O regresso da Série 8 na BMW serve para substituir a Série 6 e subir a parada. Mas será que um grande coupé de luxo como este tem no motor Diesel o seu melhor aliado?…

Chuva, muita chuva caiu nos dias em que estive a testar o novo Série 8. Claro que há muito tempo que deixei de me afetar com isso, mais vale encarar as coisas como elas são, em vez de ficar a vociferar inutilmente em direção ao céu. Mas, desta vez, o São Pedro testou mesmo a minha paciência, pois foi no dia em que pude rumar (remar…) à serra para testar o comportamento dinâmico numa estrada com excelentes curvas, que a chuva caiu ainda com mais força. O piso passou de molhado a encharcado, o limpa para-brisas passou do automático para a máxima velocidade e, mesmo assim, mal conseguia ver a estrada à minha frente, tanto mais que as nuvens negras faziam o dia parecer noite.
A meu favor tinha o facto de o 840d estar equipado com tração às quatro rodas, direção às rodas traseiras e caixa automática, como todos os Série 8.

BMW Série 8, porquê?

Mas voltando ao início, o que temos aqui neste projeto G15? O Série 8 é feito sobre a mesma plataforma CLAR que já deu origem ao Série 7 e Série 5. É uma base multi-material, pois usa aço, alumínio e fibra de carbono, para conseguir maximizar a rigidez e minimizar o peso, num carro grande. Com a passagem de 6 para 8, claro que o preço subiu, cerca de dez mil euros, mas isso acaba por ser pouco relevante, tendo em conta o maior equipamento de série do novo modelo e o preço dos opcionais. Em março chega o cabrio, em setembro vem o quatro portas, o Grand Coupé.

Lembra-se do primeiro 8?

Era de esperar que a BMW aproveitasse para evocar o antigo Série 8, que deixou de ser fabricado há vinte anos, para dar lastro histórico ao novo modelo. Mas o antigo Série 8 tinha um posicionamento diferente, desde logo pelo estilo que o separava do visual dos restantes BMW da altura. Desta vez, o Série 8 tem claras parecenças com o novo Z4, partilhando o desenho de frente, numa nova interpretação dos faróis gémeos e do duplo rim. A vista de perfil é a de que menos gosto, parecendo que foi esticada até lá atrás para conseguir cobrir a área da enorme plataforma, mas deve contribuir para o bom Cx de 0,29.

Um pouco “bling”

Por dentro, não faltam pretextos para elogiar a qualidade, mas também para fazer interrogações: um punho da alavanca da caixa em vidro facetado?… Roletes cromados nas saídas de climatização?… E que dizer do acabamento espelhado no botão rotativo do I-Drive?… Tudo um pouco “bling”, talvez para agradar ao mercado chinês.
Eu preferi ignorar isto e focar-me no que gosto, como o confortável banco, o volante sem base cortada e a excelente posição de condução: nem alta, nem baixa e com tantos ajustes que dá para fazer um fato à medida de cada um.
Para não dizerem que não falo em “tecnologia” que é como hoje nos referimos aos gadgets eletrónicos, continuo a não perceber para que servem os comandos do rádio por gestos no ar, a não ser para fazer o condutor pensar que é o Luís de Matos…

Espaço, muito e pouco

Nos dois lugares da frente, o espaço é bom, mas os dois lugares traseiros parece terem sido feitos pequenos de propósito: falta altura, largura e espaço para os pés. Tendo em conta o comprimento do carro, esta falta de espaço atrás chega a ser incrível, mas a distância entre-eixos, 33 mm mais curta que no Série 6, serve de explicação. Em compensação, a mala de 420 litros bate os concorrentes.

Brilhante motor Diesel

Este 840d usa um motor 3.0 de seis cilindros em linha com dois turbocompressores, debitando 320 cv e 680 Nm de binário máximo. Mas o que começa por impressionar, assim que se coloca este Diesel em marcha, é a sua suavidade e baixa vibração. Claro que há um sintetizador de som que emite uma melodia desportiva, e que varia consoante o modo de condução escolhido. Mas, mesmo de fora, este Diesel é muito discreto e equilibrado.
A subida de regime é ultra-suave e sem esforço, chegando ao “red-line” incrivelmente depressa. Em cidade, a caixa automática é a aliada perfeita para uma condução suave e fácil, tanto mais que a visibilidade para diante é desafogada e para as outras direções estão lá as câmaras de vídeo. A direção às rodas traseiras (roda 2,5 graus no máximo) faz o carro “encolher” nas ruas mais estreitas e nas manobras. O efeito chega a surpreender, nas primeiras mudanças de direção, tanto mais que a assistência da direção a torna realmente leve.

