26/11/2021. É das perguntas que mais vezes me têm feito, nos últimos tempos: será que já está na altura de comprar um automóvel elétrico? Não tenho uma resposta padrão, tudo depende do comprador. Mas não me furto a apontar algumas pistas.

 

Sabendo qual é a minha área de especialidade jornalística, há duas perguntas que muitos me têm feito ao longo dos anos: qual é o carro que mais gostei de testar e qual o próximo carro que devem comprar.

A resposta à primeira pergunta é muito complicada, mas quem está à espera que eu responda o desportivo mais potente, ou a berlina de maior luxo, acaba por ficar desiludido. Claro que testes de modelos da Bugatti e da Rolls Royce me ficam sempre na memória.

Mas guiar um modelo com um novo conceito ou uma nova tecnologia é muitas vezes mais interessante, sobretudo quando esses modelos são acessíveis e podem realmente mudar a vida de muitos automobilistas.

Por isso, essa resposta é sempre muito comprida, incluindo um conjunto alargado de modelos que guiei nos últimos trinta anos.

Que carro devo comprar?

Quanto à segunda pergunta, a resposta é ainda mais complexa e obriga a um “diagnóstico” de quem faz a pergunta: qual o melhor carro para as suas necessidades específicas?

Uma resposta muito racional, raramente é aquela que procura quem pergunta. Não se pode esquecer que a compra de um automóvel ainda tem muito de emocional, para muitos compradores.

Mas, claro que a parte do negócio, dos descontos, promoções e retomas são muitas vezes o fator decisivo

Por vezes, resulta melhor devolver a pergunta: “em que carros estava a pensar?…” Depois é só ver se algum dos modelos dessa lista está demasiado desadequado à utilização que vai ter e perceber para que lado pende a escolha emocional.

Mas, claro que a parte do negócio, dos descontos, das promoções, das retomas e das condições de pagamento são muitas vezes o fator que determina a opção final e nisso, eu já não me meto.

Devo comprar um elétrico?

Recentemente, uma das perguntas que mais tenho ouvido é outra e que mostra a preocupação com que muitos olham para a tão falada transição energética.

E a pergunta é simples: “será que já chegou a hora de comprar um carro elétrico?…”

As notícias de que os carros a combustão vão ser proibidos, têm sido amplificadas ao ponto de se ignorar os detalhes. E são detalhes importantes.

O que tem sido anunciado por alguns países é a intenção de parar a venda de modelos novos que não tenham emissões zero, a partir de 2030, ou 2035.

Para já, ainda nenhum governo anunciou um prazo para a proibição de utilização de automóveis usados com motor de combustão.

Por isso, não há nenhuma urgência legal para trocar já a combustão pela electricidade. Mas há outro tipos de razões, práticas e políticas.

Que utilização para um EV

Ainda mais importante, que em relação a um modelo com ICE (Internal Combustion Engine) a compra de um elétrico é totalmente condicionada pelo perfil do utilizador.

Tirando os casos em que a compra de um EV (Electric Vehicle) se faz por questões de moda ou de convições ambientais, nos outros casos é preciso perceber qual vai ser a utilização que lhe vai ser dada e que condições de carregamento da bateria estão ao dispor do utilizador.

Surpreende-me a quantidade de pessoas que não faz ideia da diferença de preço

Logicamente, antes de tudo isso, é preciso saber se o potencial comprador está disposto a pagar o preço de um EV, mais alto que um ICE equivalente. E surpreende-me a quantidade de pessoas que não faz ideia dessa diferença de preço.

Vamos aos detalhes

Depois entramos nos detalhes específicos. Quantos quilómetros vai fazer por dia? Vai usar o carro em cidade ou em autoestrada? Vai fazer viagens longas?

A resposta a qualquer destas pergunta pode desaconselhar a compra de um elétrico, neste momento. A questão da autonomia das baterias limita o uso dos elétricos na autoestrada, por dois motivos.

Em autoestrada, os consumos dos EV sobem muito em função da velocidade e nem é preciso ir muito depressa. A 120 km/h o consumo pode ser 50% mais alto que em cidade e a autonomia desce em conformidade.

As possibilidades de regeneração de energia nas travagens são muito menores, pois as travagens são muito menos frequentes e isso também faz aumentar o consumo e diminuir a autonomia.

Nas viagens longas vai ser preciso recarregar a bateria. E isso é um processo que demora tempo. Usando os carregadores rápidos, encurta-se esse tempo, mas aumenta o custo dos carregamentos, podendo chegar-se a um preço por quilómetro semelhante ao de um ICE.

EV em cidade faz mais sentido

Se a utilização for sobretudo urbana e suburbana, a utilização de um EV torna-se mais simples. Os consumos descem, a autonomia sobe e há mais carregadores por perto, sendo possível carregar a bateria por períodos mais curtos e mais vezes.

Mas é bom notar que todos os carregamentos feitos em postos públicos têm um custo muito mais elevado do que se o carregamento for feito numa tomada ou numa “wallbox” instalada em casa ou no local de trabalho.

Conclusão

Tendo em conta o estado atual da rede de carregadores públicos, sobretudo a falta de carregadores normais a corrente alternada, o melhor conselho que tenho para dar é este: se não tiver acesso a uma tomada doméstica ou uma wallbox onde possa deixar a bateria a carregar durante a noite, a sua experiência de propriedade de um EV não irá ser das mais eficientes. Nem das mais fáceis.

Francisco Mota

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