18/09/2020. A Mazda faz 100 anos em 2020, teve um percurso difícil mas completa o centenário em melhor estado que outras marcas japonesas. A história mostra como a Mazda chegou até aqui e a sua estratégia para o futuro desvenda as suas ambições.

 

Basta olhar para as fotos publicitárias que mostram a atual gama Mazda, bem alinhada e com todos os modelos pintados no vermelho metalizado escuro que se tornou a cor da marca, para perceber algo de imediato: o sucesso do departamento de estilo.

A Mazda procurou um desenho que fosse tipicamente japonês e ao mesmo tempo elegante, capaz de atrair o olhar de compradores nos mercados mais distintos. E acertou em cheio.

Mas nem sempre foi assim, ao longo de 100 anos de vida. Fundada em 1920 como Toyo Kogyo, a primeira atividade foi a produção de máquinas-ferramenta. Mas nem tudo correu bem e esteve perto da falência logo no início, sendo necessário o auxílio dos bancos de Hiroshima.

O primeiro veículo aparece em 1930 e tratava-se ainda de um “rickshaw” motorizado. O primeiro automóvel só é lançado em 1960, o Mazda R360.

A paixão pelo motor Wankel

Foi também por essa altura que começou a paixão da Mazda pelo motor rotativo Wankel, juntando-se à NSU para o desenvolver mas acabando por ficar sozinha, quando a marca alemã faliu.

Para a Mazda, o motor rotativo era uma maneira de se diferenciar das outras marcas japonesas, mas também tinha méritos em mercados tão inesperados como o da América do Norte, onde as reduzidas dimensões e eficiência do motor Wankel eram apreciadas.

A Mazda foi a única marca a produzir uma “pick-up” com motor Wankel, mesmo se esteve longe de ser um sucesso.

A crise energética do início dos anos setenta trouxe ao de cima a falta de eficiência do sistema de produção da Mazda e também do próprio motor Wankel, que já tinha sido um dos motivos para a falência da NSU.

Entra a Ford

O banco Sumitomo entrou no negócio em 1975 e salvou a Mazda da falência. Mas não foi o único.

Por essa altura, já a Ford tinha feito um acordo de colaboração com a Mazda, que em 1979 se concretiza na compra de 24,5% das ações da marca japonesa.

Segue-se uma parceria que inclui partilha de componentes, plataformas e também de capacidade de produção em várias fábricas da Ford, o que permitiu à Mazda expandir-se em novos mercados.

Em 1995 a Ford assume 33,4% das ações da Mazda e ganha o direito de nomear um CEO de sua confiança. Foi assim que Henry Wallace se torna o primeiro estrangeiro a liderar um construtor japonês.

Até 2002, seguiram-se mais três homens da Ford com destaque para Mark Fields que esteve à frente da companhia entre 1999 e 2002. Foi ele que liderou um “salto” importante em termos de produto e de qualidade.

Sai a Ford e entra a Toyota

A crise de 2008 levou a Ford a recuar, após muitos anos em que a Mazda poupou milhões em desenvolvimento e em produção. Tal como a Ford. Mas a companhia americana decide vender 20% da sua participação, com a Mazda a reagir no dia seguinte, comprando à Ford 6,8% das ações.

Em 2015 a Ford vende os 3% que ainda tinha da Mazda e entra em cena outro parceiro, a Toyota. As duas marcas japonesas decidem-se por um acordo a longo prazo, com troca de 5% de ações e planos para partilha de tecnologia.

Depois de muitos anos a partilhar modelos completos com a Ford, em que só o emblema da grelha mudava, (alguém se lembra do Mazda 121, feito com base no Fiesta?…) a Mazda entra na sua melhor fase, com produtos genuínos e bem identificados.

Presença em todos os continentes

Dos tempos da Ford ficaram a saúde financeira e uma alargada presença em mercados de todos os continentes. Isto permite-lhe não estar dependente dos resultados de uma dada região o que resultou num volume de vendas de 1,4 milhões em 2019.

O mercado europeu valeu “só” 228 000 unidades em 2019, mas isso não quer dizer que a Mazda esteja a pensar abandonar a Europa, seguindo a Mitsubishi.

Para a Mazda, o mercado europeu tem um peso respeitável, marcando presença em 37 mercados com uma rede de 1500 concessionários. Mas não é só por isso que por cá vão ficando.

Para a Mazda, estar na Europa é estar na região mais prestigiada para a indústria automóvel, aquela que marca as tendência e onde se reúnem as melhores marcas “premium” do mundo.

A estratégia do futuro

E isso tem tudo a ver com a estratégia da Mazda para o futuro. Contrariamente ao que se passava nos anos setenta, subir o volume não é um objetivo. O que a Mazda pretende é continuar no caminho de posicionar os seus modelos a um nível cada vez mais premium.

O SUV elétrico MX-30 é o último exemplo desta estratégia, posicionando-se como um elétrico urbano familiar de alta qualidade. O que não quer dizer alto preço.

Dos planos imediatos da Mazda fazem parte nove alterações de produto em 2021, todas com redução de emissões de CO2, incluindo modelos “plug-in” com motor Diesel e o lançamento de um novo SUV.

A eletrificação não poderia deixar de estar nos planos da Mazda, com a promessa de chegar a uma oferta que inclua 95% de modelos eletrificados até 2030, dos quais 5% vão ser modelos elétricos.

Diesel e regresso do Wankel

Mas a marca não vê só elétricos na sua bola de cristal. Prova disso é o anúncio de que está a desenvolver um novo motor Diesel, mais eficiente e com menos emissões de CO2 e NOx.

E o regresso do motor Wankel também está garantido, mas numa utilização bem diferente. Vai ser usado como gerador de eletricidade para carregar a bateria numa versão com extensor de autonomia do MX-30, que estará no mercado durante 2021.

Mazda em Portugal

Em Portugal, a Mazda está presente oficialmente há 25 anos, tendo ultrapassado já a barreira das 65 000 unidades vendidas. Atualmente tem 24 concessionários e 37 pontos de venda, sendo o mais antigo o Santos Cunha de Braga, que já trabalha há 47 anos com a marca.

O seu recorde de vendas em Portugal foi de 5191 unidades em 2008, um valor que se tornou num novo objetivo, tendo em conta a continua atualização da gama.

Conclusão

Ahura Mazda, o antigo deus da luz, terá servido de inspiração para o nome da marca. Acredito que Ahura continuará a iluminar a marca, agora em direção aos veículos eletrificados.

Francisco Mota

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