10/2/2023. Akio Toyoda, o carismático presidente da Toyota vai deixar o lugar em Abril. Oficialmente, é uma surpresa mas que herança deixa Morizo ao seu sucessor e qual será o futuro da Toyota sem um “petrolhead” a liderar?

 

Nasceu a 3 de Maio de 1956, completa este ano 67 anos, um jovem pelos padrões dos líderes das maiores empresas japonesas. Mas Akio Toyoda decidiu passar o leme da Toyota Motors a outro capitão, após um período de 14 anos à frente do maior construtor automóvel do mundo.

Oficialmente, os seus pares na cúpula da Toyota Motors mostraram surpresa pela decisão de Akio, mas a decisão foi dele e tem por trás uma estratégia clara, quando se conheceu quem será o seu sucessor e que papel Toyoda continuará a ter.

Koji Sato, até aqui líder da Lexus, será o próximo presidente da Toyota, ele próprio um “miúdo” de apenas 53 anos. Toyoda sobe para “chairman”, não abandona a companhia, por isso se espera que seja o professor ideal para Sato nos próximos anos.

Sair a tempo

Em vez de se eternizar no lugar até ser afastado por excesso de idade e perda de faculdades, Toyoda preferiu sair mais cedo e garantir uma sucessão o mais suave e segura possível. Uma decisão típica da sua personalidade.

Neto do fundador da Toyota Motors, Kiichiro Toyoda, Akio estudou direito no Japão e obteve um “master” de finanças nos EUA. Em 1984 começou a trabalhar na Toyota e em 2004 entrou para o conselho de administração, tornando-se vice-presidente cinco anos depois.

Segundo fontes da Toyota, Akio nunca se fez valer do seu nome para subir na empresa. Mas certamente isso terá sido um fator que o ajudou a ser eleito presidente em 2009, sucedendo a Katsuaki Watanabe, demitido na sequência da crise do controlo de qualidade.

Gerir a crise

Para quem não se lembra, entre 2009 e 2011 a Toyota viu-se envolvida num problema que obrigou a um monstruoso “recall” de nove milhões de automóveis. O problema era fácil de explicar: o acelerador de alguns dos seus modelos ficava preso, levando a despistes mais ou menos violentos.

A questão começou por ser atribuída à má colocação do tapete, que prendia o pedal do acelerador. Mais tarde foi identificado um problema no próprio mecanismo do pedal, que fazia o mesmo efeito. Depois ainda apareceu um problema de ABS defeituoso. Enfim, um pesadelo.

Akio geriu esta crise, que atingiu vários continentes, da melhor maneira e no final a marca acabou por sair reforçada. Foi uma primeira prova de fogo para o presidente, então com 53 anos.

Quem é Morizo?

Em 14 anos de liderança, Akio Toyoda será lembrado sobretudo pela sua paixão pelos automóveis que o levou a adotar o pseudónimo de Morizo Kinoshita, quando participava em corridas, para não levantar muita agitação.

A sua paixão pela condução desportiva levou-o a fazer o curso interno de piloto de testes da Toyota, função que passou a desempenhar em casos concretos, como o do desenvolvimento do GR Yaris. No primeiro contacto que teve com o protótipo inicial, teve um acidente e saiu do carro a dizer que não gostava do comportamento dinâmico.

Morizo/Akio participou em várias corridas, cada vez de forma menos discreta, por exemplo nas 24 horas de Nürburgring, onde guiou o mítico Lexus LFA. A sua paixão e competência levou-o a afirmar a certa altura que “não queria que se fizesse mais nenhum Toyota aborrecido de guiar”.

Gazoo Racing

Este mote levou ao lançamento de modelos como o GT86, que evoluiu para o GR86, seguido pelo GR Yaris e pelo GR Supra, transformando por completo a oferta e a imagem da Toyota. Mas também nos modelos mais comuns se notou a diferença.

O envolvimento na competição ao mais alto nível fez da Gazoo Racing o departamento desportivo da empresa, responsável pela participação no WRC, no WEC e Le Mans e também no rali Dakar. E os resultados dificilmente poderiam ter sido melhores.

Muitas vitórias

Depois de muitos anos a tentar, a Toyota conseguiu vencer em Le Mans pela primeira vez em 2018 e não perdeu mais nenhuma edição até hoje, acumulando cinco vitórias consecutivas. Além de três títulos de marcas no WEC.

Nos ralis, venceu o campeonato de marcas do WRC por três vezes e o de pilotos por quatro vezes e ainda ganhou o rali Dakar por três vezes. Na verdade, só faltou voltar à Fórmula 1.

Atrasado nos elétricos?

Muitos acusam a Toyota de ter chegado tarde aos veículos elétricos, com o lançamento só este ano do bZ4X. Mas a política global da Toyota pondera a sua presença em todos os mercados e não apenas naqueles em que os BEV se tornaram numa prioridade, provocada pela política.

Por ser dos poucos construtores de automóveis presentes em todos os continentes, a Toyota tem uma visão que escapa a outros. E o resultado da sua estratégia, não podia ser melhor ao solidificar a posição de maior construtor de automóveis do mundo, mantendo-se nos dez milhões de unidades produzidas anualmente.

Numa conferência de imprensa organizada em 2021, Akio Toyoda mostrou que a sua marca não estava atrasada na entrada na eletrificação, mas estava no tempo certo. Nesse dia, desvendou nada menos do que 15 novos modelos eletrificados para lançar nos próximos anos, o que deixou a concorrência de queixo caído.

Em todas as frentes

E não se pode esquecer que a Toyota foi até hoje a marca que mais contribuiu para a diminuição de CO2 dos seus automóveis, através dos seus eficientes híbridos. O programa Prius começou há 25 anos e a marca já produziu mais de 20 milhões de diferentes modelos híbridos até hoje.

Akio nunca deixou de mostrar como a Toyota estava implicada no desenvolvimento de outras tecnologias que não apenas a dos híbridos ou dos 100% elétricos, investindo também nos motores de Hidrogénio e nas Fuel Cells. O futuro da mobilidade será a várias velocidades e recorrendo a várias fontes de energia.

O futuro com Sato

Quanto ao futuro da Toyota, não se espere por mudanças de rumo radicais. Koji Sato esteve envolvido na planificação da eletrificação na Toyota mas também foi presidente da Gazoo Racing. A continuidade das políticas de Akio Toyoda parece estar assegurada. Tanto mais que o sucessivo aumento de valor da empresa em bolsa na última década, prova que o caminho percorrido tem sido o correto.

Conclusão

Quando, a 1 de Abril de 2023, Akio Toyoda passar o testemunho a Koji Sato, este terá a missão de continuar a seguir a “Toyota Ruote” a caminho de transformar a empresa numa marca de mobilidade. Mas não se espere por medidas radicais, nem globais. Toyoda não se vai propriamente reformar e Sato está longe de ser um rebelde.

Francisco Mota

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