12/8/2022 – Na utilização diária de um carro, há sempre coisas que irritam. Coisas mal pensadas ou vitimas do corte nos custos de produção. O assistente eletrónico de faixa de rodagem é um dos mais recentes… e mais irritantes!

 

A Crónica à 6ª feira no seu formato habitual foi de férias em Agosto. Regressa na primeira semana de Setembro. No seu lugar voltou a crónica de Verão “Coisas que Irritam”, que já tinha feito as férias da “6ª feira” no ano passado. Hoje, é dia do sexto episódio.

A ideia até era boa. Evitar que os condutores deixem o seu carro sair da sua faixa de rodagem, com o perigo que isso pode representar no meio do trânsito.

E se pensa que isso é desnecessário, basta olhar para as trajetórias em zigue-zague que muitos condutores fazem em estrada, mesmo em linha reta. Razões para isso?

Não é preciso grande investigação para descobrir a razão. E não é por estarem embriagados ou a precisar de mudar de óculos. É porque, muitos, insistem em usar o smartphone enquanto conduzem.

O perigo dos smartphones

E quando digo usar, não é carregar no botão do alta voz e falar, é pior que isso. É responder a e-mails, enviar SMS, conversar no WhatsApp ou mesmo postar “stories” no Instagram, para não referir outras redes sociais, escolhidas por outros condutores, enquanto conduzem.

Um ajudante eletrónico que mantenha o carro na faixa, quando o condutor está distraído com outra coisa, que até pode ser o sistema de infotainment do próprio carro, é uma boa ideia. Mas, como em tudo, uma coisa é a ideia, outra é a sua execução.

Tudo começou por avisos sonoros e luzes a piscar no painel de instrumentos. Já muito irritantes, para quem sabe que está a tocar na linha que delimita a sua faixa, mas que o está  a fazer de forma consciente, muitas vezes para evitar incidentes.

A evolução do sistema

Depois vieram os sistemas que, além de avisar, passaram a intervir na direção, rodando o volante. Claro que o condutor pode sempre fazer mais força que o sistema e anular o efeito, mas da primeira guinada eletrónica não se livra.

Alguns sistemas funcionam ao estilo bilhar às três tabelas

E depois os sistema refinaram-se. Primeiro os que mantêm o carro na faixa, mas deixando-o chegar ao limite da faixa. Dão uma guinada para o outro lado e, quando o carro atinge a linha do outro lado, uma nova guinada para o lado oposto, tipo bilhar às três tabelas.

Os melhores são os que conseguem manter o carro no centro da faixa, usando um complexo sistema de câmaras e sensores e uma gestão que demorou anos a desenvolver. E para quê?

Falta mais desenvolvimento

De todos os sistemas que tenho testado, e devo ter testado praticamente todos os que existem no mercado, são muito poucos os que não irritam. Porque não são nada suaves. Alguns dão guinadas no volante que quase o tiram das mãos do condutor.

Outros são mais suaves, mas empregam uma força que obriga o condutor a agarrar bem o volante para os contrariar. Outros porque são muito nervosos, intervindo demasiadas vezes.

Em geral, estes sistemas irritam muitos condutores, sobretudo os que sabem o que estão a fazer e até deixam o smartphone sossegado num porta-objetos ou no porta-copos.

Às vezes é preciso

Muitas vezes, pisa-se a linha que delimita a faixa para facilitar. Antecipando uma saída de via rápida para manter o trânsito a fluir. Ou passando um carro pela berma, quando está parado ao centro para virar à esquerda.

Ou para evitar um ciclista que roda tranquilamente à frente, ou para passar ao largo de um carro avariado e parado na berma. São muitas as situações em que se pisa a linha, mas por bons motivos.

Só que o assistente de manutenção de faixa de rodagem não sabe isso e faz cegamente o seu trabalho. Irrita quando a eletrónica nos está a corrigir, sabendo nós que não estamos a fazer nada de mal.

Episódios pouco seguros

Claro que, basta accionar o pisca antes de pisar a linha para evitar que o assistente entre em ação. Mas, por vezes, não há tempo para isso, as situações de trânsito nem sempre dão tempo para tudo.

Tive um episódio em que me estava a desviar de um ciclista, pisando obviamente a linha do centro da via e o sistema rodou o volante para a direita, querendo “atirar-me” para cima do ciclista. Depois de uma luta de décimas de segundo com o volante, consegui ganhar o braço de ferro e evitar o ciclista.

Todos oferecem ao condutor a possibilidade de desligar o sistema

A prova final de que os construtores sabem que o sistema não é do agrado de todos os condutores é que oferecem uma forma de o desligar. Seja através de um botão, seja algures numa página do infotainment.

Desligar à partida

Tive há pouco tempo um outro episódio bem revelador. No primeiro teste de um novo modelo, algures na Europa, o responsável da marca pela entrega dos carros aos jornalistas indicava logo à partida onde estava o botão para desligar o assistente de faixa. A isto chama-se confiança no produto…

Faz-me lembrar os primeiros sistema de ABS, que também tinham um botão para se desligar, imagine-se isso nos nossos dias… Ou o próprio ESC, que se pode desligar em cada vez menos modelos, porque é cada vez mais eficiente.

Conclusão

Como conceito, o assistente de faixa de rodagem é válido. Mas ainda precisa de maior desenvolvimento para não irritar tantos condutores, ao ponto de alguns o desligarem assim que entram no carro.

Francisco Mota

Ler também, seguindo o LINK:

Crónica – Coisas que irritam 5: a falta de roda sobresselente