26/10/2018. Já se sabia que a entrada em vigor, a 1 de Setembro, da homologação de emissões poluentes pela nova norma WLTP iria gerar confusão. Mas não que isso chegasse ao ponto de colocar em número 1 das vendas na Europa um carro que ninguém estava à espera.
Começando pelo princípio, mas resumindo a coisa a poucas palavras, as entidades reguladoras europeias decidiram que, a 1 de setembro, todos os carros à venda tinham que passar a ser homologados segundo as normas WLTP (Worldwide Harmonized Light Vehicle Test Procedure) por serem consideradas mais realistas do que as antigas normas NEDC (New European Driving Cycle). Apesar do “worldwide” no nome, a verdade é que nem a China, nem os EUA nem o Brasil aderiram à ideia. Acaba por ser mais uma iniciativa dos políticos europeus.

O que muda

As normas WLTP incluem maior burocracia e um teste de aferição de NOx e partículas (especialmente “dedicado” aos motores Diesel) feito em RDE (Real Driving Emissions) ou seja, com o carro a circular na estrada. Outras fases do teste continuam a ser simuladas em laboratório, mas, ainda assim, concluiu-se que, em média, as emissões aferidas pelo WLTP são 20% mais altas do que as feitas pelo NEDC. O que é bom, pois assim as marcas são obrigadas a anunciar consumos (20%) mais próximos daqueles que o comum dos condutores consegue fazer.

Foi criado o caos entre muitas marcas, pois tiveram que medir todas as versões, de todos os modelos que têm à venda

Estes dois factos, a obrigatoriedade de homologar todas as versões à venda pelo WLTP e a subida das emissões medidas, provocou o caos entre muitas marcas, pois tiveram que medir todas as versões, de todos os modelos que tinham à venda. Até ao dia 1 de Setembro, calcula-se que apenas 57% de todas as versões à venda tenham sido homologadas pela norma WLTP. Os outros, estão em fila de espera, enquanto as marcas fazem horas extra para os conseguir medir e homologar todos. Duas consequências: antecipação de matrículas para Agosto, para compensar os previsíveis atrasos nas entregas depois de 1 de Setembro; e acumulação de unidades produzidas, à espera da homologação para serem vendidas. Algumas marcas, tiveram que alugar espaço em aeródromos para colocar provisoriamente as versões que ainda não foram homologadas, uma medida menos dispendiosa do que parar a produção de uma fábrica. Algumas marcas, decidiram parar a produção de algumas versões de baixo volume, fazer as modificações técnicas necessárias para reduzir o máximo possível as emissões e só depois recolocar essas versões no mercado.

Mas há mais

Terceira consequência: como muitos dos impostos incidem nas emissões, gerou-se um problema de subida de preço final dos carros. Que acabou por ter uma solução administrativa, demasiado atabalhoada para a explicar aqui, mas que, no fundo, atrasa a entrada em vigor das tabelas WLTP, em termos de taxas. Ou seja, para homologar um carro, tem que ser pelas tabelas WLTP. Mas para o taxar, tem que ser pela tabela antiga, pelo menos durante um período de transição pois “o consumidor não pode ser prejudicado” dizem os de Bruxelas, enxotando para os estados membros a procura de uma solução.

Descida a pique

Como se esperava, a descida nas vendas de carros na Europa em Setembro foi a maior na última década, comparando com o mesmo mês do ano passado: nada menos do que 23,4% menos vendas. Ou seja, venderam-se 1,12 milhões, menos 343 000 unidades que em Setembro de 2017. Nada de grave, pois as vendas em acumulado desde Janeiro, ainda continuam a subir 2,3% face a igual período do ano passado.
O interessante disto tudo foi a mudança na hierarquia dos modelos mais vendidos. Das marcas do topo da tabela de vendas na Europa, a VW foi a mais atingida, com uma descida de 53% face a Setembro do ano passado, o que chegou para ser ultrapassada pelo grupo PSA. Para pôr as coisas de maneira mais clara, nos últimos oito anos, Setembro de 2018 foi o primeiro mês em que a VW não foi líder de vendas na Europa.

O Golf, um histórico “best-seller” na Europa, caiu nada menos do que 71%

Como é fácil de perceber, depois do caso Dieselgate, a VW não quer arriscar nada e meteu mãos à obra para se certificar que todos os seus modelos são homologados segundo o WLTP. O Golf, um histórico “best-seller” na Europa, caiu nada menos do que 71%, face a Setembro de 2017, vendendo apenas 14 968 unidades, dando um “trambolhão” para a 13ª posição da lista dos modelos mais vendidos. Foi o primeiro mês, desde Março de 2017, em que o Golf não liderou a lista dos modelos mais vendidos na Europa. Isto permitiu à Ford ultrapassar o Golf, não com o novo Focus, que ainda não teve tempo para isso, mas com o Fiesta, que registou 22 478 unidades na Europa, em Setembro.

A grande surpresa

Mas o Fiesta não foi o modelo mais vendido na Europa em Setembro, nem o Peugeot 208, nem o Renault Clio, nem mesmo o Dacia Sandero. “And the winner is…” o Opel Corsa!
Juntando as vendas da Opel e da Vauxhall, o Corsa somou 22 478 unidades em Setembro e foi oficialmente o modelo mais vendido na Europa, em Setembro de 2018. Uma data que certamente vai ficar para a história, pelo menos aos olhos da PSA que agora detém a marca alemã. Foram 24 752 Corsa comprados em Setembro, o que vai contra toda a lógica associada a ciclos de produto ou a visibilidade ou a campanhas de qualquer tipo. Apesar de ter descido 12% nas vendas face a Setembro do ano passado, a Opel conseguiu colocar um dos seus modelos no topo, o que certamente deixou um grande sorriso na face de Carlos Tavares.
É que, além de o Corsa ter sido o modelo mais vendido, a Opel/Vauxhall, também foi a marca mais vendida no mês, na Europa, com 80 920 unidades, muito ligeiramente à frente das 80 813 unidades da Ford, mas com uma margem maior para as 74 469 unidades, da Volkswagem. Tudo números divulgados pela JATO.

Conclusão

Claro que, quando tudo isto estabilizar, esta hierarquia dificilmente se vai manter. Mas ninguém sabe quando essa estabilização vai acontecer. É que ainda falta homologar 2100 versões de modelos, que entretanto não podem estar à venda. Um trabalho que está longe de ser fácil e que vai levar inevitavelmente ao desaparecimento de algumas dessas versões, com natural incidência nas versões Diesel dos modelos mais pequenos, cuja procura tem descido fortemente.