o novo renascimento da Lancia. Um evento que fará todo o sentido para os responsáveis da marca, que já conhecem as formas dos próximos modelos da marca, mas que poucas pistas oferece a quem está de fora.

A grande questão continua a ser a mesma: qual será o posicionamento da Lancia no mercado? Os entusiastas, mesmo os que nasceram depois de o Delta Integrale ter deixado de ser produzido há muitos anos, continuam a suspirar por um novo Delta Integrale.

Não faltam propostas, mais ou menos imaginativas, do que muitos desejam que fosse o regresso do Delta Integrale. Alguns até já se conformaram com a ideia de um Delta Integrale 100% elétrico. O que querem é a nostalgia das formas e o posicionamento desportivo. Mas não sei se será isso que a Stellantis tem em mente.

Grupo de marcas premium

A Lancia está inserida no grupo de marcas Premium da Stellantis, juntamente com a DS, Alfa Romeo e Jeep. O perfil destas três últimas parece bem definido, apenas com algumas dúvidas sobre a DS, mas que deverão ser dissipadas com uma cascata de novos SUV que a marca francesa está a preparar para lançamento em breve.

Quanto à Lancia, parece pouco provável que os tempos do Stratos, do 037 ou do Integrale possam voltar. Os entusiastas fazem muita força, mas não são os entusiastas que compram os novos modelos e que podem salvar uma marca, como se tem visto pelo exemplo da Alfa Romeo: “uma marca de que todos gostam e niguém compra” como recentemente se ouvia dos seus dirigentes.

Marca de prestígio

Tudo parece apontar para que a Lancia vá recuperar o seu posicionamento histórico de marca de prestígio, tecnicamente inovadora e intrinsecamente italiana. Uma resposta, mais uma, ao domínio das três marcas premium alemãs.

Se está reconhecer esta estratégia de algum lado, é porque a Lancia já passou por este caminho e não se deu nada bem. Aliás, terá mesmo sido a estratégia que liquidou o capital de prestígio que tinha sido construído até aos anos noventa, com grande suporte mediático na conqusita de títulos de construtores no WRC, de que a Lancia continua a ser recordista com dez campeonatos.

A escultura

Mas olhemos para a escultura agora apresentada, que tem nome: Pu+Ra Zero. Um “manifesto tridimensional” segundo Luca Napolitano, o CEO da marca que disse ser uma antecipação do novo Ypsilon.

PUre e RAdical são as palavras que dão sílabas a esta escultura, que servirá de inspiração a uma linguagem de design “nova e sustentável” e que tem como objetivo tornar-se “única e durável”. Tudo isto faz sentido, pelo menos a nível abstrato.

A Lancia afirma que na escultura se encontram formas dos clássicos Aurelia e Flaminia e que essas forma vão estar nos seus futuros modelos. Mas não se espere desenhos nostálgicos.

A marca afirma justamente que a escultura não pertence tipicamente à linguagem automóvel, que se pode encontrar influência do design italiano de mobiliário. Aliás, para os habitáculos, foi estabelecida uma colaboração com a empresa Cassina, que cria mobiliário desde 1927.

Ypsilon, Delta e mais um

A Lancia confirmou que os primeiros três lançamentos vão ser o novo Ypsilon, o novo Delta e um novo topo de gama. Mas apenas os nomes devem sobreviver a esta nova linguagem de estilo batizada “Progressive Classic”.

A “frente” da escultura alegadamente faz uma reinterpretação da histórica grelha da Lancia, em forma de cálice, através de três linhas de LED que constituem a assinatura luminosa dos novos modelos.

A marca Lancia por extenso será posicionada sobre o novo cálice, em todos os modelos, reforçando a imagem de marca. Atrás, os faróis redondos lembram os do Stratos e vão estar presentes no Ypsilon, ladeando a palavra Lancia.

O novo símbolo

Ao mesmo tempo, a marca apresentou também o seu novo símbolo, como todas as marcas estão a fazer. É a oitava vez que muda em 116 anos e será estreado no novo Ypsilon, levando também a uma mudança de visual dos pontos de venda.

Seguindo o exemplo de outras marcas do grupo, o símbolo da marca vai também buscar inspiração a símbolos do passado da Lancia, nomeadamente o de 1957, estreado no Flaminia e talvez o mais minimalista.

Conclusão

Estamos no ano zero para a nova Lancia, mais um renascimento, desta vez com a marca incorporada num grupo industrial internacional e poderoso. Os primeiros novos modelos vão mostrar qual a direção que a marca vai seguir, tanto em termos de estilo como de posicionamento e logo veremos se as “ameaças” que o CEO fez dizendo que os novos modelos vão deixar todos espantados, terão razão de ser.

Francisco Mota

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