5/5/2023. Todos conhecem a EuroNCAP, o organismo que avalia a segurança passiva e ativa dos automóveis novos. Mas já ouviu falar da Green NCAP? A mesma organização passou a dedicar-se também a avaliar as emissões poluentes, continuando a traduzir os resultados em estrelas. Fui perceber como tudo funciona e por que razão o “português” VW T-Roc é um dos melhores classificados.

 

5/5/2023. Chama-se European New Car Assessment Programme, mais conhecida por EuroNCAP, e avalia a segurança de novos carros lançados no mercado. Analisa tanto a segurança passiva, ou seja, a performance em caso de acidente, através de testes de colisão, os “crash tests”; como a segurança ativa, avaliando os sistemas eletrónicos de auxílio à condução.

Para comunicar os resultados das suas avaliações à sociedade, traduz tudo na clássica escala de cinco estrelas. Esta organização tem sede em Leuven, na Bélgica e foi formada em 1996. É uma organização descrita formalmente como “voluntária e não lucrativa” sendo apoiada financeiramente por vários países europeus e pela própria União Europeia.

Só informação

Ao contrário do que alguns possam pensar, nenhum novo modelo tem que “passar” nos teste da EuroNCAP para poder estar à venda. Essa homologação é dada pelas autoridades rodoviárias dos estados europeus, que obrigam os novos modelos a cumprir um determinado conjunto de testes de segurança.

A EuroNCAP é, portanto, uma organização de informação do consumidor. Faz o seu lóbi, mas não mais do que isso. A organização afirma que os testes que realiza são idênticos aos das autoridades rodoviárias europeias, mas com uma diferença considerda fundamental.

EuroNCAP vai mais além

Enquanto as autoridades estabelecem valores mínimos para um novo modelo ser homologado, a EuroNCAP eleva o nível de exigência para aquilo que considera ser “as melhores práticas disponíveis no momento.”

A EuroNCAP não faz testes a todos os modelos que entram em comercialização no mercado europeu. Faz a sua seleção, adquirindo unidades de forma independente. Também aceita que sejam os construtores a ter a iniciativa de lhes propor os seus novos modelos para testar. Até hoje já testou mais de 1800 modelos.

Independente

O organismo é composto por 14 membros, entre eles o ADAC (clube automóvel alemão), o departamento de transportes do Reino Unido, a FIA, a DEKRA e vários outros ministérios e governos de vários países europeus.

Os testes são feitos em vários complexos de testes independentes, tanto na Europa como também na China.

Green NCAP

Com a transferência energética em curso, este organismo criou uma segunda face a que chamou GreenNCAP. A ideia é a mesma, mas aplicada aos testes de controlo de emissões e consumos. São basicamente três as áreas testadas.

A mais importante é a dos gases poluentes maléficos para o ser humano e para o ambiente; segue-se a eficiência energética, ou seja os consumos e depois os gases com efeito de estufa, ou seja o CO2.

Todo o tipo de carros

Os testes abrangem todo o tipo de motorizações, ou seja, motores térmicos, híbridos ou elétricos.

O modelo que obteve melhor classificação e as 5 estrelas em 2022 foi o Dacia Spring, que bateu o Tesla Model 3, sobretudo devido ao menor consumo, ou seja maior eficiência energética, um resultado direto do baixo peso do Spring.

Ironicamente, o Spring é dos piores classificados nos testes de segurança EuroNCAP com 1 estrela, o que levou a organização a incitar a Dacia a fazer na segurança, o mesmo esforço que faz na motorização elétrica, Como se um resultado não fosse dependente do outro…

VW T-Roc lidera

Dos modelos testados até agora, o modelo com melhor resultado entre os movidos a motores a gasolina ou gasóleo foi o “português” Volkswagen T-Roc.

Mais uma vez, devido ao baixo peso e bons consumos, mesmo sem ter (ainda) nenhum sistema híbrido. Mas só obteve 2,5 estrelas.

O que é o LCA?

Consciente de que testar carros é apenas uma parte da questão, o Green NCAP lançou uma ferramenta informática a que chamou o Life Cycle Assessment, ou LCA.

Trata-se de um algoritmo que usa a informação disponível publicamente para cada modelo e faz uma estimativa da sua pegada energética ao longo de toda a sua vida útil.

Da extração ao abate

São consideradas todas as fases da vida de um carro, desde a extração de matérias primas, fabricação, distribuição, utilização, reciclagem e abate. Para este cálculo é levado em consideração a origem da energia, sendo feito um “mix” dos 27 países europeus mais o Reino Unido.

É considerada uma vida útil de 16 anos e 240 000 km para cada modelo e os fatores mais relevantes tidos em conta são o tamanho, peso e tipo de motorização de cada carro.

Fui testar o LCA…

O GreenNCAP tem disponível esta ferramenta no seu site, que se pode ajustar à origem energética (mais ou menos renovável) de cada país e à quilometragem anual. Mas alerta que se trata sempre de uma estimativa.

Claro que tive de testar esta ferramenta e escolhi precisamente o Tesla Model 3 Standard Range e o VW T-Roc 1.0 TSI.

Os resultados que obtive para Portugal, considerando uma quilometragem média de 12 000 km e 16 anos de uso, mostram alguns dados interessantes.

Dados para Portugal

No que às emissões de CO2 equivalente diz respeito, o simulador do Green NCAP indica uma média de 204 g/km, para o T-Roc e de 95 g/Km, para o Model 3.

Quanto ao consumo estimado de energia primária, os números são também favoráveis ao Model 3, como não poderia deixar de ser, com 103 MWh, contra 157 MWh. Mas as parcelas que formam este total, fornecem dados que vale a pena reter.

O detalhe é que interessa

A  fabricação do Model 3 e da sua bateria gastam 59,5 MWh, contra os 29,8 MWh do T-Roc. Ou seja, a produção do Model 3 e da sua bateria precisam de quase o dobro da energia que a produção do T-Roc.

A energia gasta na manutenção é semelhante: 4,8 MWh, para o T-Roc e 4,2 MWh, para o Model 3. A grande vantagem está na energia gasta para usar cada carro. O Model 3 precisa só de 47,6 MWh, enquanto o T-Roc precisa de 125,9 MWh.

Reciclagem também conta

Mais surpreendente é a energia recuperada durante a reciclagem e abate, que é de 7,9 MWh, para o Tesla e de apenas 3,2 MWh, para o T-Roc.

Estes números foram obtidos com o simulador configurado para o mix de produção de energia em Portugal, que o algoritmo considera ser de 29%, de origem fóssil e 71%, de origem renovável.

Conclusão

Sem dúvida que o Green NCAP é mais um instrumento de lóbi em favor da transição para a eletrificação e para os carros elétricos. Mas as informações que proporciona podem realmente ser interessantes para melhor perceber as razões dessa transição.

Francisco Mota

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Crónica – VW T-Roc vai passar a ID.Roc e será elétrico