10/3/2023. Muito se fala do fenómeno Tesla e do fenómeno Dacia. Mas há outro fenómeno que merece igual atenção. A progressão da Kia, tanto nas vendas como no posicionamento de mercado. Hoje, quando a marca afirma que vai rivalizar com os premium, já ninguém se pode rir da ousadia.

 

A Kia foi fundada em 1944 com o objetivo de fabricar peças para bicicletas, veículos que passaria a construir na década seguinte, antes de passar aos motociclos, nos anos sessenta e depois aos camiões, nos anos setenta. Em 1974 lançou o seu primeiro automóvel de passageiros, o Brisa baseado num modelo da Mazda.

Os anos oitenta trouxeram a primeira crise de crescimento, com a marca a ter que voltar a fabricar apenas camiões. Por essa altura, a Mazda e a Ford investiram na empresa, que voltou aos automóveis de passageiros com o Capital, baseado noutro modelo da Mazda.

Os anos noventa começaram com crescimento acelerado. Em 1991, são lançados o Sephia e o Sportage e inicia-se a exportação, com o mercado português a ser incluido em 1994. A primeira berlina Sephia estava muito abaixo da concorrência, em termos de qualidade e desempenho. Mas o 4×4 compacto Sportage deixou uma boa imagem.

Salva pela Hyundai

Em 1998 é lançada a Kia Carnival, a primeira mini-van Coreana, que teve muito sucesso no nosso mercado, então com os monovolumes em pleno fulgor. Mas a gestão da Kia Motors entrou em declínio e esteve perto da falência, sendo salva quando foi comprada pela Hyundai.

Chung Mong-Koo, presidente da Hyundai e filho do fundador da companhia, Chung Ju-Yung, terá pensado na Kia como a ocupação ideal para o seu filho Chung Eui-Sun, que chegou a ser CEO e presidente da Kia. Em 2020, Eui-Sun subiu a presidente do grupo Hyundai Kia, sucedendo ao seu pai.

Uma história da família, mas uma gestão que nunca se ficou por isso, procurando sempre o sucesso através da expansão. Os resultados dos últimos anos mostram isso mesmo, no que se refere em particular à Kia.

Vendas a escalar

Em 2022, a marca cujo nome significa “despertar para o mundo” vendeu 2,9 milhões de automóveis em todo o mundo e conseguiu subir 4,4% nas vendas Europeias.

Traduzido em números, a Kia vendeu 570 000 unidades na Europa em 2022, sendo 205 000 veículos eletrificados. Mostrando estar na vanguarda da eletrificação.

A vitória do Kia EV6 no The Car Of The Year 2022, o prémio mais respeitado na indústria automóvel e do qual tenho a honra de ser um dos 61 jurados de 23 países, foi um marco histórico para a empresa.

O que é o “Plan S”

Por isso, não espanta que a marca tenha no seu “Plan S” uma ambiciosa rota na direção da eletrificação, prevendo o lançamento de 14 novos modelos 100% elétricos até 2027, em todo o mundo.

A Kia espera que isso lhe permita atingir os 4,0 milhões de carros vendidos em 2030, metade dos quais eletrificados e, desses, 1,2 milhões sendo 100% elétricos. Isto em termos globais.

Para a Europa, na mesma altura, as estimativas são ainda mais ambiciosas, esperando vender 90% de veículos eletrificados, 75% dos quais vão ser 100% elétricos. E isto com uma cobertura de 80% do mercado, em termos de segmentos.

Como ser premium?

O grande objetivo da Kia é ser o Nº 1 em mobilidade elétrica na Europa, nem mais, nem menos! Mas não só. Os dados de vendas do EV6 estão a encorajar voos mais altos.

Segundo a Kia, as vendas do EV6 estão a mostrar que o modelo consegue uma elevadíssima taxa de conquista de novos clientes para a marca, cerca de 85%. Ou seja, compradores que nunca tinham tido um Kia antes do EV6.

Mais importante, 50% dos compradores do Kia EV6, tinham antes um modelo premium de uma das três marcas alemãs que dominam essa faixa: Audi, BMW e Mercedes-Benz.

O papel do EV9

O próximo modelo 100% elétrico a ser lançado pela Kia será o SUV de sete lugares EV9. Feito com base na mesma plataforma do EV6, o novo modelo 100% elétrico posiciona-se no segmento acima, o “E”, onde vai rivalizar com o Tesla Model X e todos os grandes SUV elétricos das marcas alemãs.

Por tudo isso, não espanta que a marca afirme que vai lutar de igual para igual com as marcas premium, com um SUV que terá 560 km de autonomia e estará à venda já no último trimestre deste ano.

Para quem se lembra dos primeiros tempos da Kia em Portugal, no início dos anos noventa, o contraste com os produtos atuais é simplesmente incrível.

A evolução em Portugal

O mercado português tem dado por isso, como mostram as vendas de 2022, que registaram um crescimento de 20%, fazendo a quota de mercado da Kia em Portugal ultrapassar os 4,0% pela primeira vez, cifrando-se nos 4,1%.

Em 2022, a Kia vendeu 6 419 ligeiros de passageiros em Portugal, ficando em 11º lugar no ranking das mais vendidas, à frente de marcas como a Opel, Ford e Nissan. Cerca de 27% das suas vendas foram de veículos eletrificados, desses, 12% foram 100% elétricos.

Muito importante também é que 61% das vendas foram feitas a clientes particulares e só 24% a empresas. O que equivale a dizer maiores margens de lucro.

E como será 2023?

Também em Portugal, a Kia não tem medo de anunciar as suas estimativas para 2023, com um detalhe invulgar.

Assim, a Kia espera vender em 2023, em Portugal, 7250 carros, numa subida de 4,5% face a 2022, apesar das dificuldades de abastecimento que não vão ainda desaparecer por completo.

Sendo certo que espera voltar a ter o Stonic como o seu modelo mais vendido, haverá um reforço nas vendas de modelos maiores e mais lucrativos, casos do Sportage, Niro e XCeed.

O reforço da oferta PHEV faz também parte dos planos, até porque tem no Ceed SW e XCeed equipados com essa tecnologia, dois modelos que ficam no primeiro escalão, abaixo dos 27 500 euros.

Conclusão

Se a Hyundai há muito tempo declarou que tem na Volkswagen o seu exemplo a bater, se tivermos em conta a maneira como a Kia está a crescer, não admira que dentro em pouco possa dizer que o seu objetivo é fazer jogo igual com a Audi.

Francisco Mota

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