14/10/2022. “The future is neutral” é o nome da nova entidade do Grupo Renault que se vai ocupar da economia circular. Não só para as suas marcas, mas para toda a indústria automóvel europeia. Mas, afinal, o que é a economia circular?…

 

Esta semana, Luca De Meo, o CEO do Grupo Renault, anunciou a criação de uma nova entidade dentro do grupo, o seu nome é “The future is neutral” e vai dedicar-se por inteiro à economia circular com o intuito de tornar a empresa neutra em emissões de CO2.

Os objetivos desta iniciativa são, não só, servir as marcas do grupo, mas também prestar serviços a toda a indústria automóvel europeia. O objetivo é liderar esta área, na Europa.

Economia circular, o que é?

Mas afinal o que é a economia circular? A definição mais abstrata talvez seja a manutenção da cadeia de valor dos materiais dentro da indústria automóvel. Mas isso traduz-se em quê?…

As principais áreas de atividade são a reutilização, recondicionamento e a reciclagem de componentes de automóveis. São áreas em que o Grupo Renault já trabalha, mas nas quais vai investir ainda mais, em parceria com empresas especializadas.

Manter a cadeia de valor

A ideia da entidade “The Future is Neutral” surge da constatação de uma realidade muito simples, como afirmou Luca De Meo: “85% dos materiais de um automóvel são reciclados, mas apenas 30% ficam na indústria automóvel.”

A maioria dos materiais reciclados a partir de automóveis – como plásticos, vidros e metais – acabam na indústria metalúrgica ou na construção civil, perdendo-se assim o seu valor para a indústria automóvel.

Numa altura em que as matérias primas custam cada vez mais caro e são mais difíceis de obter, esta aposta na reutilização e na reciclagem é particularmente oportuna, mas não é um plano de curto termo.

Oportunidade de negócio

Segundo dados da Renault, todos os anos são abatidos 11 milhões de automóveis na Europa, uma oportunidade para a economia circular funcionar, pois têm um potencial de recuperar 8 milhões de toneladas de aço e 5 milhões de plásticos e cobre.

De Meo procura investidores externos, por isso não deixou de apresentar as projeções dos números do negócio: “turnover” estimado de 2,3 mil milhões de euros e margem operacional de 10%, até 2030.

Os desafios da eletrificação

A transição energética acrescenta outras questões ao problema, relacionadas com a reciclagem de baterias de veículos elétricos. O crescimento do mercado vai levar ao crescimento brutal desta área.

Neste campo, o Grupo Renault está numa posição ímpar, devido à sua experiência de mais de uma década com modelos 100% elétricos.

São cerca de um milhão de elétricos da Renault a circular na Europa e vão ser os primeiros a chegar à fase de reciclagem das baterias.

Maximizar o conceito

A empresa The Future is Neutral pretende maximizar este conhecimento, desde logo ao nível da chamada “segunda vida” das baterias, encontrando-lhes utilidade, depois de já não serem utilizáveis num automóvel.

Mas também com a construção de uma unidade de reciclagem de baterias em fim de vida. Um investimento que se justifica se olharmos para algumas das estimativas de procura de matérias primas nos próximos anos.

Subida no consumo de matérias-primas

Assim, até 2030, a Renault prevê um crescimento de 70% no consumo de Lítio, mais 53% no consumo de Cobalto e mais 40% no consumo de Níquel.

São valores significativos sabendo que 40% de todo o Lítio consumido no mundo já vai para a indústria automóvel.

Para fazer face a este crescimento da procura, a “The future is neutral” pretende multiplicar por dois a reciclagem de aços, multiplicar por seis a reciclagem de plásticos e cobre e multiplicar por 6 a reciclagem de derivados da Platina. Só para dar alguns exemplos.

A soberania dos materiais

A questão tem também uma vertente de soberania, pois 75% do Lítio produzido hoje em dia tem origem nos EUA e Austrália, sendo depois 65% refinado na China. A economia circular poderá atenuar esta dependência.

A Renault já tem uma instalação, em Flins, França, onde faz o recondicionamento de automóveis usados, estendendo a sua vida útil com peças também elas recondicionadas.

Esta ReFactory vai juntar-se a outras empresas subsidiárias, especialistas em áreas como o desmantelamento seletivo de automóveis para abate, recondicionamento de peças, reciclagem de metais e reciclagem de baterias.

Conclusão

A economia circular tem muitas áreas por onde pode crescer e desenvolver-se. É um conceito muito pragmático e com resultados, em termos ambientais e económicos, fáceis de quantificar. É um negócio, mas parece ser um negócio mais claro e transparente do que outros que gravitam em redor da indústria automóvel europeia.

Francisco Mota

Ler também, seguindo o LINK:

Novidade – Renault Austral: o SUV híbrido que lhes faltava