10/04/2020 – Estudos e imagens de satélite mostram descida da poluição nas últimas semanas. O “mérito” é da Covid-19. Mas como vai ser depois de passar esta crise?…

 

Os “verdes” congratulam-se pela descida das emissões poluentes nos meios urbanos, devida à limitação de circulação de transportes rodoviários.

Dizem o óbvio, que menos transportes com motor a combustão na estrada, fazem diminuir as emissões poluentes.

Dizem algo do estilo “estão a ver? É mesmo dos transportes que vem a poluição urbana…” Como se isso não fosse óbvio.

Mas, daí partem para o seu habitual discurso utópico e precipitado: “tem que se acelerar a eletrificação dos transportes públicos e privados” isto numa altura que vai ser de crise económica.

As prioridades vão ser bem outras e mais urgentes, como já parece inevitável. O discurso dos mais fundamentalistas fica a um passo de dizer que “afinal era tão fácil!”

Não é fácil, nem realista. O ar menos poluído que se respira agora nas cidades tem um preço demasiado alto, pelos menos por agora.

Que lições há a tirar?

Mas há lições a tirar deste estado de paralisia da sociedade, no que à poluição urbana diz respeito.

Lições que não passam pela dispendiosa eletrificação em massa de todos os meios de transporte, públicos ou privados, numa época de crise económica.

À força, muitos trabalhadores e empresas perceberam que, para fazer o seu trabalho não precisam de sair de casa.

Os meios eletrónicos para o chamado tele-trabalho já existem há muito, mas poucos lhes davam importância.

Agora teve mesmo de ser. Fechados em casa, muitos tiveram que se adaptar a plataformas de comunicação à distância, a usar a tele-conferência diariamente e outros tipos de comunicação.

Tele-trabalho? Sim, é possível!

E muitos estão a chegar à conclusão que é possível trabalhar à distância. Alguns até dizem que estão a trabalhar mais, a produzir mais em casa do que se fossem para o escritório.

Sem ter que enfrentar o trânsito do casa-trabalho-casa, sem tempo perdido em tarefas pouco eficientes

Claro que nem todas as atividades são 100% compatíveis com o tele-trabalho, mas em muitos casos há, pelo menos, uma parte do trabalho que poderá ser feito em casa.

Melhor que um catalizador

A influência do tele-trabalho na redução das emissões poluentes dos transportes é muito maior do que qualquer catalizador de ultima geração, qualquer gestão de motor de alta capacidade de cálculo, ou do que qualquer eletrificação.

Sem ter que sair de casa e passar parte do tempo parado no trânsito, o consumo de energia e a respetiva poluição cai a pique, como é lógico.

Os números de um estudo feito em Lisboa pela Universidade Nova, mostram que houve uma descida de cerca de 60% na emissão de NO2 no centro de Lisboa, depois de decretadas as medidas de isolamento. Isto, comparando com o mesmo período de 2019.

E as lições, vão ficar para o futuro?

Veremos o que vai acontecer quando a crise sanitária for ultrapassada. Se as empresas e os trabalhadores conseguem aplicar, no seu dia-a-dia, algumas das medidas de tele-trabalho que estão a ser forçados a usar, neste momento.

Infelizmente, é possível que a crise económica que se adivinha possa “ajudar” a usar mais o tele-trabalho, mesmo em tempo pós-Covid-19. Poderá ser uma maneira de cortar nos custos.

Será uma boa consequência de uma má causa. Porque, se isso não acontecer, o cenário da poluição tem tendência a subir ainda mais, não a descer.

“Transportes públicos?… Não!”

Outro estudo que veio a público diz que, para quem tem a hipótese de escolher entre usar o transporte pessoal ou público, depois da crise, 75% prefere escolher o pessoal.

Ou seja, a desconfiança de que o vírus ainda pode “andar por aí”, está a levar as pessoas a colocar fortemente a hipótese de se deslocar no seu carro individual, em vez de arriscar entrar num transporte público com outros utentes.

Conclusão

Corremos assim o risco de ver os transportes públicos coletivos a voltar a ser usados apenas por quem não tem outra alternativa. As filas de trânsito vão voltar em força, a dificuldade de estacionamento também e, inevitavelmente, a poluição urbana.

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