15/10/2021. A indústria automóvel está a passar por uma crise sem precedentes, com uma dramática falta de semi-condutores. São essenciais para qualquer novo modelo, mas os fornecedores não os estão a enviar para as marcas. De quem é a culpa?

 

Os semi-condutores, também conhecidos como “chips” são fundamentais para qualquer máquina moderna, com os automóveis na lista, como é óbvio. Estes componentes eletrónicos são necessários para o funcionamento de praticamente todos os sistemas elétricos e eletrónicos, que não param de aumentar nos carros modernos.

Cada carro precisa de dezenas de semi-condutores para poder funcionar e ser entregue ao cliente. Apesar de serem componentes baratos e de fabricação em quantidades enormes, não estão a chegar às marcas de automóveis.

O resultado é a redução na produção de automóveis em praticamente todas as marcas, levando à paragem de fábricas, por falta desses componentes vitais.

As últimas estimativas a que tive acesso, apontam para um quebra na produção mundial de automóveis na ordem dos 3,9 milhões de unidades, quando chegarmos a Dezembro.

Marcas e compradores afetados

Os problemas que isto vai causar às marcas e aos seus trabalhadores, são proporcionais a esta quebra forçada de vendas. Mas os compradores também são afetados.

As listas de espera para compra de carros novos crescem a olhos vistos, para quase todos os modelos. São meses de espera para ter um mero citadino, uma situação que antes acontecia apenas a carros premium.

Existem compradores com dinheiro, mas não há carros para entrega

A situação é particularmente penosa porque existe procura do lado dos compradores. A pandemia arrefeceu o consumo e aumentou as poupanças, por isso há compradores.

Por outro lado, o pós-pandemia também levou à compra de mais automóveis, pelo receio de muitos em usar transportes públicos.

Usados beneficiam

O setor dos carros usados tem beneficiado desta falta de carros novos para entrega, como é lógico, com a procura e os preços a subir. Mas, chega a um ponto em que também já não há carros usados para vender.

As consequências desta situação, para as marcas, podem ser realmente graves, se não for encontrada uma solução rápida. Mas como resolver a questão?

Nos semi-condutores, como em muitos outros componentes que são necessários para fazer um carro, os construtores dependem de fornecedores externos. Não são as marcas que fabricam tudo no automóvel que compramos, longe disso.

Como o negócio está montado

Esta dependência de empresas externas é uma boa ideia para todos, quando a “máquina” rola sem problemas. Os fornecedores fazem o seu negócio e as marcas livram-se de mais um problema, dando-se ainda ao luxo de colocar os fornecedores em luta entre eles para obterem o preço mais baixo.

Mas, se há muitos fornecedores que estão totalmente dependentes da indústria automóvel, os que fabricam os semi-condutores não estão. Pelo contrário.

Smartphones, computadores, consolas de jogos, tablets, televisões, absorvem a maioria dos semi-condutores

A esmagadora maioria dos semi-condutores fabricados no mundo tem a eletrónica de consumo como destino: smartphones, computadores, consolas de jogos, tablets e televisões são alguns exemplos.

Uns sobem, outros descem

No inicio da pandemia, aconteceram duas coisas em sentido contrário: a produção de automóveis parou e a produção do setor da eletrónica de consumo subiu. As pessoas estavam em casa, muitas começaram o trabalho à distância ou o ensino à distância e precisaram de comprar dispositivos.

É claro que, quando as fábricas de automóveis reabriram e voltaram a encomendar semi-condutores aos fornecedores, levaram com um “não” pela frente. Ou pelo menos com um “esperem lá um pouco.” A prioridade continuou a ser a eletrónica de consumo.

Como resolver a situação?

Como se resolve um problema destes? Alguns construtores de automóveis dizem que se vão preparar para fazer eles próprios os semi-condutores de que precisam. Mas montar uma fábrica deste tipo não é coisa que se faça em poucas semanas. Demora meses.

É claro que, agora, os construtores começam a arrepender-se de dependerem tanto de tão poucos fornecedores, quase todos oriundos da Ásia.

O “just-in-time” funciona bem quando a “máquina” está a rolar sem problemas

Mas o sistema de produção “just-in-time” há muitos anos que vive dos fornecedores entregarem os seus componentes na hora certa, no local certo, para evitar custos de armazenagem.

Esta crise dos semi-condutores não será de solução rápida. E nada garante que não venha a surgir outra crise do género no futuro, com outro tipo de componente essencial à construção de um automóvel.

Conclusão

De quem é a culpa, então? Os fabricantes de semi-condutores fazem o seu negócio e fornecem os seus melhores clientes primeiro, que são os produtores de eletrónica de consumo. Os construtores de automóveis escolheram ficar dependentes de um grupo de fornecedores de semi-condutores, para conseguirem preços mais baixos para os automóveis, que é o seu negócio. Em vez de culpa, estamos perante uma tempestade perfeita.

Francisco Mota

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