Está colocado algures na base do tablier, difícil de ver e de regular. Leva uma sigla invulgar e tem que se rodar para fazer efeito. Mas para que serve este botão escondido nos Lexus?

 

Nem sempre a ergonomia foi um forte das marcas japonesas, sobretudo no que diz respeito ao posicionamento dos botões secundários no tablier. Muitas vezes estão em sítios de difícil acesso, obrigando o condutor a contorcer o tronco para lhes chegar ou, pura e simplesmente, estão demasiado afastados da vista e da posição de condução.

Isso acontecia muito no passado, com os modelos japoneses a não alinharem sempre pelas normas mais ou menos estabelecidas e seguidas por fabricantes de outras origens, no que concerne à colocação dos vários comandos secundários no habitáculo.

A globalização ajudou

Claro que a globalização veio atenuar em muito esta questão, obrigando as marcas do país do sol nascente a entrar na norma e a fazer como fazem os outros.

Com a chegada dos monitores táteis, que concentram grande parte dos comandos das funções secundárias a bordo de um automóvel, isso ganhou ainda mais força, apesar de, mesmo aqui, ser sempre possível encontrar diferenças de localização nos menus do sistema. E isto obriga a mais alguns minutos de pesquisa até descobrir onde está o comando da função que estamos à procura.

É tudo uma questão de hábito, dirão alguns, o que não deixa de ser verdade. Nós, os jornalistas de automóveis, que testamos dezenas de carros diferentes por ano, temos necessariamente um contato abreviado com cada novo modelo, o que eleva o nível de exigência para o imediato.

Qualquer elemento que não esteja à vista e não seja fácil de compreender em poucos segundos, começa logo a ser um bom candidato a constar das habituais listas dos “contra” ou “a rever” de um teste.

Um cliente que fique com o mesmo carro durante alguns anos, terá a oportunidade de se habituar, o que não quer dizer que a opção do construtor esteja certa.

O botão escondido

Vem isto a propósito de um misterioso e escondido botão que existe em alguns Lexus e que tem a sigla ASC.

Trata-se de um botão rotativo, um pouco à moda antiga e muito parecido com os usados para regular a altura dos faróis, quando se leva mais carga no porta-bagagens.

Mas não é para isso que ele serve, apesar de poder estar próximo do local onde esse tipo de botão costuma estar, algures nos baixos do tablier, à frente do joelho esquerdo e escondido pelo aro do volante.

Mas nem sequer está no mesmo sítio, nos vários modelos da Lexus que o empregam. Em alguns está exatamente do lado oposto do volante, ou seja, em frente ao joelho direito e igualmente difícil de ver e de manipular.

Um sintetizador…

Tendo em conta a sua posição escondida, seria de esperar que a sua função não fosse de grande importância, ou pelo menos de utilização pouco frequente. Mas depois de conhecer para que serve, a localização é ainda mais intrigante.

Pois o tal botão ASC serve exatamente para regular o volume do sintetizador de som que emite pelos altifalantes do sistema de áudio do carro um ruído a imitar o trabalhar de um motor.

Serve para enfatizar a experiência auditiva em modelos que não têm um motor com um funcionamento particularmente agradável ao ouvido, um sintetizador para lhe dar uma “música” mais desportiva e inspiradora.

Usado por muitas marcas

A verdade é que muitas outras marcas usam estes sintetizadores de som, umas para esconder o ruído dos motores Diesel montados em versões com uma imagem mais desportiva; outros para reforçar o som dos motores a gasolina mais potentes. Como em tudo, há uns que são melhores que outros.

Alguns deste sintetizadores estão tão bem sincronizados com o pedal do acelerador e com a velocidade do carro, que exigem um ouvido muito treinado para descobrir que o som que chega ao condutor tem uma percentagem de artificialidade, não vem todo do compartimento do motor, nem das saídas de escape.

Mas há também os que são tão fracos que se percebem perfeitamente os dois barulhos sobrepostos: o do motor, mais ao longe e o do sintetizador, a tentar disfarçar.

Algumas marcas já chegaram ao ponto de levar esta função para o plano da brincadeira pura e propor ao condutor a escolha do tipo de ruído que querem ouvir: um desportivo radical, um clássico, uma nave espacial?…

Muito mais barato

A verdade é que fica muito mais barato resolver a questão da assinatura sonora do automóvel, através da eletrónica do que desenvolver um sistema de escape com válvulas que abrem e fecham consoante a carga do motor ou a velocidade.

Ou colocar membranas vibratórias na admissão, ou até canalizar o som do motor para o habitáculo através de condutas próprias. Tudo isto já foi feito e, no caso dos escapes, continua a ser, mas com um custo acrescido para o cliente.

Voltando ao botão ASC da Lexus, o que ele permite é ligar esse tal sintetizador e depois regular a intensidade do seu funcionamento, ou seja, o volume com que o som sai dos altifalantes do carro.

Nos outros construtores que usam este sistema, geralmente o som muda com a mudança dos modos de condução: mais baixo, em modo normal e mais alto, em modo desportivo. O condutor muda o modo de condução e o som também muda.

Inventa passagens

Mas a Lexus gosta de olhar para tudo com grande detalhe e decidiu dar ao condutor a possibilidade de regular o volume da banda sonora artificial.

Devo dizer que, aplicada a carros com a transmissão de variação contínua da marca, o efeito final é bastante razoável, mas só se usado no volume máximo.

O sistema chega a ampliar, ou mesmo “inventar”, o efeito das passagens de caixa neste tipo de transmissão, reproduzindo o som de uma passagem num carro com caixa de dupla embraiagem quando o condutor usa as patilhas, apesar de o conta-rotações não se mexer.

Do mal… o menos

Todos sabemos que as “mudanças” numa caixa de variação contínua são um artificialismo, não passando de posições pré-determinadas na transmissão contínua para permitir usar patilhas e evitar aquela subida de regime do motor até ao infinito, de que muitos não gostam.

Mas o ASC da Lexus vai um pouco mais longe. A cada patilhada, emite um som de uma coisa que de fato nem sequer está a acontecer.

Pensando bem, talvez até seja melhor assim, pois mantém-se a transmissão a funcionar em modo de variação contínua, que é a maneira mais eficiente, dando ao condutor uma banda sonora que agrada de imediato ao ouvido.

Conclusão

Tudo isto seria uma razão mais do que suficiente para colocar o botão ASC numa zona mais visível e de fácil alcance no tablier. Mas parece existir aqui uma certa “vergonha” dos engenheiros japoneses em dar demasiada importância a este Active Sound Control, pois eles sabem que não tem nenhuma justificação técnica. Provavelmente, outros engenheiros de outros países fariam o oposto, mas a cultura dos homens da Lexus é assim.

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