VW ID.3 foi o primeiro de uma nova família de elétricos da marca

Toyota Mirai Fuel Cell na segunda geração

A rede de carregadores públicos não para de crescer

Os postos de Hidrogénio ainda são poucos

21/05/2021 – Esta semana, Herbert Diess, o CEO do VW Group, disse no twitter que os carros a Hidrogénio, os Fuel Cell, “não são a solução do futuro”. Enquanto isso, a Toyota continua a desenvolver a tecnologia, como a nova geração do Mirai. Quem tem razão?

 

A posição genérica de qualquer líder de uma marca ou de um grupo industrial da área automóvel, em relação a quase tudo, é a prudência. À pergunta, “qual o combustível do futuro?” A maioria responde da mesma maneira: “não há uma única resposta, vamos ter várias alternativas.”

Mas Herbert Diess, o CEO do Grupo Volkswagen, tomou esta semana no twitter uma posição radical e inesperada quando afirmou que “o carro a Hidrogénio já provou que não é a solução para o clima.”

Diess, foi ainda mais longe ao acrescentar que “nos transportes, a eletrificação será predominante” o que não deixa de ser uma afirmação inesperada, vinda de quem vem.

Influências de Elon Musk?

Seria mais fácil de perceber se o autor desse post tivesse sido Elon Musk da Tesla, que já se tornou num habitual incendiário das redes sociais, com as suas tomadas de posição radicais a favor dos carros elétricos e contra tudo o resto.

Talvez as reuniões que Diess tem tido com Musk, algumas delas do conhecimento público, tenham incentivado o dirigente alemão a soltar a língua e a enveredar por um registo bem mais direto do que era o seu hábito.

A verdade é que Diess disse também que “os debates sobre o Hidrogénio são uma perda de tempo.” Incentivando ainda a “ouvir a ciência” na sequência de um estudo que veio a público e que defende a fraca competitividade da solução Hidrogénio.

Dinheiro e política

Mas então, por que razão Diess veio agora a público atacar o Hidrogénio? A primeira resposta é óbvia: a VW está numa fase de arranque de um programa de modelos elétricos, com a família ID, que a vai levar a gastar imenso dinheiro.

O empenho da VW nos carros elétricos é quase total, tendo mesmo abandonado os projetos sobre Fuel Cell que mantinha em lume brando.

Mas o investimento da VW nos carros elétricos decorreu das opções políticas tomadas nesse sentido, quer a nível europeu, quer a nível nacional, na Alemanha. Só que os líderes políticos locais vão mudar, pois Angela Merkel já afirmou que não se vai recandidatar.

A mudança de políticos pode sempre levar à mudança de políticas e é disso que Diess tem medo. Que a atual pressão europeia no sentido da aposta no Hidrogénio possa prejudicar o esforço da VW nos carros elétricos.

Toyota é a favor

Do outro lado da barreira, temos a Toyota, que está a lançar a segunda geração do Mirai, o seu modelo Fuel Cell, a Hidrogénio.

Os engenheiros da marca continuam a mostrar como a opção é viável, aperfeiçoando a tecnologia a bordo, aumentando a autonomia e a performance, e acenando com a rapidez de reabastecimento, muito superior ao carregamento de uma bateria, num carro elétrico.

Entre os dois gigantes da indústria automóvel, os dois únicos que conseguem vender dez milhões de carros por ano, a posição em relação aos Fuel Cell não podia ser mais antagónica.

Toyota e Fuel Cell desde 1992

Enquanto a VW os repudia, a Toyota “adora-os”. Desde 1992, há 28 anos, que a Toyota desenvolve a tecnologia Fuel Cell, construindo sucessivos protótipos até chegar ao primeiro modelo de produção, a primeira geração do Mirai, lançada em 2014.

O interesse da marca pelas Fuel Cell é de tal ordem que chegou ao ponto de libertar as suas patentes, disponibilizando à concorrência os meios para entrar rapidamente na tecnologia Fuel Cell.

A Toyota defende que o Hidrogénio e as Fuel Cell são uma opção que se adapta bem a transporte pesado de longo curso e a automóveis que precisem de fazer viagens longas. A grande autonomia, facilidade de armazenamento e rapidez de abastecimento, são os trunfos.

Obstáculos ao Hidrogénio

Claro que existem ainda obstáculos à concretização da Sociedade do Hidrogénio. O primeiro é a inexistência de uma rede de abastecimento significativa.

O segundo foi levantado pelo estudo a que Diess se referiu no twitter, levado a cabo pelo Potsdam Institute for Climate Impact Research.

Neste estudo concluía-se que, no momento atual do desenvolvimento da extração de Hidrogénio, do seu transporte e da sua distribuição, o consumo de energia (e emissões) associado é superior ao que se ganha nas emissões zero dos automóveis Fuel Cell.

Oportunidades que já existem

A Toyota aposta sobretudo nos transportes pesados de longo curso, em que a rede de abastecimento de Hidrogénio é um problema menor, pois a grande autonomia dos Fuel Cell, não obriga a ter muitos postos de abastecimento.

O mesmo se pode dizer dos transportes públicos, que funcionam em circuito fechado. A Caetano Bus já os fabrica em Portugal.

E aposta também nas zonas do globo em que está a ser feito um investimento na rede de distribuição de hidrogénio, casos da Califórnia, do Japão e, ironicamente, algumas cidades da Alemanha, onde a segunda geração do Mirai poderá continuar a encontrar clientes apreciadores de novas tecnologias.

Conclusão

A verdade é que a Toyota tem recursos que lhe permitem “ir a todas”, ou não tivesse recentemente anunciado também o seu programa para o lançamento dos “BZ”, uma nova família de modelos 100% elétricos e a continuação do alargamento dos “full hybrid” a mais modelos e mais segmentos, sem esquecer os “plug-in”. Se a Sociedade do Hidrogénio se concretizar, a Toyota será, como sempre, um dos seus protagonistas.

Francisco Mota

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