26/03/2021. Mais uma revolução na Jaguar. Agora a marca Britânica anunciou que só vai produzir carros elétricos e que deseja rivalizar com marcas de luxo. Visão estratégia ou fuga para a frente?
Depois da última revolução, arquitetada logo após o grupo Tata a ter adquirido em 2008, a Jaguar anunciou agora… mais uma revolução.
Em 2008, o plano era ir atrás da BMW, Audi e Mercedes-Benz, com berlinas médias e grandes, carrinhas e os inevitáveis SUV de vários tamanhos. Mas não resultou.
As carreiras comerciais das berlinas XE, rival do Série 3 e da berlina XF, rival do Série 5, foram tão fracas que, ainda hoje, há quem não consiga distinguir um modelo do outro, ou sequer saiba que existam.
O maior e mais caro XJ não fez melhor e o F-Type, com menores ambições, continua a viver da nostalgia do seu ilustre antecessor E-Type, que faz agora 60 anos.
Os SUV F-Pace e E-Pace tiveram uma aceitação um pouco melhor, mas em mercados muito localizados, sobretudo no Reino Unido.
Vendas muito baixas
No último ano normal, antes da pandemia, a Jaguar vendeu um total global de 161 601 unidades. Uma miséria, se comparado com os milhões que as marcas-alvo alemãs entregaram no mesmo período.
No meio de tanta má notícia, salvou-se o I-Pace, o modelo elétrico da Jaguar lançado em 2016, A sua plataforma dedicada permitiu aos estilistas ser mais ousados que o costume, mas talvez tenham abusado da sorte.
Depois de ter ganho o título The Car Of The Year 2019, o I-Pace teve uns meses de glória mas depois as vendas começaram a descer e estão muito abaixo daquilo que a Jaguar projetava.
Tempestade perfeita
A Jaguar foi particularmente atingida pela descida de procura das motorizações Diesel, com tanto azar que tinha acabado de colocar no mercado uma nova família de motores Diesel e a gasolina, os Ingenium, num projeto que envolveu uma fábrica dedicada e onde gastou milhões.
Foi uma espécie de tempestade perfeita, que só não teve piores resultados porque a marca irmã do grupo JLR, a Land Rover, conseguiu manter uma boa performance no mercado dos SUV de luxo.
Era preciso fazer alguma coisa. E os Indianos da Tata decidiram começar pelo topo e contratar um novo CEO, Thierry Bolloré, o ex-líder do Grupo Renault, de onde tinha sido convidado a sair para dar lugar à “pop star” entre os gestores de topo, Luca De Meo.
Francês à frente de marca Britânica
Bolloré sucedeu na Renault a Carlos Goshn, depois deste ser preso em 2018, mas os seus colegas japoneses da Aliança Renault/Nissan/Mitsubishi não gostaram da ideia, acusaram-no de uso indevido de fundos da empresa e distituíram-no logo em 2019, após um inquérito interno.
Um Francês a dirigir uma marca Inglesa, propriedade de um grupo Indiano é a situação atual da Jaguar. Mas Bolloré não se intimidou e lançou a nova revolução “Reimagined”.
O plano pode chocar os adeptos mais tradicionalistas da Jaguar, por isso, se for o seu caso, esta é a altura de se sentar e de respirar fundo, antes de continuar a ler.
Medidas radicais
As principais medidas são radicais, a começar pela gama atual, que não vai ter sucessores diretos, com a excessão do I-Pace. Até 2024, quando termina o seu ciclo de vida, o XE e XF deixam de ser produzidos e não vão ter sucessores.
Também o E-Pace e F-Pace vão deixar de ser produzidos, bem como o F-Type. Está em estudo se valerá a pena fazer um Jaguar desportivo, mas seria sempre 100% elétrico.
O projeto do novo XJ elétrico, que já estava na fase de testes em estrada, também foi cancelado, pois não se ajusta à nova estratégia de plataformas. Muitos milhões deitados à rua.
Só 100% elétricos, já em 2025
Para o lugar desta gama desatualizada e mal-amada, Bolloré e a Jaguar anunciaram que estão a desenvolver uma nova plataforma exclusivamente para modelos elétricos.
Como consequência, a Jaguar terá à venda apenas modelos elétricos já a partir de 2025. Com o sucessor do I-Pace a ser provavelmente o primeiro.
Mas ainda, a Jaguar vai deixar de ter modelos SUV, deixando esta tipologia para a marca irmã Land Rover. E, mais espantoso que tudo o resto, os alvos da Jaguar já não vão ser a BMW, Audi e Mercedes-Benz.
Rival da Aston e Bentley
A Jaguar quer subir de divisão e posicionar-se como uma marca de luxo, rival da Aston Martin e da Bentley. O objetivo deixa de ser fazer crescer o volume de produção, mas sim fazer crescer o lucro.
Esta estratégia pode ser vista como visionária, se olharmos para o exemplo da Tesla. Mas não deixa de ser uma fuga para a frente, evitando ter que enfrentar os problemas de sempre.
Terá sucesso, uma mudança radical como esta? A Jaguar anunciou também o seu interesse em converter uma das suas fábricas no Reino Unido para a produção de baterias, o que mostra uma visão estratégica do futuro.
Conclusão
A verdade é que, a não ser que o grupo Tata estivesse na disposição de continuar a despejar milhões na JLR, o que tem feito nos últimos 13 anos, a eletrificação total da Jaguar é a decisão que se impõe neste momento. A não ser que venha por aí algum “electric-gate”.
Francisco Mota
Ler também, seguindo o LINK: