10/05/2019 Cada vez mais os construtores mostram carros com camuflagem, antes da apresentação oficial. Mas sabia que tudo começou nos navios da primeira grande guerra?

 

A camuflagem que cobre os protótipos antes de serem apresentados tem origem nos navios da primeira grande guerra. Cientistas da altura descobriram que, pintando os cascos com padrões irregulares e de várias cores, conseguiam enganar o inimigo.

O olho humano está de tal forma habituado a formas regulares, que fica baralhado quando tem que olhar para o inesperado e fora da norma.
O mesmo princípio é hoje usado nos protótipos de futuros carros, quando são levados para a estrada para os últimos meses de testes antes da apresentação oficial.

Os Test Mules

Mas tudo começa muito antes, geralmente três a quatro anos antes de um novo carro ser lançado, com os chamados Test Mules.

Quem se interessa pelas novidades no mundo automóvel, quer ver a última foto espia e ficar a saber qual vai ser o aspecto de um modelo que ainda não foi lançado, mas que já foi “apanhado” pelas objectivas dos fotógrafos-espião.

É preciso estar no sítio certo na altura ideal, para conseguir a fotografia que mais detalhes poderá dar acerca do futuro modelo. Isso só é possível fazendo deslocar os fotógrafos-espião para os locais, muitas vezes remotos, onde as marcas testam os seus modelos, ainda em fase de protótipo.

Mas, por vezes, os fotógrafos são confrontados com algo que nem sequer é ainda um protótipo, as marcas chamam-lhe Test Mules, os veículos laboratório, dispensando aqui a tradução literal…

Estes veículos laboratório podem ter os mais variados objectivos e ser feitos das mais variadas peças. Podem ser chassis modulares, muito rudimentares, de longarinas e travessas, se os testes em causa forem orientados exclusivamente para os motores ou transmissões.

Neste caso, um chassis laboratório poderá ser usado para simular os mais variados modelos, fazendo por exemplo variar a distância entre-eixos e a distribuição de peso recorrendo a lastros, de acordo com as definições do modelo final.

Em alguns casos, tipicamente de pequenos construtores, pode seguir-se outra via e comprar um carro da concorrência, novo ou mais antigo, que tenha as características dimensionais aproximadas do modelo que se quer produzir.

Mesmo para desenvolvimento de especificações de suspensão, os veículos laboratório podem ser usados, nomeadamente quando se estuda o desempenho de um componente isolado, como um amortecedor ou um braço de suspensão.

Plataformas finais

Mais para a frente, na vida do desenvolvimento do novo modelo, é possível que os veículos laboratório sejam substituídos por plataformas já mais próximas da versão final.

Neste caso, toda a parte inferior do veículo, incluindo a zona de suporte do motor, transmissão e suspensões, poderá ser quase definitiva e ter por cima aquilo a que os engenheiros chamam o “chapéu”, ou seja, uma estrutura tubular superior que replique as características de rigidez da estrutura monobloco final.

Caixotes com rodas

Em qualquer dos casos, a facilidade de acesso e de troca rápida de componentes é uma prioridade absoluta, para poupar tempo de desenvolvimento.

Nesta fase é possível trabalhar já numa afinação geral das suspensões que comece a definir o carácter do modelo final. Claro que, o menos importante para os engenheiros é a aparência exterior.

Daí parecerem verdadeiros caixotes com rodas. Além dos componentes básicos que permitem a sua circulação em estrada (mesmo assim só com autorização especial) tais como os faróis e limpa pára-brisas, pouco mais se pode identificar face a um modelo de série.

Chapa plana, mais barata e fácil de montar, uns guarda-lamas que mais parecem oriundos dos carros dos anos trinta e vidros planos divididos ao meio, dão a alguns destes veículos laboratório o aspecto de verdadeiros carros de combate.

Carros muito camuflados

Depois chega a altura de começar a testar o veículo final, recorrendo-se à aplicação de estruturas que mais parecem tendas montadas sobre as carroçarias e impedem totalmente o reconhecimento das formas do modelo.

Mais próximo do lançamento, é preciso retirar tudo o que possa alterar as características aerodinâmicas e é nessa altura que chegam as camuflagens, em forma de adesivos colados na carroçaria final.

A escolha dos padrões está sempre a evoluir mas tem um objetivo comum: confundir os olhos e as objetivas da câmaras. É verdadeiramente desconcertante estar a olhar para um protótipo camuflado e não conseguir ficar com uma ideia precisa das suas formas.

Só camuflagem adesiva

Aqui, muitas vezes por baixo está já uma versão muito próxima da final, o que permite fazer sair o protótipo à rua em plena luz do dia, sem medo que os tais fotógrafos-espiões consigam mostrar grande coisa.

Algumas marcas tornaram esta possibilidade numa oportunidade extra de divulgação de um novo modelo, chegando a convidar a imprensa para uma antevisão estática do carro camuflado com essa película “mágica” ou até promover um pequeno teste de condução, em antevisão.

Cria-se assim mais um acontecimento mediático durante a fase de pré-lançamento de um novo carro, gerando artigos jornalísticos de antecipação que despertam a atenção dos leitores para a apresentação da versão final, então sem camuflagem, do novo modelo.

Conclusão

Na verdade, mais do que nunca, na indústria automóvel nada se perde. Todos os passos da conceção, desenvolvimento, produção e apresentação de um novo carro são passíveis de ser comunicados e têm sempre um bom retorno, que o diga a Volkswagen e a sua recente apresentação da nova geração de modelos elétricos I.D. ou a novela que tem sido a criação do novo Land Rover Defender.

Francisco Mota

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