13/03/2020 – Carros mais caros? Menos carros para vender? Marcas falidas? Como vai ser afetada a indústria automóvel pelo Coronavírus?

 

Após um mês de encerramento, a indústria de Wuhan, na China, regressa lentamente à atividade.

Não em todos os setores, apenas nos relativos a bens essenciais e a áreas com “uma grande importância na cadeia de produção nacional e internacional” estipularam as autoridades chinesas. E a indústria automóvel é uma delas.

Wuhan, uma zona altamente industrializada, tem várias fábricas de construtores nacionais e estrangeiros, casos da PSA, Renault, Honda e também do gigante local Dongfeng.

Com a forte redução de casos de Coronavírus na região, a produção retoma lentamente o ritmo.

Primeiro com turnos simples e produção a “meio gás”, mas algumas fábricas já vão começar com o segundo turno durante a próxima semana e até dia 21 de Março, espera-se que tudo volte ao normal.

Colapso nas vendas

Os efeitos do Coronavírus no mercado automóvel chinês fizeram-se sentir com uma redução de 92% nas matrículas em Fevereiro, algo de que será muito difícil recuperar até ao final do ano.

Segundo a Moody’s, a previsão é que o mercado chinês feche o ano com uma quebra de 2,9%, quando estava prevista uma subida de 1%, para este ano.

Mas a paragem da produção na China também teve efeitos noutros países produtores de automóveis.

Com a globalização da indústria e os métodos de fabricação “just in time”, que dispensam grandes armazenamentos de componentes para alimentar as linhas de produção, a paragem da China teve efeitos negativos para muitas fábricas noutros países.

Contudo, “insiders” da indústria afirmam que os atrasos provocados pelo fornecimento de componentes feitos na China, são recuperáveis até ao final do ano, mas só se o Covid-19 for contido até ao final de Março.

Os efeitos na cadeia de produção não são tão dramáticos quanto se poderia pensar e o encerramento temporário de fábricas não está a ser tão generalizado quanto o temido, pelo menos por agora.

A verdade é que todos os construtores trabalham com stock de carros produzidos e isso dá-lhes uma margem no fornecimento da rede. Sobretudo nos modelos mais populares.

O caso italiano

Claro que o caso italiano é diferente. A Fiat Chrysler Automobiles já anunciou o fecho temporário de quatro unidades no território, seguindo as diretivas governamentais. O grupo VW também fechou a produção da Lamborghini.

Antes disso, já tinham sido implementadas medidas de higienização, trabalho a partir de casa para os funcionários administrativos e outras iniciativas do género.

Com o regime de quarentena em Itália, a venda de automóveis não está na lista das atividades consideradas prioritárias e autorizadas. Mas o mesmo já não se passa com a assistência técnica.

Pelo menos os veículos de emergência, os carros de médicos, enfermeiros e outros trabalhadores da área da saúde têm garantida a assistência.

Nos restantes países, ainda é cedo para prever o efeito final do Coronavírus na indústria e nas vendas.

Em Fevereiro, na Europa, a Alemanha foi o único mercado a registar uma descida superior a 10%, ficando a Espanha em segundo lugar, com uma descida de 6%. Espera-se a evolução nos próximos meses.

Segundo a Moody’s, a quebra de vendas de automóveis no mercado mundial deverá atingir os 2,5% em 2020, quando esteva prevista uma subida de 0,9%.

Esta estimativa de descida é grave, sobretudo porque se acumula a uma descida de 4,6%, em 2019. Mas as estimativas para 2021 são de franca subida.

O problema não é a produção

A crescente automatização das linhas de produção foi transformando a fabricação de um automóvel numa atividade com menor concentração de operários que no passado, sendo mais fácil agora garantir a chamada distância social entre os trabalhadores.

Os efeitos da esperada recessão económica que se seguirá à atual emergência médica, vão ser provavelmente muito mais sérios.

Num ano que já não tinha começado bem, em parte devido à pressão das novas normas anti emissões poluentes, o efeito do Coronavírus na economia terá consequências no comércio automóvel.

Conclusão

Para os construtores que menos investiram na China, talvez seja altura para respirar momentaneamente de alívio. Os mais implicados e dependentes do mercado chinês, vão ter a vida mais difícil. Mas a crise de vendas é muito provável que atinja todos os mercados e todos os construtores.

Francisco Mota

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