15/02/2019. Alguns componentes nos carros têm uma função no mínimo duvidosa, ou não servem mesmo para nada. Descubra os mais óbvios e saiba por que os construtores os utilizam na mesma.

A forma segue a função, esta é uma máxima do design industrial que define uma filosofia de projeto: não incluir elementos que não tenham uma função efectiva. Será o contrário do desenho decorativo, em que os elementos dão prioridade à estética e só depois se preocupam com a sua função.
Claro que isto se aplica a muitas coisas, mas aqui interessa-me olhar para o que se pode encontrar nos carros. Ou seja, elementos presentes nos automóveis que “não servem para nada”, em linguagem corrente.

Fake… coisas

Alguns deste elementos são contudo defendidos pelos gabinetes de marketing de alguns construtores como tendo funções que, efetivamente, não conseguem desempenhar. Apenas imitam funções presentes noutros carros mais caros e/ou mais desportivos.
Mas vamos passar do abstrato ao concreto e olhar para algumas das coisas que não servem para nada e que me irritam particularmente…

Aerodinâmica falsa

Não há maneira de começar por outra coisa que não sejam os chamados “apêndices aerodinâmicos”, desde logo um nome que diz tudo, se pensarmos no papel do apêndice no corpo humano: só lá está à espera de criar problemas e de ter que ser retirado.
Hoje, não há carro que não tenha pelo menos um spoiler por cima do vidro traseiro. Dá estilo ao carro (nem sempre…) mas são geralmente tão pequenos que não fazem efeito nenhum no “aumento da downforce e acréscimo da estabilidade”, como alguns delirantes redatores de publicidade afirmam. No máximo, ajudam a que o vidro traseiro não se suje tanto, em dias de chuva. Muitas vezes, nem isso. Só os mais eleborados podem ter algum efeito real no Cx.

Spoilers pintados

O mesmo se pode dizer para a maioria dos restantes apêndices aerodinâmicos, como os spoilers dianteiros, muitas vezes reduzidos a zonas pintadas de outra cor no para-choques da frente, ou as “mini-saias” laterais, debaixo das portas, que só servem para fazer o carro parecer mais baixo e para raspar no chão, em algumas rampas de garagens.
Toda esta história da aerodinâmica tem como objetivo passar a mensagem de que, tal como na competição, também os carros de série usam essa ciência para ficarem mais estáveis. Mas na maioria dos casos, não é verdade.

O fatídico extrator

O elemento que mais me irrita é o “extrator” traseiro, que geralmente não passa de uma zona do para-choques traseiro pintada de outra cor e com umas nervuras adicionais. Basta olhar para os extratores dos F1 ou dos carros do WRC, para perceber o que é preciso para um extrator conseguir ter efeito.

Entradas sem saída

As entradas e saídas de ar são outra “praga” que tem infestado o desenho dos automóveis. De repente, uma grande parte dos para-choques da frente passou a ter enormes zonas negras, nas extremidades, imitando entradas de ar para arrefecer os travões, como se usa nos ralis. Mas basta um olhar mais próximo para perceber que a textura de rede que lá está é um baixo relevo de uma peça fechada. Não só não entra ar nenhum por alí, como se criam obstáculos ao escoamento do ar, prejudicando a aerodinâmica. Há modelos que chegam a ter entradas de ar no capót que também estão fechadas e servem só para enfeitar.

As ponteiras de escape a fingir

As ponteiras de escape cromadas, acetinadas, em imitação de carbono ou de titânio também são devidamente enfatizadas no discurso publicitário de algumas marcas. Aparecem quase sempre aos pares, com formatos poligonais dos mais variados e com enorme destaque nos extremos dos para-choques traseiros. Mas uma observação mais próxima mostra que algumas também estão tapadas e o escape (de aspeto bem mais simplório) dá na verdade uma volta por outro lado para poder largar os dejetos do motor.

Nos SUV também há coisas

Se formos para os SUV e para o que resta de alguns TT, então ainda há mais para ver e para rir. Começa pelos estribos de acesso ao habitáculo, onde raramente cabe a biqueira do sapato e com uma resistência ao peso mais do que duvidosa. Depois há as “proteções” dianteiras e traseiras, que geralmente não passam de zonas do para-choques sem tinta, ou então pintadas em cores metalizadas para dar a ideia que são o que não são: proteções metálicas. Felizmente que as antigas “bull-bar” acabaram por ser abolidas pelas exigências dos crash-tests com peões. Mas as pick-up ainda têm arcos de “proteção” atrás das cabines. Vá lá ver como e onde estão ancorados e tire as suas conclusões…

Imitações para todos os gostos

Depois, podemos passar para o habitáculo para encontrar mais uns quantos elementos que fingem ser o que não são. Já nem falo dos bancos forrados e pele “nappa”, nem nas aplicações de madeira falsa, presentes há tantos anos nos automóveis que já ninguém espera que sejam verdadeiras. Nem das peças em fibra de carbono “para reduzir o peso” quando na verdade o fazem subir, ao serem apenas peças adicionais, coladas ao plástico do tablier, da consola ou do forro das portas.
E depois, lá vem outra vez a competição como inspiração para os estilistas sem inspiração. Bancos integrais, sem encosto de cabeça regulável, estão longe de ser a melhor opção para servir a todas as estaturas de condutores. Mas o assunto torna-se hilário quando aparecem “buracos” na zona atrás do pescoço, que nos carros de competição servem para fazer passar os cintos de segurança de oito pontos, mas nos carros de estrada servem para… nada!

Conclusão

Há muitos mais exemplos deste tipo de coisas que não servem para nada, basta procurar com mais atenção e eles aparecem rapidamente. Mas termino com um dos meus ódios de estimação, que são os volantes com a base plana.
Na competição, são usados em carros onde o volante fica muito próximo do assento e é preciso ganhar espaço para o piloto conseguir enfiar as pernas. E como a direção de um carro de competição é muito mais direta que a de um carro de estrada, as mãos raramente precisam de sair da posição das “10h15”.
Num carro de estrada, não trazem nenhum tipo de vantagem em termos de acesso e perturbam a pega do volante, quando é realmente preciso mudar as mãos de sítio, nas manobras ou nas curvas mais apertadas, porque a direção nunca pode ser tão direta como na competição. Por vezes, a mão vai à procura do volante no sítio por onde ele não passa, o que é só irritante. Felizmente, nem todas as marcas cedem a este tique e continuam a existir bons desportivos com volantes como sempre foram: redondos.

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