O Dacia Duster já vendeu quase dois milhões, em dez anos

Jogger tem sete lugares e usa a base do Sandero

O Sandero é o mais vendido a particulares na EU

Desenho mais "off road" para reforçar a imagem

O Bigster será mais lucrativo que os outros Dacia

Dacia Bigster vai levar a marca ao segmento C-SUV

17/9/2021. Baixo preço, muito valor, esta tem sido a fórmula de sucesso da Dacia. Mas como vai a marca do Grupo Renault lidar com a dispendiosa transferência para a electrificação? Como vai evitar subir os preços dos seus carros?

 

Mais que um sucesso, a Dacia tem sido um fenómeno nos últimos anos. Desde que começou a ser vendida na generalidade dos mercados europeus que o seu percurso mudou muito. No início, era a opção de ter carro novo ao preço de um usado. Era do mercado de usados que vinham os seus clientes, nada menos do que 60% do total.

Hoje, apenas 35% dos clientes da Dacia deixam de comprar um usado para comprar um modelo novo da marca Romena. Cerca de 25% são clientes que tinham um carro comprado novo a outra marca e que mudaram para a Dacia. O resto já são fiéis da marca.

Só para dar uma ideia da dimensão do fenómeno, o seu modelo Duster vai ultrapassar este ano os dois milhões de unidades vendidas, desde que foi lançado há dez anos. E isto contando apenas com a versão vendida na Europa. Acrescentando os 1,5 milhões de Duster vendidos na Rússia e América do Sul, sob a marca Renault, o total sobe aos 3,5 milhões.

Outro dado revelador e bem conhecido é a posição do Sandero como o carro mais vendido a clientes particulares na Europa, as pessoas que pagam o carro do seu bolso, portanto excluindo frotas de empresas.

Plano de produto em marcha

Com este cenário, o Grupo Renault prova que consegue bons resultados com o mínimo de investimento. Todo o “hardware” dos modelos da Dacia é proveniente da Renault. Mas não se pense que a marca usa material antiquado. O Sandero é feito sobre a mesma plataforma do atual Clio.

O plano de produto para os próximos anos já começou a ser executado. A primeira etapa foi a apresentação do Jogger no recente salão da Munique. Estive perto do carro, pude sentar-me nos sete lugares e não senti falta de espaço na terceira fila.

Isto, para um carro que é feito a partir do Sandero, com a plataforma alongada e reforçada. O difícil será encontrar rivais para um modelo que as famílias numerosas vão adorar.

Entrada no segmento C

O grande passo vai ser o lançamento de um SUV no segmento “C” dos familiares compactos. A Dacia diz que é o primeiro modelo que lança neste segmento, apesar de o Duster ter dimensões que lhe permitem lutar na base dessa franja de mercado.

Para já, foi mostrado sob a forma de um concept-car a que foi dado o nome Bigster, com um estilo que reforça as noções de robustez, durabilidade e capacidade de condução “off road”.

Será o primeiro Dacia feito com base na plataforma CMF-B da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, visando um segmento com maior margem de lucro e outra exigência em termos de equipamento.

Estilo da “Aston Martin”

O estilo dos Dacia está a mudar progressivamente, encostando-se cada vez mais à linha SUV “puro e duro”. O Bigster é bem o exemplo disso. Luca de Meo, o CEO do Grupo Renault, disse-me em Munique que a Dacia pode vir a ser sinónimo de “jipe” francês, desenvolvendo ainda mais o conceito Duster: tem o essencial e um ar imparável.

O responsável pelo desenho dos futuros Dacia será Miles Nuernberger, o homen que tem desenhado alguns dos mais recentes Aston Martin. Para ele, a mudança é radical, mas se há alguém que poderá dar um ar ainda mais focado aos Dacia, é mesmo Miles.

Oferecer o essencial

Numa conversa com Xavier Martinet, o líder do marketing mundial da Dacia, ele disse-me que a marca não pode perder os seus argumentos fundamentais: “oferecer aquilo que o cliente está disposto a pagar hoje, o essencial.” Se isso implica não ter cinco estrelas nas avaliaçãoes da EuroNCAP, por falta de uma ou outra ajuda eletrónica à condução, que seja.

Mas Martinet admite que, com as próximas normas, será necessário melhorar um pouco os Dacia nesse aspeto.

Tudo isto parece claro e destinado ao sucesso. Mas como vai a Dacia lidar com a transição para a eletrificação? Sabendo os custos elevados das baterias, que fazem os preços dos modelos elétricos disparar. Será a electrificação uma armadilha a que a Dacia não conseguirá escapar?

Electrificação faz subir preços?

Martinet disse-me que não. “A Dacia vai passar a sua gama para veículos elétricos o mais tarde possível e sempre com tecnologia Renault”. Deste modo, a Dacia espera que a tecnologia desça de preço e se enquadre melhor no seu modelo de negócio. Mas não é tudo.

Segundo Martinet, o baixo peso, que é já um atributo dos atuais modelos, vai continuar a ser um objetivo, mesmo para os Dacia elétricos. Uma primeira amostra disso já foi dada com o mini-SUV elétrico Spring.

“O baixo peso da estrutura tem muitas vantagens, desde logo nos consumos e na possibilidade de instalar baterias, sem que o peso total do carro suba demasiado.” Mas é realmente na evolução da tecnologia das baterias que a Dacia acredita para manter o seu posicionamento.

Apanhar o último comboio

A razão de querer apanhar o último comboio dos carros elétricos tem a ver com três esperanças que são comuns a muitas marcas: diminuição de peso e custo das baterias, aumento da rede de carregadores públicos não-rápidos e, dados esses dois assuntos resolvidos, a esperança que os clientes percebam que não precisam de baterias com grande autonomia.

Com tudo isto, a Dacia espera manter-se como uma marca de “value for money”, com preços imbatíveis e fornecendo ao comprador o essencial. “Saber o que deixar de fora num Dacia, sempre foi um desafio da marca. Deixar ficar apenas o essencial para o cliente.”

Mas, em simultâneo, há a necessidade de reforçar o conteúdo dos modelos da Dacia, porque os clientes querem gastar o mínimo, mas ter o máximo. “Na Europa, 50% das vendas do Duster são da versão mais equipada Prestige” afirma Martinet, que já anunciou uma versão limitada Extreme do Duster, para 2022.

Conclusão

Uma coisa é certa, a Dacia vai continuar a ser acessível, não se atreve a fazer o percurso da Skoda dentro do Grupo Volkswagen, que, de uma marca de “value for money” está hoje equiparada à VW em quase todas as áreas de produto e muito perto, em preço.

Francisco Mota

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