O renascimento da Alpine não tem sido uma tarefa fácil. Primeiro foi uma tentativa de associação com a Caterham, para partilhar uma nova plataforma e cada marca fazer os seus muito esperados novos desportivos. Mas a marca inglesa não estava à altura, financeiramente, e teve que abandonar o barco. A Renault decidiu atirar-se sozinha ao projeto, numa demonstração de ousadia pouco comum na indústria e na aliança Renault/Nissan/Mitsubishi em particular. Projetou uma nova estrutura em alumínio e um motor 1.8 turbo, feito pela Renault Sport. Tudo isto custa dinheiro, o que pode ser um problema quando se quer colocar no mercado um desportivo de 252 cv, com um preço de 66 000 euros. A vantagem é que o peso se fica pelos 1103 kg, claro.

O exemplo do GT86

Muitos observadores têm apontado o Porsche Cayman como o principal rival do Alpine, mas talvez seja mais interessante olhar para o exemplo do Toyota GT86. Também a marca japonesa chegou a um ponto em que achou que um pequeno desportivo, leve e com pouca potência podia ser uma boa ideia, também inspirada no passado, neste caso no antigo Corolla GT Twin Cam, conhecido pelos entusiastas pelo código interno AE86. O processo de lançamento foi longo, com sucessivas apresentações de concept-cars e até de um display só com a plataforma, mas desde o início que a Toyota se juntou à Subaru, para cada uma vender a sua versão do modelo, com muito poucas diferenças entre elas. É sempre uma boa maneira de aumentar o volume de produção e baixar os custos unitários. E o GT86 nem sequer é um carro complexo, usando uma convencional estrutura em aço, motor atmosférico colocado à frente e tração atrás, nada de muito caro. Contudo, a marca não conseguiu atingir o seu preço alvo em todos os mercados, desde logo o português, onde acabou por chegar mais caro do que o inicialmente esperado.

Leve, mas caro

No Alpine, com a estrutura em alumínio e o motor turbo central, tudo é mais caro. Fontes da marca dizem que um volume anual entre as 5000 e as 8000 unidades poderá ser suficiente, para o projeto se rentabilizar, havendo planos para uma versão descapotável, a ser lançada dentro de dois anos e uma versão mais potente. Mas será que isso chega, para um investimento deste nível, e ganhando dinheiro?

Será que as vitórias em ralis, duas delas no Rali Internacional TAP, em 1971 e 1973, dizem alguma coisa às novas gerações?

Não me parece provável que, numa altura em que a Nissan já anunciou vontade em expandir a sub-marca de versões desportivas Nismo, esta nova plataforma de alumínio não seja aproveitada também do seu lado. Um pequeno desportivo, mais barato que o 370Z encaixaria perfeitamente na estratégia da Nismo, aumentando imenso o potencial de produção anual deste conjunto de componentes e garantindo as sinergias que levariam a custos controlados. Seria uma boa oportunidade de ressuscitar a sigla 240Z, um modelo que nunca teve no 350Z/370Z o seu verdadeiro sucessor.

Nostalgia, a quanto obrigas

A nostalgia agarrou-se ao projeto do novo Alpine como uma lapa, ao ponto de a estética do novo modelo ser mais uma cópia atualizada do que uma reinterpretação do Alpine A110 original. Até o nome é o mesmo, o que talvez pudesse ter sido evitado: A120?… Mas a Renault diz que precisava de relembrar a alguns potenciais clientes a história da marca e mostrar aos novos mercados aquilo que a Alpine tenha feito no passado. A mim, o desenho agrada-me à primeira vista, porque tenho idade suficiente para ter convivido com o A110 nos anos setenta, quando até era um dos meus desportivos preferidos. Sem dúvida pelas vitórias em ralis, duas delas no Rali Internacional TAP, em 1971 e 1973. Mas será que as gerações mais recentes têm alguma referência do antigo A110? Não estará a Renault a arriscar muito, copiando um desenho que deixou de estar em produção há mais de quarenta anos? É certo que os clubes de proprietários do clássico A110 receberam entusiasticamente o novo modelo, mas serão eles compradores? Talvez sejam, mas certamente não em número suficiente. Se nos mercados europeus, a Alpine poderá ser bem acolhida pelos potenciais compradores, assim o plano de marketing funcione, noutros continentes, o trabalho será muito mais difícil, pois não existem referências ao passado do A110 nos EUA, nem na Ásia.

Conclusão

Há vários exemplos de lançamentos de modelos de desenho nostálgico, nas últimas décadas, uns com mais sucesso que outros. A Mini é um caso em que tudo resultou bem, até nos EUA, onde o modelo original era um notável desconhecido. Mas já no caso do VW New Beetle, nem por isso, apesar de o modelo original ter tido uma audiência global. “Temos muito que explicar aos potenciais clientes”, admitiu uma fonte da Alpine. Disso, não tenho dúvidas.