31/01/2020 – A Baixa e a Avenida da Liberdade vão fechar ao trânsito comum. Finalmente é tomada uma medida que faz algum sentido, nesta era da paranóia das ciclovias.

 

A vida profissional leva-me a viajar com frequência pelas principais cidades europeias, e o que tenho visto, desde há alguns anos, é o que está agora finalmente anunciado para Lisboa: o corte ao trânsito no centro da cidade.

Como entusiasta dos automóveis e apreciador da sua mobilidade única, talvez se esperasse que viesse atacar esta decisão da Câmara de Lisboa, que já andava a trabalhar nela há dois anos.

Mas é precisamente por gostar de automóveis que só posso aplaudir esta medida de tornar as vias centrais da Avenida da Liberdade em passeios e limitar a circulação pelo espaço da Avenida a duas faixas laterais.

A proposta de câmara ainda vai ser alvo de discussão pública, mas não espero que sofra grandes alterações. E ainda bem!

Menos 40% de carros: só?

Diz a câmara que vai reduzir a circulação de automóveis nesta área em 40%. Esperava que fosse mais, mas há que precaver o acesso a moradores, comerciantes, táxis, cuidadores e motos.

Os TVDE só podem entrar com veículos elétricos e vão ter que adquirir dísticos, que vão ser controlados por via eletrónica. Não haverá barreiras físicas, mas o controlo estará lá. Veremos como funciona…

É uma medida que só peca por tardia, como se costuma dizer. O nível de poluição na Avenida não tinha outra solução e colidia de frente com as necessidades de propor aos turistas um acesso amigável ao centro de Lisboa.

Para quem cá vive, andar de carro na Baixa, há muito que se assemelhava a andar de carro dentro de um centro comercial. Pura e simplesmente, deixou de fazer sentido.

Mais espaço para peões

De tal forma que, já há algum tempo que preferia usar os transportes públicos, das poucas vezes que tinha mesmo de ir à Baixa.

A câmara diz que desaparecem também 250 lugares de estacionamento e que os restantes serão redistribuídos pelos moradores. Mais um problema que se resolve.

Claro que tudo isto só poderá funcionar se a Câmara garantir que o acesso se poderá fazer livremente através de transportes públicos. O que está previsto.

A Carris vai ter uma nova carreira na área, a funcionar só com autocarros elétricos e com a promessa que vão passar de três em três minutos.

Já devia ter sido feito

Já quando foi feita a reconstrução do Cais das Colunas e da Ribeira das Naus se esperava uma medida deste tipo, mas não houve coragem política para a tomar.

Desta vez, parece que finalmente se faz o que todas as outras grandes cidades europeias já fizeram há muito tempo. É fundamental, tanto em termos de saúde pública como de utilização da cidade pelos locais e pelos forasteiros.

Do ponto de vista do investimento, é dinheiro muito mais bem gasto do que aquele que se está a gastar na paranóia das ciclovias que ninguém usa.

Mas é só o princípio. Outros locais da cidade precisam de uma intervenção do mesmo tipo.

Mais do que isso, é urgente que a Carris possa fazer um investimento sério na troca dos seus jurássicos autocarros Diesel, por unidades elétricas.

Só assim se poderá propor, a quem precisa de se deslocar na cidade, uma alternativa que realmente resolva os problemas de poluição e de trânsito que estragam o dia-a-dia na cidade.

Conclusão

Volto ao princípio. Como entusiasta pelo automóvel, tanto do ponto de vista da diversão de condução como da liberdade de movimentos única que proporciona, como nenhum outro meio de transporte, esta medida só me merece elogios.

No mesmo dia em que a Câmara de Lisboa anunciava a medida, passei grande parte da tarde fechado dentro de um carro, preso no caótico trânsito lisboeta de uma sexta-feira de chuva.

Tudo o que possa ser feito para me dar acesso a outras formas de mobilidade mais eficientes, será bem vindo. Para gozar o automóvel, continuam a existir inúmeras estradas desertas por esse país fora.

Só espero que a execução do plano fique à altura do projeto e que não se acabe numa solução de meias-tintas, provando que afinal tudo não passou de uma enorme manobra de propaganda política.

Francisco Mota

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