A produção de motores a combustão diminuiu 13% na Alemanha entre 2015 e 2019

Investimento em fábricas de baterias é urgente

Reconverter um trabalhador para a produção de componentes elétricos nem sempre é fácil

A produção de um motor a combustão é complexa

A produção de baterias está muito automatizada

A complexidade de um motor a gasolina é imensa

Um motor elétrico tem muito menos peças

Motor elétrico do VW ID.3 cabe num saco de desporto

14/05/2021. Um instituto alemão concluiu que a diminuição da produção de motores a combustão vai custar 100 000 empregos até 2025, só na Alemanha. Patrões e sindicatos apontam soluções.

 

O estudo foi levado a cabo pelo instituto IFO, a pedido da VDA, a associação da indústria automóvel alemã. O objetivo era medir o efeito no desemprego da redução e fim da produção de motores de combustão, nesta fase de transição energética.

Os resultados não surpreendem pela tendência, mas pela magnitude e rapidez com que tudo se está a passar. Segundo o IFO, considerando a estimativa de descida de produção de motores a combustão até 2025, são 178 000 trabalhadores que vão ser diretamente afetados.

Este número inclui apenas os que trabalham em postos diretamente relacionados com a produção de motores a combustão, seja nos construtores, seja nos fornecedores. Deste total, espera-se que 75 000 se reformem até lá, o que deixa mais de 100 000 trabalhadores no desemprego.

São números preocupantes, acerca dos quais os sindicatos alemães já se fizeram ouvir, e sabe-se a força que têm na Alemanha. “É preciso mais investimento e mais investimento na área da eletrificação”, dizem.

O desemprego já começou

Entre 2015 e 2019, o IFO estima que a diminuição de produção de motores a combustão e componentes relacionados já desceu 13%, mas o desemprego associado foi “apenas” de 8%, o que equivaleu a 8000 desempregados.

A diferença é explicada pela necessidade de trabalhadores para a fabricação de alguns componentes elétricos, enquanto os motores a combustão continuam em produção.

O problema principal é que os motores elétricos são muito menos complexos de fabricar e levam muito menos componentes, diminuindo o volume de mão-de-obra necessária e também o volume de peças de fornecedores externos.

Formação é uma solução

O outro problema é a habilitação dos trabalhadores. Quem passou anos ligado aos motores a combustão, não pode ser reconvertido para a produção de motores elétricos do dia para a noite. É preciso formação específica, e nem todos estarão em condições de a receber.

Os sindicatos pressionam neste sentido da formação e reconversão de um máximo de trabalhadores, seja nos empregados pelos construtores, seja nos fornecedores, muitos deles empresas de pequena e média dimensão.

Nem todas em empresas fornecedoras vão conseguir superar este desafio. Mas as que já tinham o “know-how” elétrico, vão ter sucesso.

Maior exigência no CO2

Este assunto não é novo, mas tomou novas proporções com o anúncio da subida de exigência de redução de CO2 na Europa. Até há pouco tempo, os políticos de Bruxelas tinham determinado uma descida de 40% nas emissões, considerando os valores entre 1990 e 2030, mas agora subiram a exigência para os 50% e isso está a deixar preocupada a indústria automóvel.

Ola Kallenius, o CEO da Daimler AG, já disse que “temos que ter uma conversa muito séria acerca do desemprego” referindo-se aos efeitos das novas normas. Apesar de os construtores ainda não saberem ao certo qual será a contribuição que lhes será exigida, na redução das emissões de CO2.

Kallenius afirmou que a sua empresa vai criar mais empregos na área do “software” mas isso implica níveis de formação que podem não ser suportados por muitos operários da área dos motores de combustão. A reconversão será muito difícil.

Investir na eletrificação

Joerg Hoffmann, líder de um dos mais importantes sindicatos alemães, afirmou que é preciso investimento em novas fábricas de baterias para automóveis elétricos, só isso poderá impedir que a indústria automóvel seja atingida por uma onda de desemprego.

Claro que os construtores de automóveis alemães e europeus, iriam preferir comprar baterias para os seus carros elétricos na Alemanha e na Europa, em vez de ter que recorrer aos fornecedores chineses que dominam esse mercado.

Por isso, estão a pressionar a classe política para que, uma parte do investimento necessário para a implementação de fábricas de células de baterias seja composto por dinheiros públicos.

Conclusão

Para os políticos, impor os veículos elétricos como solução de mobilidade foi muito fácil, por ser uma ideia bem recebida pela opinião pública em geral. Mas agora perceberam que têm que apoiar os investimentos necessários à eletrificação, sob pena de ficarem com um problema social que rapidamente iria inverter a popularidade da transição energética.

Francisco Mota

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