13/11/2020. Como as redes de carregadores para carros elétricos não andam nem desandam, um grupo de construtores juntou-se e fez uma. Esta é a história resumida da Ionity que vai chegar a Portugal este ano, com supercarregadores mais potentes que os da Tesla.

 

“Se queres uma coisa bem feita, tens a que a fazer tu próprio.” O dizer aplica-se perfeitamente à Ionity, uma “joint-venture” criada por BMW Group, Mercedes-Benz AG, Grupo Volkswagen com Audi e Porsche, Ford Motor Company, às quais se juntou depois a Hyundai Motor Company.

Fartos de estar à espera de alguém que investisse na área dos carregadores rápidos para automóveis elétricos, um negócio que, pelos vistos, ainda não é muito apetecível, as marcas referidas resolveram ser elas próprias a criar a sua rede.

Com as vendas de automóveis elétricos ainda a um nível muito residual, entende-se que o negócio dos carregadores públicos não esteja nas prioridades das empresas de energia. Sobretudo os mais sofisticados e caros, os supercarregadores.

Uma iniciativa estratégica

Mas, para as marcas do consórcio Ionity a questão era claramente estratégica: como vender carros elétricos aos seus clientes e não lhes garantir pontos de carga eficientes e acessíveis?

A Ionity foi criada em 2017, a par do grande investimento da VW na eletrificação de todas as suas marcas, com a família de modelos ID a liderar. Para a BMW, MB e Ford, o plano seria sempre a prazo mais distante, mas não muito.

Em vez de apostar na quantidade, a Ionity apostou na qualidade, com supercarregadores que chegam aos 350 kW, quando os mais potentes que existem em Portugal são geralmente de 50 kW.

Para comparação, os supercarregadores atuais da Tesla têm 150 kW ou 250 kW, no máximo.

Claro que a velocidade de carregamento depende sempre do carregador embarcado no veículo, para já, carregar a 350 kW é uma miragem. Mas a rede Ionity transmite assim a mensagem que está preparada para o futuro: que não vai precisar de atualizar a parque de carregadores tão depressa.

Facilidade de utilização

Outra das preocupações foi facilitar a operação de carregamento. Por isso pediu à “DesignWorks” o projeto dos parques de carregadores, que além do estilo próprio (para facilitar a sua identificação numa estação de serviço) tem algumas soluções práticas, como o cabo pendurado de uma altura de 2,6 metros, de modo a facilitar a ligação à tomada CCS do carro, esteja ela de que lado estiver.

A facilidade de utilização passa também pelo interface, desenhado para ser o mais simples possível de usar e que funciona com as dez línguas mais faladas na Europa.

Há ainda um centro de atendimento telefónico que trabalha 24 horas por dia e atende em 30 segundos, nas mesmas dez línguas. O pagamento pode ser feito através de um cartão ou do smartphone. Mas continua a ser preciso um prestador de serviços para emitir o cartão, a Ionity não os emite.

E quanto custa?

Para Portugal, o plano é instalar oito estações até ao final do ano, nas mais importantes autoestradas do país e nos postos da Cepsa, empresa com a qual a Ionity se ligou no nosso país. Para já, ainda nenhum está operacional, devido aos atrasos provocados pela Covid-19.

As marcas fundadoras da Ionity têm esquemas próprios para os seus clientes, que passam por aplicações de smartphone e oferecem tarifas mais baixas.

Para os condutores de outras marcas, a Ionity anunciou que o custo do carregamento será de 0,79 euros por cada kWh carregado, em toda a Europa.

Eletricidade mais cara que a gasolina

Fazendo umas contas simples, carregar a bateria de 46 kWh (capacidade útil) de um Peugeot e208 custaria 36,34 euros. Considerando a autonomia anunciada de 340 km, temos um custo por quilómetro de 0,11 euros.

Comparando com um Peugeot 208 1.2 PureTech de 130 cv a gasolina, que anuncia um consumo médio de 5,6 l/100 km e considerando o preço da gasolina 95 a 1,45 euros, temos aqui um custo de 0,08 euros por quilómetro.

Não espanta que o preço da energia comprada num supercarregador seja relativamente alta, pois tem que se pagar a rapidez de carregamento. Mas é um sinal, para quem nunca tinha feito as contas: na autoestrada, um carro elétrico pode ficar mais caro de usar que um a gasolina.

Energia 100% “limpa”

A Ionity tem outras vantagens, uma das mais importantes é que só distribui energia obtida a partir de fontes renováveis, garantindo assim aos seus clientes a neutralidade carbónica e não apenas as emissões zero locais.

O plano inicial de ter 400 postos em funcionamento até final de 2020, parece difícil de cumprir, olhando para o contador que se pode consultar no site da empresa e que hoje indicava estarem 299 em funcionamento e 53 em construção.

Mas deve notar-se que cada um destes postos tem, em média, quatro pontos de carregamento, o que eleva a quase 1200 os carros que podem ser abastecidos ao mesmo tempo na rede Ionity, neste preciso momento.

À espera de mais marcas

A rede já está em 20 países e o plano é chegar a mais quatro, até final do ano, a que se deverá seguir um novo plano de alargamento da rede, que ainda não foi anunciado.

A entrada do grupo Hyundai/Kia para o consórcio mostra o potencial da Ionity, que assim passa a ter capital europeu, americano e asiático.

É provável que outros construtores venham a entrar na sociedade. Para já, a sua atividade resume-se ao território europeu e ainda há por cá muito que explorar a este nível antes de pensar em alargar para outras regiões.

Conclusão

O exemplo desta empresa, com sede em Munique, mostra o estado incipiente em que está a eletrificação dos automóveis, particularmente no que à rede de carregadores diz respeito. Nunca os automóveis movidos a combustíveis fósseis obrigaram quem os fabrica a abrir petrolíferas…

Francisco Mota

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