ID.R – the electric sports car of Volkswagen Motorsport.

04/12/2020. Esta semana a VW disse adeus a todas as formas de desporto automóvel, a BMW disse que vai sair da Fórmula E e a Audi também. A justificação é a mesma: têm que investir na eletrificação. Será o princípio do fim para o desporto automóvel?

 

Para que serve a participação oficial dos construtores no desporto automóvel? Fiz esta pergunta a um CEO de uma grande marca e ele hesitou bastante antes de dar a resposta padrão, em que já nem ele acredita: “para desenvolver tecnologias que podem ser depois aplicadas na produção dos automóveis de grande série.”

Não é preciso acompanhar de perto as várias formas de desporto automóvel para saber que esta verdade há muito deixou de o ser, tal é o afastamento entre os carros do dia-a-dia e os usados nas corridas. A transferência tecnológica é hoje praticamente nula.

As exigências da competição e dos carros de grande produção são completamente diferentes. Por exemplo, sabia que os Fórmula 1 ainda usam jantes de 13 polegadas?… Isso afeta tudo o que tem a ver com a suspensão e nada pode ser aproveitado para a grande série.

O exemplo do WRC

Outro caso curioso é o dos carros do WRC, onde apenas a silhueta de cada carro faz lembrar (vagamante) o modelo de série. A estrutura em aço tem uma função pouco mais do que decorativa, a verdadeira resistência e rigidez vem de uma estrutura tubular que está por baixo.

Mais, as caixas de velocidades sequenciais nada tem a ver com as da grande série. Os WRC têm tração às quatro rodas, enquanto as versões de série só têm tração à frente e nem o motor é feito pelo próprio construtor. Já para não falar da eleborada aerodinâmica, que mal sobrevive aos troços de rali, quanto mais à vida real.

Olhando para as categorias principais das corridas de GT, estamos perante um cenário muito semelhante, com a agravante de existir um sistema para equilibrar o andamento dos vários carros, que passa pelo lastro, controlo da pressão de sobrealimentação e muito mais.

Le Mans foi longe demais

Se falarmos então dos protótipos de Le Mans e do desconhecido campeonato de que faz parte, o WEC, a complexidade dos carros híbridos era tal que marcas como a Audi e Porsche há vários anos o abandonaram, deixando a Toyota sozinha.

O futuro do WEC e de Le Mans parece estar agora em carros híbridos com sistemas mais simples que o de um Toyota Prius. E não são muitas as marcas que mostraram interesse.

A redução de custos é o tema mais falado quando se fala de desporto automóvel, nas últimas duas décadas. Mas parece que é uma guerra perdida, seja a que nível for.

Usar o dinheiro noutro lado

É essa a justificação que a Volkswagen deu para fazer o seu anuncio de que se iria retirar de todas as formas de desporto automóvel em que estava envolvida, que já não eram muitas.

A VW diz que prefere usar o dinheiro a desenvolver a eletrificação dos seus modelos de grande série, o que pode ser o rastilho para outras marcas fazerem o mesmo.

Quase na mesma altura, também a BMW anunciou que se retira da Fórmula E no final da próxima temporada, o que talvez seja mais inesperado, dada a imagem que se pode tirar desta Fórmula de monolugares elétricos.

A Audi também se retira da Fórmula E, mas diz que vai fazer o Dakar. O Dakar é um caso único, pois sendo apenas uma prova (também há um campeonato, ainda mais desconhecido) a verdade é que tem imensa cobertura mediática durante duas semanas seguidas de Janeiro. Tornou-se numa espécie de série de Netflix.

Novas gerações, o que pensam?

Mas há outros casos de marcas que se estão a retirar do desporto automóvel ou, pelo menos, a reduzir os investimentos, como a Porsche e a BMW nos GT. À hora que escrevo, a Hyundai ainda não confirmou se vai continuar no WRC.

A ideia de que o desporto automóvel é um “laboratório” para testar soluções que vão ser usadas nos carros do dia-a-dia é hoje apenas um conceito de marketing. Mas nem isso parece estar a “colar” nas novas gerações de espetadores.

Por outro lado, a presença em competições apenas como meio de publicitar a marca, também já teve melhores dias. O que pensam os entusiastas dos veículos elétricos, que vão sendo cada vez mais, quando olham para vinte carros de Fórmula 1 às voltas a um circuito durante duas horas?…

Os mais conhecedores talvez saibam que os F1 são híbridos há alguns anos e muito eficientes. Mas, por razões que só a F1 sabe, essa mensagem nunca é a que passa para o exterior.

Eletrificar as corridas?

Podia pensar-se que a solução seria a eletrificação dos carros de competição e isso está a acontecer. Depois da Fórmule E, o mesmo promotor está a lançar uma competição “off-road” para carros elétricos. Mas são todos iguais para todos os participantes, limitando o raio de ação dos construtores.

Também o campeonato mundial de ralicross WRX, está em vias de passar a elétrico, mas o entusiasmo dos construtores não tem sido imenso.

O anúncio da Volkswagen tem a força do simbolismo. Mas não é só política. Os construtores precisam mesmo de canalizar tudo o que puderem para a eletrificação dos seus automóveis, por um lado.

Por outro lado, o entusiasmo das novas gerações pelas corridas também já não é o que era. A lógica é inatacável. Mas estará o desporto automóvel condenado?

Conclusão

A grande rival da VW, a Toyota, pensa que não e aposta em várias formas de desporto automóvel consoante a região do globo. A Toyota, ainda continua a acreditar no desporto automóvel como uma boa forma de promoção, pelo menos enquanto for liderada por Akyo Toyoda, um entusiasta e um praticante.

Francisco Mota

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