Amortecedores ativos

A suspensão não tem molas pneumáticas, mas tem amortecedores ativos que o condutor pode escolher colocar em Comfort para passar sobre ruas de mau piso, sem que os ocupantes sejam chocalhados. O pisar é sempre sofisticado e sem solavancos, mesmo em modo Sport e com pneus run-flat 275/30 R20, atrás.
Guiando sem grande atenção aos consumos, o computador não passa dos 10,0 l/100 km e pode descer facilmente dois litros, no modo Eco Pro e com tento no pé direito, aproveitando o modo “bolina” da caixa.
Na autoestrada, o 840d mostra que é a combinação ideal para quem gosta mais de viajar de carro do que de avião. Numa altura em que tanto se fala de autonomia, por causa dos carros elétricos, é bom lembrar que no 840d, a andar dentro dos limites, um depósito pode durar 1000 km. Sempre com excelente conforto, baixo ruído de rolamento e aerodinâmico.
Tudo isto, mais o comprimento de 4843 mm, os 1905 kg e a tração às quatro rodas xDrive, não fazia esperar o que iria encontrar a seguir, na tal estrada de serra, debaixo de um dilúvio.

Parece que “encolhe”…

Em modo Sport ou Sport+, a rapidez com que o 840d despacha as pequenas retas entre as curvas, impressiona, mas não surpreende, tendo em conta a resposta imediata do motor e a celeridade da caixa automática em modo manual, com as ordens das patilhas a serem cumpridas sem atraso. Os 0-100 km/h estão anunciados em 4,9 segundos.
Mas a maneira como o 840d ataca as curvas, quase sem inclinação lateral, com o carro bem assente nos quatro pneus (a distribuição de pesos é 50/50) e sem sinal de querer sair de frente, é realmente incrível. Assim que se roda o volante, o 840d parece que se enrola em torno da curva, descrevendo-a com muita velocidade, mas sem nenhuma tensão. A afinação da direção às rodas traseiras mostra o quanto este tipo de sistemas evoluiu, fazendo o 840d parecer ter metade do tamanho.

Tração total

Depois vem a aceleração à saída, com o sistema de tração às quatro rodas a agarrar o asfalto molhado com uma certeza que encoraja a fazer a próxima curva ainda mais depressa. Este xDrive dá privilégio às rodas traseiras e só passa binário para as da frente quando é preciso. É claro que, nestas condições de chuva forte, isso aconteceu quase sempre, tornando a atitude sobretudo neutra. Mas é possível desligar o controlo de estabilidade, respirar fundo, cerrar os punhos e carregar no pedal da direita sem cerimónias.
A traseira começa então a deslizar ligeiramente, mas só no último terço da curva e sempre em progressão, nunca em contemplação. Aqui não há o modo “drift” do M5.

Conclusão

Com os limpa para-brisas no máximo e mesmo assim sem ver a estrada em condições, o que me obrigou a usar a memória para algumas trajetórias mais delicadas, a confiança que o 840d dá é impressionante. Não só porque a atitude de alta eficiência promove uma progressão no terreno fabulosa, mas sobretudo porque o exercício se faz com excelente comunicação entre a estrada, o carro e o condutor. Não há surpresas desconfortáveis, não há “momentos” como dizem os pilotos de ralis. Tudo se passa realmente muito depressa, mesmo com imensa chuva, mas com total controlo do condutor e com a sensação de que o carro é mais pequeno e mais leve. A única coisa que se pede ao condutor é que vá com os olhos bem abertos e respeite as distâncias de travagem pois, por melhor que sejam os travões, a água exige sempre mais espaço para reduzir a velocidade.

Quanto ao motor Diesel, a andar a este nível, facilmente atinge os 20 l/100 km, o valor máximo que o computador admite. Mas a verdade é que o seu desempenho não deixa queixumes, pelo contrário, mostra como um Diesel pode ser refinado, ter imensa força e não gastar demasiado.

Potência: 320 cv

Preço: 130 500 euros

Veredicto: 4,5 (0 a 5)

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