Crónica – 24/04/2020: Todos os construtores perspetivam um período negro nos próximos meses. Mas há um fabricante que poderá lucrar com a Covid-19. Descubra qual é…

 

Estudos pré-Covid-19 estimavam que em 2050 a China seria ultrapassada por outro país no lugar do mais populoso do mundo.

Apesar das consequências trágicas do novo corona vírus, não se espera que essa mudança possa ser alterada. E qual é esse país?…

A Índia, segundo os dados mais recentes poderá atingir a posição de país mais populoso do mundo daqui a trinta anos, suplantando a China.

Este dado tem atraído ao mercado automóvel da Índia vários grandes construtores nos últimos tempos.

Vão munidos de planos de expansão desenhados para aproveitar este crescimento populacional e a consequente subida na procura de automóveis.

Oportunidade única

Outro dado fundamental é a taxa de motorização da população. Apenas 30 em cada 1000 pessoas tem carro, um valor que contrasta fortemente com os 102 por 1000, na China e os incríveis 925 por 1000, nos EUA.

Neste momento, o mercado automóvel da Índia é o quinto a nível mundial, vendendo cerca de 3,3 milhões de carros por ano.

As melhores previsões (pré-Covid-19) diziam que poderia subir aos 6 milhões/ano em 2030, mas os mais cautelosos diziam que o mais certo era ficar pelos 3,5 milhões/ano em 2025.

Outro dado que mostra a aceleração da venda de automóveis na Índia, nos últimos anos é a comparação entre as vendas em 2001 (654 000) com as de 2018 (3,3 milhões).

Claro que a Índia ainda está longe dos 25,5 milhões de carros vendidos na China em 2019, mas o potencial de crescimento era grande, antes da pandemia.

Grupos internacionais ao “ataque”

Isso tem levado grande grupos estrangeiros a investir no país, casos da Hyundai/Kia e do grupo VW. O que não é um processo tão fácil como seria de esperar.

A realidade da rede viária da Índia obriga a grandes modificações nos carros vendidos na Europa, para resistirem aos maus tratos das via locais.

E esse processo nem sempre é rentável, sobretudo porque os consumidores ainda dão privilégio aos carros pequenos e acessíveis.

De todos os carros vendidos anualmente na Índia, 60% custam menos de 12 000 euros, o que obriga as marcas de fora a fazerem um esforço grande para criar um modelo de negócio rentável.

Tanto mais que a Índia tem um sistema de impostos protecionista, que penaliza muito a importação.

Para ter sucesso na Índia são precisas duas coisas: fabricar lá os carros, com forte percentagem de incorporação local e desenhar plataformas específicas, de baixo custo e resistentes.

Plataformas específicas

A VW teve que adaptar a sua plataforma MQB A0 para as condições de circulação locais, aumentando a altura ao solo e introduzindo outras modificações para baixar os custos, resultando assim na plataforma MQB A0 IN, exclusiva para a Índia, com 90% de incorporação local.

A Hyundai está há algum tempo no mercado da Índia com resultados muito expressivos, sendo o segundo grupo mais vendido no país, juntando a Kia. Ambas presentes com modelos específicos para o mercado local, com grande ênfase nos pequenos B-SUV.

Tanto a VW como a Hyundai têm conseguido fazer subir o nível de preço dos automóveis comprados pelo mercado local, mas tudo isso está sob forte ameaça da Covid-19.

Os efeitos económicos da pandemia, como em todo o lado, estão a ser uma catástrofe para as vendas. Mas os especialistas locais começam já a ponderar como será o novo normal e que consequências terá no mercado.

Os efeitos do WFH

Olhando para o exemplo da crise financeira mundial de 2008, o mais provável é que os compradores locais voltem a dar prioridade à compra de carros pequenos e baratos.

Vão também dar preferência a marcas líderes e bem conhecidas no país, que representam, aos seus olhos, valores seguros.

Depois, há a acrescentar a descoberta forçada do WFH (Work From Home) o tele-trabalho, que muitos trabalhadores e empresas estão a ponderar dar continuidade, para lá da pandemia.

Em muitos setores, o WFH representa cortes de custos para as empresas e para os trabalhadores, sem descidas na produtividade, pelo contrário.

Além disso, trazem consigo menor necessidade de mobilidade diária, com a consequente descida nas emissões poluentes. A parte menos boa, para quem vende automóveis, é que vão ser menos necessários e/ou menos usados.

Descidas nas vendas, aumento dos ciclos de propriedade, descidas nos custos de manutenção, tudo isto vai contra o negócio do automóvel.

A favor dos carros…

Claro que a possibilidade de isolamento da Covid-19 é muito superior num carro particular do que num transporte público

E o preço de petróleo mais baixo pode fazer descer o preço dos combustíveis, duas razões a favor da compra de automóveis.

Mas, na Índia, tudo isso vai dar ao mesmo lado, que é à compra de carros pequenos, baratos e com custos de utilização baixa. Ou usados.

Como aconteceu em 2008, todos vão voltar a olhar para a Maruti-Suzuki, que domina o mercado da Índia, com 50% das vendas.

São os maiores especialistas em pequenos carros com uma vasta gama de modelos abaixo dos quatro metros de comprimento: Alto, WagonR, Celerio entre outros.

Não são os mais avançados e modernos do mercado, por isso a VW e a Hyundai estavam a fazer o seu melhor para destronar o líder crónico do mercado local. Mas não parece que isso vá acontecer em breve.

Conclusão

Se, antes da Covid-19, a Maruti-Suzuki estava numa fase de grandes interrogações sobre o que teria de fazer no futuro para não perder o domínio do mercado da Índia, hoje, a Suzuki-Maruti parece poder ser a grande beneficiada pela pandemia.

Francisco Mota

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